Doris Pinheiro

Quem repassa o que recebe pelo celular pode passar por mentiroso

Foto: pxhere/Creative Commons

 “Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.
Digo o que penso, com esperança.
Penso no que faço, com fé.
Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.”

(E eu acredito nisso, inclusive e especialmente quando exerço minha função de jornalista)

Segundo o site O Pensador, o texto aí de cima (é um trecho dele) é erroneamente atribuído a Cora Coralina, mas sua autoria é desconhecida.

Mas acabei de ter contato com ele via o grupo de whatsApp Notícias, com jornalistas “gente grande” rsrsrsr.

Quem postou foi a nossa corajosa presidente do Sinjorba, Marjorie Moura.

A postagem veio para dar um bom dia depois de uma outra postagem em que um colega colocou um vídeo que recebeu de alguém, com supostamente o menino que ganhou as manchetes nacionais por ter sido barbaramente discriminado no Shopping da Bahia, pelo segurança que não queria permitir que ele comesse lá e todo o quebra-pau que houve com o rapaz que pagou a comida do menino, enfim, todo mundo viu e conhece a história.

Bom, nesse vídeo que circula hoje pelas redes sociais, feito através de um celular por um homem, que obviamente não bota a cara no sol, o menino (não sei se é ele mesmo e, sinceramente é muito difícil se conseguir apurar a veracidade), aparece num terreno baldio fumando algo.

Não se sabe se uma baga de cigarro ou se era droga.

Aparece com a mesma camisa do Vitória, parece com o menino do caso.

O colega postou o vídeo para mostrar ao grupo o que já estava circulando na rede vindo lá se sabe de onde, sem que se possa saber a veracidade dos fatos.

Uma banana!

Me incomoda muito o fato de que esse vídeo vai circular irresponsavelmente e com direito a muitos julgamentos para todos os lados pelas redes sociais, e talvez cair na imprensa, sem que se saiba se é o menino ou não, se ele estava usando droga ou não, e que milhares de conclusões serão tiradas a respeito disso.

E haverá um julgamento público cruel.

Me incomoda muito a legenda que vai circular com o vídeo e que diz :”olha aí o garoto que demitiu um pai de família no shopping. E agora imprensa imunda da Bahia?”

Já mandei uma banana espiritual para quem escreveu isso.

Eu e muitos dos meus colegas nunca fomos imundos e só quem sabe o que é ser jornalista aqui conhece as dores e delícias de lidar com os mais variados tipos de pressão e se manter decente, e cumprir seu papel e labutar para ser justo e honesto em meio à realidade de um país de capitalismo mais do que selvagem, canibal.

Existem maus profissionais no jornalismo?

Sim, óbvio e ululante, e o impacto do que eles fazem é tremendo.

Mas existem maus médicos, maus advogados, maus garis, maus professores, maus tudo...

E existem jornalistas muito decentes e eu tive e tenho o orgulho de dividir a labuta com eles.

Querem combater o mau jornalismo?

Não deem audiência para ele.

E esta pessoa que esculhamba a imprensa está fazendo, sem que se identifique, sem que possa ser responsabilizado, o serviço imundo de rodar nas selvagens redes sociais um vídeo em que o suposto menino aparece fumando algo.

Ele faz pior do que a imprensa que ele acusa.

Novo capítulo

E o efeito cascata deste episódio triste, sintoma de um país extremamente injusto, vai gerar mais um capítulo onde todo tipo de coisa vai ser dita, mas com menos vigor, porque, afinal, a notícia já rendeu o que tinha de render, inclusive para o público que a cada dia consome mais rapidamente a “desgraça alheia” como quem come pipoca.

Para que haja um fornecedor de notícias imundas é necessário que haja consumidores de notícias imundas.

E agora, com as facilidades da internet qualquer um pode se transformar num provedor de notícias, imundas ou não.

E mais, um difusor de notícias imundas ou não.

Então, chamando para a responsabilidade.

O segurança do shopping agiu errado.

Mas com certeza foi orientado de maneira a agir para não deixar pedintes e meninos de rua “incomodarem” os clientes.

Clientes que se sentem incomodados onde quer que vão nas ruas de Salvador, pelo assédio de pedintes e vivem numa sensação perpétua de medo de serem vítimas de assaltos e violência.

O shopping, um empreendimento privado e fechado, é talvez o lugar onde menos esta sensação seja sentida pelas pessoas e toma medidas para proteger o seu negócio, que sofre diariamente com a ação de marginais.

E o menino?

