Sou jornalista, publicitário e marqueteiro ou como se dizia: “marketing-man”. De um período (embora esteja atento, antenado e atualizado em minha profissão, apesar de ter migrado para o marketing político) em que o criativo adorava as datas históricas e comemorativas como a Lavagem do Bonfim por exemplo, para poder criar aquelas peças que o JOB, o Pedido de Criação, o briefing do dia a dia ou do cliente murrinha, insensível, burro e arrogante não permitia. E lembro muito bem de cada anúncio criado por grandes publicitários em homenagem aos santos Ibeji, ao 2 de julho, às Diretas Já, ao Fora Collor e até mesmo a volta de Caetano Veloso depois do exílio ou o Tsunami que devastou a Tailândia. Emocionantes. Belos. As agências procuravam ser a mais ágeis nestas oportunidades. E o Clube de Criação da Bahia (como será que está? Nunca mais ouvi falar) premiava e incentivava.
Hoje não vejo reação imediata das agências e foi por isso que fiquei emocionado ao ver que a Propeg relembrou seus melhores dias, o que significa que dias novos estão acontecendo e novos dias virão em termos de criação, agilidade e sensibilidade, a partir do momento em que instantes depois do atentado extremistas que ceifou a vida dos colegas lá do Charlie Hebdo - e revelou-se o mote que mostrava a força moral da França -, ela saiu com as camisetas em apoio aos franceses, em defesa da liberdade de expressão e à República, em protesto face à tragédia. A camisa criada pela Propeg em que um lápis se confronta com um fuzil traz a agora indefectível frase: “Je suis Charlie”.
Foi a Propeg que estou acostumado. Passei rápido por lá (antes de ir para a Publivendas/Morya, outra agência que tem mostrado agilidade criativa e da qual também me orgulho) e bebi da fonte de Zé Armando, Haroldo Cardoso, Artur de Negri e Rodrigo Sá Menezes dentre tantos outros. Criava-se na emoção e Fernando Barros voltava com as peças aprovadas. A iniciativa dos seus publicitários vem preencher um hiato em que o Brasil passou vergonha.
Foram raras as iniciativas de apoio aos franceses. A marcha de milhões parecia que estava acontecendo em outro planeta. Parece que estamos sedados, que acostumamos tanto com nossa miséria que a dos outros não nos interessa mais. Onde estava Dilma que lá não deu as caras? Cadê as manifestações pelo Brasil afora. Cadê Salvador? O que o mundo fazia enquanto enterramos nossas cabeças foi reagir ao terror que grassa em todas as partes. Acho que depois do Mensalão, do Petrolão, de Collor, de Lula, de Dilma e dos 7 a 1 dos alemães estamos perdendo nossa humanidade. O povo francês bem pode nos dizer: “Eu sou você amanhã”. Lembrando um velho slogan da vodcka Orloff.