Realizando temporadas do espetáculo “O Corrupto” desde 2016, Frank Menezes, que interpreta um professor de Corrupção Ativa, volta mais uma vez aos palcos baianos, nesta temporada aos sábados, às 20h, no Teatro Módulo, na Pituba, até 29 de setembro.
Ele concedeu entrevista ao Leiamais.ba onde reflete sobre este personagem criado por ele, e que mais do que nunca reflete as pessoas e o nossos próprio país.
Leiamais.ba - Você começou a encenar O Corrupto em 2016 e o país já estava sendo sacudido pelos escândalos que até hoje abalam todas as estruturas. Mas você já havia começado seu processo de criação antes, com os textos. O que o motivou?
Frank Menezes - Sempre me incomodou o fato de ver, diariamente, pequenas falhas no comportamento social disfarçadas de esperteza para se ter proveito pessoal. Percebi que estas “falhas” estavam (e estão) tendo proporções muito grandes... então resolvi falar no meu Teatro.
Pesquisando o quanto agimos dessa forma, notei que o cinismo é a alavanca e o combustível para esta conduta cada vez mais normalizada. E pensando no quanto é normal agirmos de forma cínica, veio a ideia de dar aulas de corrupção.
Lmba - Como se deu a concepção do texto e do personagem? E o trabalho com o diretor Marcelo Praddo?
FM - O processo foi um dos mais deliciosos da minha carreira; primeiro por me sentir livre, pois o texto é meu e não iria desagradar o autor (risos), caso quisesse mudar alguma coisa. E Marcelo Praddo é um diretor/ator que me conhece muito e sabe me dizer o que quero, quando não consigo me distanciar para perceber a melhor forma para expressar cenicamente o que escrevi.
Parecia fácil interpretar o que tinha escrito, mas não é meeesmo. A sensibilidade de Marcelinho, é de uma riqueza incrível. Ele consegue perceber o tempo necessário que tenho que dar entre algumas falas, para que o público entenda a piada, ou que entenda que também não é para rir. Se não fosse uma comédia, me emocionaria percebendo isso.
Outra coisa maravilhosa de Marcelinho, é ter transformado o texto, que seria uma “aula”, em teatro. Ele manteve o que é “didático”, e criou a magia que surge do ato cênico.
Lmba - Quem é este "ser" que dá aulas de corrupção?
FM - Um canalha sem escrúpulos. Aquele tipo vaidoso, que sabe que sempre terá êxito em suas enganações. Um craque do sofisma.
Lmba - A peça futuca não só os corruptos consagrados, mas fala das nossas pequenas corrupções diárias, porque você escolheu falar disso também?
FM - Sempre me incomodou o “jeitinho” de se tirar vantagens na vida, e estamos normalizando erros de uma forma tão corriqueira que talvez fique difícil para uma criança entender a diferença entre o certo e o errado.
Acredito que como ator (e numa comédia), eu posso falar da PERSONA que nós somos, e não enxergamos.
Lmba - Como o público reage aos "beliscões" que você dá?
FM - A reação é ótima. Sempre ouvimos alguém na plateia dizer: “é isso mesmo”. O público se diverte e mesmo que coloque a carapuça não se aborrece. Acredito que a identificação seja pertinente, e a carapuça cabe de forma agradável (risos).
Lmba - Com tanta coisa acontecendo todo dia na política nacional, como você faz para mantar o espetáculo atualizado?
FM - É um trabalho árduo, pois é difícil selecionar o que falar. Mas é divertido também, pois existem absurdos que são mordazes, e o que é mordaz é satírico.
Lmba - Que reflexão você faz sobre estar em cartaz com este espetáculo neste momento crucial do país, antes das nossas eleições 2018?
FM - Quando comecei a pensar em escrever “O Corrupto” não imaginei que estivéssemos nesse momento da história do nosso país, com todas as falcatruas vindo a público. Mas escrevi sabendo que desde que me conheço por gente, que tendemos a ter uma condução corrupta.
Depois da estreia, em 2016, diariamente me pergunto: o que será que o público sai pensando? Será que minha comédia faz alguém pensar que os políticos são o reflexo de nós mesmos? Talvez seja uma grande pretensão a minha...Então, paradoxalmente, me sinto um felizardo, por estar em cartaz neste momento.