Jolivaldo Freitas

Escrevi por que quis

O autor é jornalista

Na chamada modernidade Ernest Hemingway e Charles bukowski. Na antiguidade São Jerônimo. No pós-moderno Charles Jencks. O que todos têm em comum? Fazer da crônica a essência do seu trabalho criativo, de interação com o mundo e usar esta como o melhor formato de mensagem do pensamento. A crônica do cotidiano tem sido relegada em todo mundo a um segundo plano desde os anos 1980, principalmente no Brasil. Este que é um estilo que foi dos mais populares no jornalismo e na literatura carece de renovação.

Por isso é que quando um autor se arvora a escrever crônicas, como é o caso de Marcelo Albert de Souza, que lançou no formato de e-book e você pode correr atrás no site da Amazon sua obra de título - na mais pura linha de um Ulrico Schmidl – “Deu vontade de escrever”, tem-se a pragmática impressão de que uma nova geração começa a se delinear em busca da revitalização deste gênero: a crônica.

Uma arte que se se diferencia dos outros gêneros por se expor na oralidade ou nos sinais já oriundos do período neolítico. Crônica é a exposição de eventos numa sequência temporal, onde os parcos personagens, geralmente reais, não-fictícios, oferecem a alma. E o anima é que move a obra de Marcelo Albert de Souza, que relata de memória causos interessantes do seu círculo de amigos, de fatos inerentes aos seu passado de carioca da gema e que abaianou e se deixou imiscuir e hipnotizar pelos olores do dendê e pelo jeito baiano de ser dos seus neo-amigos do Laissez-faire na pratica do tênis.

A obra já começa com uma excelente apresentação do psicólogo Marcello Santos, seu velho amigo que determina após classificá-la como crítica, doce, nostálgica e contemporânea e determina: “Apreciem esse registro do mais puro humor refinado”.  O autor se apresenta como alguém com mania de fotografar com a mente, reportar com os dedos e interpretar, pessoas, acontecimentos, “vivências ou meras invenções”. Ele diz não se levar a sério e se sente incomodado com quem se leva a sério, na mesma quimera utópica racional de um Max Weber. E isso revela-se em todo o seu escrito.

E de início a obra nos oferece uma excelente crônica – no formato dos contistas mineiros, mas não confunda a essência do conto com o da crônica, pois muitas das vezes elas se aninham e amálgama – “O malandro que não era esperto” em que a arrogância, ou seria cinismo?, é punida de forma surpreendente. E a obra nos oferece uma visão bairrista ou mesmo paroquial de um Rio de Janeiro acumulado num bairro tomado por jovens peraltas. Numa Salvador mimetizada num mero clube de tênis com personagens prontos e apreendidos por um escritor maduro e ainda peralta.

O autor tem um estilo próprio, às vezes numa falsa ingenuidade outras das vezes numa acidez rascante, mas o interessante é que cada história vivida nos seus textos, descreve aquilo que podia ser o dia a dia de qualquer elemento, o nosso cotidiano, nossas memórias falseadas ou verdadeiras, A descrição, um acontecimento, o apurado vinho no cálice do sarcasmo e do humor. Uma alegre elegia aos amigos. À vida. Bem como o faziam Machado de Assis, Carlos Heitor Cony, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino ou Paulo Mendes Campos.

A obra de Marcelo Albert de Souza traduz o “kronos” e seu contexto.