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"A luz deve contar a história do ambiente", diz Simone Micheli

Consagrado arquiteto italiano investe no poder intimista das luzes indiretas e pontuais para conseguir emoção em suas propostas

Foto: Reprodução
Formas semelhantes a bolhas invadiram o teto de um dos ambientes do \'Spa Atômico\', em Milão, assinado pelo arquiteto Simone Micheli

É impossível imaginar um projeto assinado pelo italiano Simone Micheli sem formas fluidas, tonalidades brancas e muita ousadia na iluminação. O jeito tranquilo e a voz acolhedora logo entregam a personalidade do arquiteto cujo ideal é transmitir simplicidade, calma e liberdade.

Quando o assunto é luz, a presença (ou a falta) de raios intensos pode transformar o visual do ambiente e Micheli aproveita a intimidade das luzes indiretas como trunfo em seu trabalho.

“A luz é um grande recurso e acredito que deva ser trabalhada como algo sólido. De nada adianta usar várias possibilidades sem um objetivo concreto. A iluminação precisar contar uma história e, para isso, o melhor é ter foco”, diz ele, que está no Brasil a convite da Walpaper para participar do 8º Congresso Nacional de Design de Interiores.

A iluminação de um ambiente orienta o olhar e ainda confere movimento. Tais efeitos podem ser potencializados com o uso de cores. Micheli abusa de tal efeito e, para transmitir sensações, recorre a diferentes tonalidades para destacar elementos de grande importância.

“Quando você envolve um espelho com uma fita LED já traz um diferencial. Escolher os lugares certos para cada luz é algo muito importante e gosto de ser responsável por esta parte”, afirma. O branco também marca presença nos projetos do italiano, principalmente nos móveis e nas paredes, realçando sensações, como a de tranquilidade e conforto.

Outro destaque do arquiteto é a preocupação em desenvolver espaços que cheguem aos usuários como verdadeiras experiências. Um exemplo disso é o “Atomic Spa”, parte do hotel Boscolo Exedra, em Milão, que conta em seu design com formas irregulares e inusitadas como bolhas.

“Se você permanece em um hotel e vai embora sem ter nenhuma lembrança, o projeto não lhe causou efeito. Só guardamos na memória o que realmente nos impressiona”, diz. Micheli ressalta ainda a necessidade de entender o perfil do usuário antes de começar qualquer criação.

“Busco sempre entender as necessidades de quem vai morar no espaço. Investigo tais desejos e procuro fugir de padrões e arquiteturas homogêneas. As ideias surgem naturalmente. Muitas vezes sonho e a história acontece”, afirma.

A fluidez no design é mais uma característica que chama atenção no trabalho de Simone Micheli. Paredes de concreto ganham sensação de movimento e o equilíbrio ergonômico está sempre presente.

Tamanha versatilidade sofre influência também de um olhar preocupado com a sustentabilidade . Ele busca trabalhar com poucos materiais (plástico, gesso e pedra são recorrentes), empregando apenas o essencial.

“Gosto da ideia de fazer trabalhos a partir de um baixo custo. É possível conseguir emoção e usar somente um material, o importante é pensar 'fora da caixa'”, diz.

O arquiteto de 49 anos é internacionalmente reconhecido e hoje desenvolve empreendimentos – residenciais, hoteleiros e comerciais – na Turquia, Índia e China.