Jolivaldo Freitas

Sujismundo, o retorno

O baiano é conhecido desde seus primórdios como Sujismundo. Quem é Sujismundo? Quem nasceu antes dos anos 70 sabe bem que ele era o personagem mais sujo do Brasil. Bem antes de Cascão, da história em quadrinhos de Maurício de Souza. Sujismundo é todo aquele que comete um atentado contra a civilização, numa cidade de qualquer tamanho ou perfil. Pode ser lá do sertão ou de Copacabana ou Florianópolis.

Pode ser você. Isso. Você mesmo que está lendo estas linhas traçadas. Diga a verdade seu Sujismundo, você lava as mãos quando vai ao banheiro? Nem quero falar das vezes que você jogou papel de bala no cantinho da rua sem ninguém ver ou fez uma bolinha com o extrato do banco e disfarçadamente jogou embaixo do carro. Sem querer apontar que você joga qualquer tipo de papel pela janela do carro e do buzu. Cospe no chão e coloca chiclete mascado embaixo da poltrona do cinema.

Ninguém pode questionar que a maioria absoluta dois baianos forma uma tropa de Sujismundo, seja em qualquer esfera intelectual, econômica ou social. Já vi no meu prédio arremessarem OB usado pela janela. Isso na Ladeira da Barra. Vinha voando que nem pombo sem asa, sangrando. Saco plástico e até ponta de cigarro. O baiano mija nas vias públicas, joga lixo em qualquer lugar, até mesmo nas portas de creches, hospitais e postos de saúde.

Se alguém passa depois das 19 horas na Baixa dos Sapateiros, Sete Portas e Carlos Gomes se vê engolfado por plásticos, papelões, restos de comida e cascas de frutas. Tem também os panfletos. Diga aí seu Sujismundo se você não pega panfletos que oferecem exames médicos mais baratos, empréstimo de dinheiro sem comprovação de renda ou papelote com endereço de Mãe Dilma - que traz de volta a mulher que te deu corno – em apenas 48 horas, e arremessa no chão sem nem ler?

A figura do Sujismundo foi criada durante o governo Médici, no ano de 1970, mesmo período do “Brasil Ame-o ou Deixe-o” e do “Milagre Brasileiro”. Era um filmete de desenho animado criado pelo publicitário paulistano Ruy Perotti, que ficou muito popular em todo o Brasil dentro da filosofia de que "Povo desenvolvido é povo limpo": assim era o slogan que estimulava a limpeza e a higiene em todos os lugares.

À época a cidade mais limpa do Brasil, conforme pesquisa, era Acari no Rio Grande do Norte. A segunda era Curitiba. Salvador estava numa posição que nem é bom que se diga para o soteropolitano civilizado não morrer de vergonha. Sim, existe soteropolitano educado apesar de não se ver muitos por aí, pois estão nas raias da extinção.

No Rio de Janeiro, mais de 300 pessoas já foram multadas por jogar lixo no chão após a instalação do programa Lixo Zero, na semana passada. Multa pesada de até R$ 3 mil. Salvador coleta todo santo dia três mil toneladas de lixo. Tem lixo nas lixeiras, nos containers, nas ruas, nos córregos, na esquina, nas encostas e nas feiras. Lixo não falta no Porto da Barra, na praia da Ribeira, Boca do Rio e Paripe. 

A iniciativa da Câmara dos Vereadores, caso venha a aprovar projeto de Marcell Moares, é das melhores coisas que já fizeram nossos edis, embora já exista má vontade por existir uma lei de 1966 que prevê multa para os Sujismundos nativos, embora nunca tenha sido executada. Que rasguem a lei e façam uma nova. Né assim o costume no Brasil por causas malévolas? Neste caso a causa é boa. Vamos identificar e multar os Sujismundos. Vamos apontar na rua.

Você já jogou um coco pela janela do carro na Avenida Paralela ou na Avenida Oceânica.

Fale a verdade Sujismundo...