A discussão agora, a partir do momento em que o deputado Eduardo Cunha acatou o pedido de impichar a presidente Dilma, é saber se tem validade sua iniciativa, por se saber ser uma vendeta, fruto de uma negociata mal resolvida entre as duas partes. Dilma mandava sua base não apoiar as ações contra Cunha no Conselho de Ética e ele aprovaria CPMF e escamotearia os pedidos de impeachment. Deu errado. E fica a pergunta se a motivação tira o teor político, jurídicos e institucional da abertura do processo.
Claro que a oposição à Dilma não quer juntar sua imagem à de Eduardo Cunha, de tantos atos ilícitos e de uma cara de pau indizível. Mas pode dizer: era ele ou ninguém na hora certa no local certo, e para os políticos pouco importa a motivação uma vez que motivo tinha. Tem! Teria! E os fins justificam os meios, conforme dito claro e objetivo de Maquiavel. Encaixa-se certinho na questão atual brasileira, pois o que ele queria enfatizar é que governo e poderosos estão acima da ética e a moral é mero formalismo quando se trata de chegar à realização ou consecução de um objetivo. E nisso a mentira é parte do plano. Dilma mentiu? Mentiu. Será que Jacques Wagner, tão sério, está sendo levado a mentir? Eduardo Cunha mente? Mente que não se sente. Um Pinóquio com seu imenso nariz a varar as telas das TVs.
O problema todo é que todos sabemos que não se pode fazer acordo com o diabo. Ainda mais quando não se sabe quem é o verdadeiro diabo pois ele tem suas formas de mimetizar. E o que se viu foi o demo querendo ser mais espetro que seu alter ego. Dois demônios se confrontando. Bem diferente de “O Dragão da maldade contra o Santo Guerreiro”, lembrando Glauber Rocha, como foi Ulisses Guimarães contra Collor que foi impichado.
Recentemente li uma peça literária produzida pelo escritor Júlio César Anjos (Creative commons no blog efeitoorloff), em que ele fala do que é um contrato com o diabo. Um termo ajustado entre as partes com suas garantias, os prazos, os detalhes, tudo que esteja de acordo com o que considera regulamento superior, legal ou infralegais.
Ele observa que o acordo com o diabo é simples: A alma em troca de uma melhora na vida. “As arestas contratuais se aparam pela aceitação da negociação, bem como do cumprimento do fornecimento do serviço a prestar. Dentro dessa atividade, os órgãos reguladores são as divindades que se omitem ao acordo, pois não fazem parte de negociatas imorais. Vender a alma para o diabo é imoral, mas é legal, pelo aspecto sobrenatural”.
Prossegue explicando que a única exigência do diabo, além da alma, após o fim da vida do mortal é que o mortal escolha saúde, grana ou poder. E que a negociata com o Diabo é sempre capenga: “sempre carece de complemento, sempre falta algo, como um vazio que nada se preenche. Por isso que as pessoas que vendem a alma não são felizes por completo. Mas a sensação de estar acima dos demais faz com que a negociata com o Diabo seja atrativa, embora fraudulenta”.
Dentro da concepção de Dilma e Cunha, como dizia o humorista e filosófo Millôr Fernandes, “tudo é válido. Só não vale reclamar. Que venha então o impeachment.