Jolivaldo Freitas

N.S. da Vitória e a construtora pecadora

Jolivaldo Freitas

Foi um fogaréu danado depois da missa semana passada passado na comemoração do final das obras de reforma da Igreja de Nossa Senhora da Vitória. Os fogos foram mais bonitos, mais intensos, mais criativos e mais demorados que o do prefeito ACM Neto no réveillon do Farol da Barra, onde foram ofertados para os moradores dois pipocos, três traques de massa, um Zé Bebé, meia dúzia de rodinhas, quatro adrianinos, doze estalos Guri, três bombas de dez, duas de vinte, vinte de cinco e umas girândolas, cobrinhas, um busca-pé e foguetes, sendo que alguns deram chabu.

Na festa da Igreja da Vitória, não! Foi muito mais coisa, parecendo dia de aniversário do primeiro imperador chinês Chin Shi Huang-Di, pois todo mundo sabe que os chineses inventaram a pólvora e por conseguinte os fogos de artifícios, embora Marco Polo tenha roubado a ideia e as técnicas e levado para a Itália. Hoje quem domina a indústria de fogos de artifícios são os espanhóis. No Brasil uma ou duas empresas se dedicam ao troço que é bonito de se ver, como se viu no Corredor da Vitória.

A padroeira deve ter gostado muito, pois desde o século passado que não tinha direito a uma festa tão boa. Só faltaram as retretas e a Banda do Corpo de Bombeiros, mas aí seria querer demais. A festa até pareceu quando da inauguração da igreja logo no início da construção da fortaleza de Salvador, pelo mestre de obras Luis Dias sob a inspeção de Tomé de Souza. Os historiadores, com base em novas pesquisas garantem até que ao invés da Igreja da Ajuda (lembrando que a primeira construção religiosa na cidade foi a ermida em homenagem a Nossa Senhora da Conceição) a Igreja da Vitória foi a primeira que Salvador ganhou. Depois vieram as outras.

A queima de fogos, segundo me disseram na sacristia da igreja, sabendo-se que em todas as igrejas depois de uma missa grassa a maior fofoca e intriga aos pés da sacristia, foi patrocinada pela construtora MRM, que está levantando uma torre imensa, maior que a de Babel, por trás do templo. As más línguas garantem que foi a forma da construtora pedir perdão à cidade pelo mal maior que fez, ao destruir na calada da noite, a tombada Mansão Wildberg, um dos patrimônios arquitetônicos da cidade, para levantar sua mais lucrativa obra.

O Ministério Público e o Iphan determinaram a suspensão do início das obras, que não se sabe como ou talvez se saiba, foi aprovada pela Prefeitura Municipal, mas que foi embargada. Certo dia e certa hora no lusco-fusco os empreendedores conseguiram uma liminar. Foi então que numa noite de sábado para domingo dezenas de caçambas se postaram no Corredor da Vitória e quando o domingo anoiteceu já não havia a Mansão Wildberg. Fato consumado, morreu Maria Preá, foi para o espaço, lenhou, já era.

Em contrapartida a empresa ajustou fazer a reforma da Igreja da Vitória, criar um mirante que, com certeza, será bem utilizado pelos sacizeiros que dominam a área e fazer um trabalho de requalificação do Largo da Vitória, que será bem bom para quem comprar os apartamentos do prédio que custa milhões de dólares e cujo proprietário não vai querer passar sua Ferrari sobre fezes, buracos e lixo. Pior fez a santa que fingiu não ver tudo acontecer. Até Nossa Senhora da Vitória, quem diria! E os fantasmas dos Wilderbg que ainda acham que a demolição da casa foi um crise de lesa cidade e que a MRM sempre terá esta mancha associada ao seu nome, ainda não puderam dormir com o barulho dos fogos. Estão sem pouso. Bem que podem assombrar quando o edifício estiver pronto. Ou puxar os pés do dono da construtora e da sócia, a João Fortes. Mas temos de reconhecer que a agilidade na demolição foi coisa de primeiro mundo. Brasileiro quando quer se aproveitar é mais ágil que japonês. Pensar que já se vai quase um mês que uns operários trabalham para colocar uma grade no meu prédio. Só não vou chamar a MRM por medo.