O Campo Grande é de dar dó quando se passa por lá. Não que esteja sujo, abandonado, mal iluminado. Nada disso. Está tudo limpo, os peixinhos do lago estão gordinhos, os ninhos dos periquitos protegidos, as plantas ornamentais bem cuidadas – embora seu famoso bambuzal já tenha ido para as cucuias e tem até sanitário público, coisa rara nesta cidade onde se fala mal de quem mija na rua, mas não se oferece local para que não se mije nos becos, paredes e postes como cachorros. O Campo Grande é uma imensa área de lazer da cidade, com todo equipamento natural que Deus lhe deu e o homem aperfeiçoou.
O que ocorre é a falta prática do uso deste espaço privilegiado. Quem passa pelo Campo Grande num dia ou noite de sábado ou domingo, numa noite de sexta-feira qualquer, não encontra nada além do que a natureza permite apreciar.
A Prefeitura de Salvador e o Governo do Estado, falo dos seus organismos que cuidam de cultura, artesanato e correlatos, não entendem que o Campo Grande pode ser um aglutinador urbano, um espaço especial para a apreciação das artes, do comércio de arte e artesanato, de encontro, de lazer, de atração turística, vez que o que temos de atrativo para o turismo existe há séculos como o Centro Histórico ou a natureza nos deu, como o Porto da Barra ou a Ribeira, Itapuã (nem o Abaeté souberam salvar até hoje).
O Campo Grande carece de um projeto, de um edital para ocupação artística, de iniciativa para que seja transformado num espaço em que a população possa estar presente, tenha como alternativa aos sábados e domingos.
O baiano que viaja para Barcelona, Madri, Buenos Ayres, Rio de Janeiro, São Paulo, Paris e tantas outras paragens compara a sofre com o que vê. Na maioria das grandes cidades suas principais praças são ocupadas por artistas, por estruturas gastronômicas casuais, por manifestações que atraem e até geram lucro para quem participa e para a economia.
Pode-se ver que mesmo em épocas de campanha política não se fala num projeto específico para o Campo Grande – posso até dizer a mesma coisa com relação ao Terreiro de Jesus – a não ser melhorar o piso e a fiação. Está bom, está certo, mas não é suficiente.
Claro que a Fundação Gregório de Mattos tem feito um trabalho excepcional com a cultura de Salvador e nem sei se caberia à ela fazer projetos ou abrir editais de cultura voltada para o Campo Grande ou Terreiro de Jesus, coisa que a Secretaria de Cultura do Estado, desde o famigerado período cultural do governo Jacques Wagner com sua ótica distorcida de interiorização da cultura, se perdeu.
O que pode ser feito pelo Governo do Estado e pela Prefeitura Municipal, por exemplo: nas sextas à noite promover alguns s encontros ou festivais, atividade de teatro ou folclore.
Nos sábados e domingos o Campo Grande pode ser uma grande sala de arte, com exposição de artistas baianos de todas as esferas, amadores, profissionais ou no estilo “apareça se quiser”, com aulas de pintura, venda de quadros, pintar ao ar-livre, com artesanato, com aulas para crianças.
Por que não transformar o Campo Grande naquilo que é a Praça da República em São Paulo ou a Plaza Mayor em Madri. No Rio de Janeiro a Praça Saenz Peña tem feiras como a “Feira de Qualquer Coisa”, evento que reúne produtores de moda, arte e gastronomia da Zona Norte e Oeste.
Se der condições de segurança, estrutura e fizer eventos todo final de semana o Campo Grande vira point. A cidade e a Bahia ganham. A população idem. Já basta que a maioria dos museus não abre aos domingos e quem abre não abre pela manhã. Quer apostar que este lamento vai cair na cloaca?