Pobre, negro, pelas ruas, é vítima desta porcaria de sociedade humana que criamos, deste país cruel, injusto, corrupto, racista, violento que neste momento vive uma crise imensa e que está sendo obrigado a se olhar no espelho.

Não são só os políticos que são corruptos no Brasil.

Em todos os níveis nossa sociedade opera com esquemas.

Não estou dizendo que todas as pessoas são corruptas, mas que há corrupção para tudo quanto é lado, sim, tem corrupção para tudo quanto é lado.

Então, dito isso, eu quero chamar a atenção para o prejuízo que as postagens irresponsáveis e as fakes news têm produzido em nossa sociedade.

O assunto tem sido discutido com frequência no mundo acadêmico e dentro da própria imprensa, e preocupa muito.

Impacto das fake news

Pesquisa realizada em janeiro deste ano pela Agência de Checagem Aos Fatos aqui no Brasil, sobre o consumo de notícias online, mostrou que me­tade dos entrevistados admitiu já ter tomado decisões baseadas em informações falsas.

Foram coletadas respostas de 805 pessoas, com idade entre 18 e mais de 65 anos.

A Agência de Checagem Aos Fatos se apresenta assim : “com bases no Rio de Janeiro e em São Paulo, Aos Fatos é mantido por uma equipe de profissionais multidisciplinares e multitarefas.

Também integra o veículo uma rede de freelancers que compartilha com o time oficial de Aos Fatos a mesma obsessão?—?buscar a verdade na política” e tem um grupo de jovens profissionais com cara de danados.

Gostei deles rsrsrsr.

Vá lá conhecer? 

Bom, realizada via internet, a pesquisa ajuda a en­tender a relação entre a forma de acessar notícias e o crescimento do número e do poder de fogo das fake news.

De acordo com os dados, um terço dos entrevistados nunca ou raramente questiona a veraci­dade de notícias nas redes sociais (imagine!)

Dê uma olhada nas conclusões mais significativas:

-- Sobre a origem de consumo de notícias online, 33,8% e 33,4% dos entrevistados responderam que fazem, respectivamente, diretamente em redes sociais ou aplicativos de mensagem e via pesquisa em mecanismos de busca

-- Entrevistados que se informam principalmente por veículos tradicionais afirmam ser mais críticos sobre a notícia consumida: 62% alegam checar a informação

-- Por outro lado, quando a principal fonte são agregadores de conteúdo (blog ou plataforma que agrega links de outros blogs), apenas 35% admitem fazer checagens próprias

-- Em redes sociais ou aplicativos de mensagem, o percentual é de 37%

-- Entrevistados que se informam principalmente por veículos alternativos são menos propensos a admitir que já tomaram decisões baseadas em notícias falsas: mais de 80% afirmam nunca ter caído em fake news

-- Quem se informa por links em redes sociais ou mecanismos de buscas diz o contrário: mais de 80% já tomou decisões baseadas em notícias inverídicas;

A ausência de fontes e outras referências é apontada por 42,5% dos respondentes como um dos principais sintomas de desinformação

-- 43% dos entrevistados disseram não confiar na maioria das vezes em notícias vindas de aplicativos de mensagem

-- 30% disseram confiar apenas quando conhecem quem compartilhou

-- 30% dos entrevistados disseram confiar nas notícias vindas diretamente de redes sociais ou aplicativos de mensagem, dependendo de quem enviou ou publicou a informação

-- Metade dos entrevistados admite já ter tomado decisões baseadas em informações falsas

-- A opção Desconfio na maioria das vezes aparece em segundo lugar com 24,1% das respostas

-- Busca por audiência e ganhos políticos ou financeiros são a principal motivação para a existência das notícias falsas, segundo os entrevistados.

E você, como tem se comportado diante desta realidade?

Se receber o vídeo do menino fumando sei lá o que vai fazer o que?

As eleições estão chegando, prato cheio para as fake news e que quero voltar a falar sobre isso.

Mas para desanuviar, até porque hoje eu acordei meio com a “macaca” (em parte razão da banana dada) é claro que no YouTube tem música sobre Fake News hahahahaha

Daniel Júnior, que eu não consegui saber de onde é, compôs uma música onde diz que o que é veiculado pela grande imprensa brasileira é só fake news.

E quande se trata de falar de fake News o presidente dos EUA, Donald Trump, ganha edições especiais...

O remix dos comediantes da WTF Brahn

E da Socialist Mop

Bom final de semana e combata as fake news!

A difusão de notícias “imundas” ou não depende muito de sua atitude individual.