Ainda não se sabe se os brasileiros vão pender para a direita, a esquerda ou o centro nas próximas eleições, mas uma coisa é certa: o eleitorado vai se deslocar para o norte e para o oeste.
Área com crescimento populacional mais acelerado nos últimos anos, o eixo formado pelas regiões Norte e Centro-Oeste deve superar pela primeira vez o Sul, em número de votos, na eleição deste ano, segundo projeção do Estadão Dados.
Se a virada no tabuleiro eleitoral não ocorrer já em 2018, é inevitável que aconteça pouco depois. A tendência de virada se deve a uma combinação de fatores: as partes de cima e da esquerda do mapa brasileiro têm maiores taxas de natalidade e recebem mais migrantes.
Já os Estados do Sul passam por um processo mais rápido de envelhecimento da população, o que se traduz em maior abstenção, já que o voto deixa de ser obrigatório para quem tem mais de 70 anos. Os idosos com mais de 65 anos são 10,3% da população sulista - entre os nortistas, a taxa cai pela metade, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
As variações paulatinas na composição da população brasileira também têm elevado o peso eleitoral do Nordeste e reduzido o do Sudeste, mas em velocidade mais baixa que nas demais regiões.
Até recentemente, as mudanças demográficas vinham beneficiando o PT. Nas duas décadas encerradas em 2014, o número de eleitores presentes (desconsiderada a abstenção) aumentou 51% em 15 Estados considerados redutos petistas, onde o partido venceu todas as últimas três disputas presidenciais. Já em sete redutos do PSDB, o aumento foi bem menor: 40%.
Se os porcentuais de votos obtidos em cada Estado por Dilma Rousseff no segundo turno de 2014 fossem calculados com a distribuição populacional de duas décadas antes, sua vitória sobre o tucano Aécio Neves teria sido mais apertada. A vantagem teria sido de 2,3 milhões de votos, em vez de 3,5 milhões.
Tendência
Em eleições passadas, candidatos a presidente do PT tiveram votação mais concentrada no Norte e no Nordeste, onde programas sociais beneficiam uma parcela mais abrangente da população, enquanto tucanos tiveram desempenho melhor no Sudeste, no Sul e no Centro-Oeste.
Não há como prever se essa tendência se manterá em 2018, dada a incerta participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de outubro e o fraco desempenho de outros nomes petistas nas pesquisas até o momento.
Os levantamentos tampouco projetam, por enquanto, uma polarização entre PT e PSDB na próxima disputa. Se essa divisão não ocorrer, será um quadro diferente do observado em todas as eleições dos últimos 24 anos.
Entre 1998 e 2014, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná tiveram crescimento médio de apenas 27% no comparecimento às urnas. No mesmo período, o número de votantes aumentou 66% na área abrangida pelo Norte e Centro-Oeste.
Em números absolutos, a vantagem do Sul sobre o Norte-Centro-Oeste caiu de 3,5 milhões de eleitores em 1998 para apenas 600 mil em 2014 - redução de 2,9 milhões. É como se, nesse período, três cidades do porte de Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis tivessem brotado no Cerrado ou na Amazônia.
Maior crescimento
Entre as duas regiões que mais crescem, é o Norte que se destaca mais. A região formada por Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins ultrapassou em 2009 o Centro-Oeste no ranking do eleitorado, e segue se distanciando.
Na lista de unidades da Federação que mais tiveram aumento de eleitorado em eleições nas duas últimas décadas, Estados da região Norte ocupam as cinco primeiras posições. No outro extremo, os três Estados do Sul estão entre os últimos seis colocados.