Alberto Oliveira

Vivo leva Ivete Sangalo a erro na interpretação do Hino Nacional

Uma das patrocinadoras da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Rússia, a Vivo colocou no ar uma campanha (ideia da agência Africa, do premiado baiano Nizan Guanaes), em que palavras do Hino Nacional são explicadas.

A ideia é muito boa, mas quando a também baiana Ivete Sangalo explica o que quer dizer "plácidas" (tranquilas, calmas, serenas) é levada a interpretar a letra do hino de forma errada.

Veja o que diz Ivete (texto da Africa): "Quando a gente canta no hino 'as margens plácidas' significa que nas tranquilas margens do Rio Ipiranga foi possível ouvir o estrondoso grito de independência..."

Lembremos o que está no hino: "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o grito retumbante".

Quem ouviu? Ou: qual o sujeito da oração, aquele que praticou a ação (de ouvir)?

Muita gente acha que é indeterminado ("ouviram"). E quem escreveu o texto reproduzido por Ivete também acha que é isso ("...significa que foi possível ouvir...").

Não! Coloquemos o texto na ordem direta. Fica assim: "As margens plácidas do Ipiranga ouviram o grito retumbante de um povo heroico".

Foram as margens do Ipiranga que ouviram. Portanto, o sujeito da oração é o trecho "as margens plácidas do Ipiranga".

Para que a letra do hino significasse que foi possível ouvir o grito, como explica Ivete/Africa e, portanto, haver um sujeito indeterminado, é preciso uma crase: "Às margens plácidas". 

E essa crase não existe.

Uma curiosidade: o escritor baiano Ubaldo Ribeiro teve que identificar o sujeito da oração em seu concurso vestibular.

E deu corretamente a explicação acima. Foi com ele que eu aprendi.