Comportamento

Entenda a birra das crianças
(e aprenda a lidar com elas)

Entender suas causas e estratégias para lidar com ela é essencial para pais, educadores e cuidadores

Foto: Arquivo pessoal
A terapeuta Taísa Raphael: "Educar respeitosamente é uma decisão difícil"

A birra é um comportamento comum em crianças, especialmente entre 1 e 4 anos, período em que estão desenvolvendo habilidades emocionais e linguísticas..

Estudos como os realizados pela American Psychological Association (APA) e pela Universidade de Yale trazem contribuições valiosas para compreender esse comportamento. A seguir, explicamos os principais fatores que desencadeiam a birra e estratégias eficazes para lidar com ela, segundo especialistas.


O que leva as crianças a fazerem birra?

1

Desenvolvimento emocional limitado
Até os 4 anos, o córtex pré-frontal — responsável pelo controle emocional e pela tomada de decisões — ainda está em desenvolvimento. Isso dificulta que as crianças lidem com frustrações e expressem emoções de forma racional.

2

Comunicação insuficiente
Muitas crianças não conseguem verbalizar necessidades ou sentimentos, como fome, sono ou desconforto. A frustração de não serem compreendidas pode desencadear explosões emocionais.

3

Necessidade de autonomia
Entre os 2 e 3 anos, as crianças começam a desenvolver um senso de independência. Elas podem reagir com birra quando se sentem controladas ou limitadas em suas escolhas.

4

Excesso de estímulos
Ambientes barulhentos, rotinas desestruturadas ou excesso de atividades podem sobrecarregar emocionalmente as crianças, levando a comportamentos de birra.

5

Recompensas inconscientes
Se os pais cedem à birra para evitar conflitos, as crianças podem entender que esse comportamento é uma forma eficaz de conseguir o que querem.

Segundo a educadora parental Taisa Raphael, algumas crianças não querem ouvir nada no momento da raiva. "Mas mostrar-se presente e tranquilo é o único movimento possível para ajudá-la a retornar à calma. A raiva, como qualquer outra emoção, é legítima. Às vezes, vem como uma onda pequena e, às vezes, como um tsunami."

Quando se sentem frustradas, com raiva ou medo, a parte do cérebro responsável pelas atitudes instintivas se sobrepõe à razão e os pequenos só pensam em atacar, fugir ou bater, é instinto de sobrevivência, explica a terapeuta.


Estratégias para lidar com a birra

1

1. Mantenha a calma
De acordo com o Child Mind Institute, a reação dos adultos é crucial. Elevar a voz ou demonstrar frustração pode intensificar a birra. Em vez disso, manter um tom de voz tranquilo ajuda a desescalar o comportamento.

2

2. Valide os sentimentos da criança
Dizer algo como "Eu sei que você está bravo porque não pode brincar agora" ajuda a criança a se sentir compreendida e a identificar suas emoções.

3

3. Ofereça escolhas controladas
Para crianças que buscam autonomia, oferecer opções simples — como "Você prefere arrumar os brinquedos ou guardar os livros primeiro?" — pode evitar conflitos.

4

Evite gatilhos previsíveis
Identifique e minimize situações que frequentemente resultam em birras, como sair de casa sem descanso suficiente ou ir ao mercado com fome.

5

Ensine formas adequadas de expressar emoções
Promova jogos, desenhos ou histórias que ensinem as crianças a comunicar sentimentos. Segundo a pesquisa da Universidade de Yale (Center for Emotional Intelligence), crianças que aprendem a nomear emoções têm menos probabilidade de recorrer à birra.

6

Use o reforço positivo
Elogie comportamentos desejáveis, como a capacidade de esperar ou seguir instruções. Estudos mostram que reforços positivos são mais eficazes do que punições.

A grande resposta para a questão “Como ajudar as crianças a encontrarem o equilíbrio em momentos de raiva?” mora na regulação emocional dos pais e responsáveis, explica a educadora parental Taisa Raphael. "Adultos desregulados não conseguem inspirar a segurança que elas tanto precisam nos momentos desafiadores", diz. 

"Regular-se não é um movimento fácil e rápido. É um acertar e errar diário. É preciso persistência. É necessário acreditar que a calma precisa transbordar do adulto em momentos de repreensão para que a criança se sinta segura e saia do modo de sobrevivência. Talvez uma ordem de 'engole o choro', ou 'pare de bobeira' seja mais fácil e resolva instantaneamente o problema, mas a raiva fica guardada lá num cantinho e, em algum momento, volta a dar seus sinais." 


Quando procurar ajuda profissional?

Embora a birra seja comum na infância, comportamentos muito frequentes, intensos ou que persistem após os 5 anos podem indicar dificuldades emocionais ou de desenvolvimento. Nesses casos, buscar orientação de um psicólogo infantil pode ser necessário.