DESATIVADO / Entrevistas / Política

Imbassahy acha que pressões podem levar Dilma a desistir de uma reeleição

Em entrevista exclusiva a Tribuna, o deputado federal Antônio Imbassahy (PSDB) criticou duramente as ações da presidente Dilma Rousseff diante das manifestações que acontecem no Brasil, além de mostrar totalmente contrário a alguns pontos da reforma política, como o financiamento público de campanha.

Além disso, o tucano afirmou que há rumores no Congresso Nacional de que Dilma pode não ser candidata a reeleição presidencial e reforça o nome de Aécio Neves como grande aposta. Mais além, disse concordar que os políticos só estão agindo devido à pressão popular e questiona o “Pacto” anunciado pelo Planalto Nacional. “Pacto de quê? Que tipo de pacto é esse? Ninguém consegue entender”.

Com nome citado como pré-candidato ao governo da Bahia, Imbassahy defendeu a unificação da oposição e disse que o secretário Rui Costa já é o candidato “escolhido” do governador Jaques Wagner, porém não titubeia ao dizer que: “Nós (a oposição) vamos ganhar as eleições de 2014 na Bahia”.

 

TRIBUNA DA BAHIA: Como está vendo a onda de manifestações que acontece em todo país?
Antonio Imbassahy:
Olha, eu vejo com satisfação porque, pela primeira vez, da maneira eloquente a população diz com clareza a sua insatisfação e acho que essa insatisfação ela decorre de dois fatores principais: o mal funcionamento do Estado brasileiro, o Estado como um todo, e também a exaustão do sistema político nacional. Isso acabou repercutindo diretamente na funcionalidade das cidades, do ponto de vista do sistema de saúde, segurança, do transporte público, do trânsito. Tudo que está acontecendo aí decorre dessas coisas. O Estado não está funcionando bem e o sistema político também está sendo contestado no que diz respeito à representação.

TRIBUNA: Como vê as críticas de que os políticos só estão agindo devido à pressão popular?
Imbassahy:
São críticas procedentes. Acho até que a presidente Dilma não reagiu da maneira que era esperada pela população. Não adianta você tomar como base a propaganda e o marketing, principalmente numa hora tão grave da vida nacional. Nós estamos vivendo um momento histórico. O Brasil já mudou a partir dessas manifestações, disso eu não tenho dúvida, no que diz respeito à conduta dos manifestantes e da sociedade de uma maneira geral. Não pense que é só uma questão de natureza dos representantes políticos, mas também dos governantes do executivo, federal, estadual e municipal e também da sociedade de uma forma geral. Portanto, quando o governo federal age dessa maneira, anunciando pacto é uma ação muito mais de natureza de marketing e propaganda do que efetiva. Agora a presidente anuncia um pacto, pacto de quê? Que tipo de pacto é esse? Ninguém consegue entender. Os problemas são de natureza real. Essa coisa de fazer uma assembleia constituinte exclusiva, que cheirava a um golpe do estado democrático brasileiro, que a presidente recuou, porque ouve uma reação forte das organizações e discussões brasileiras. Agora fala-se de um plebiscito, que eu também acho problemático, talvez fosse melhor um referendo, mas de qualquer maneira, o que eu quero dizer é que houve uma reação muito desfavorável, que não está compatível com o que está nas ruas. O governo da presidente Dilma tem que sair dessa questão da propaganda e marketing e enfrentar os problemas com eficiência e bom uso do dinheiro público.

TRIBUNA: O repúdio aos partidos representa algum risco? O povo não se sente representado. O que fazer para mudar esse quadro?
Imbassahy
: É melhorar o desempenho dos representantes no Congresso Nacional, nas Assembleias, nas Câmaras de Vereadores e também nos órgãos dos Executivos. Essa crise da representação é compatível, pois há um descolamento entre a realidade das ruas, no Brasil, e o que acontece no Congresso e também a ação dos Executivos. Então acho muito importante a sinalização, é claro que o melhor regime que tem com todos os defeitos é o democrático. Não podemos fugir do democrático e melhorar a qualidade da representação. O fato é que o hoje o eleitor, a população não tem identidade com os seus representantes. Essa coisa se perdeu ao longo dos seus últimos anos. É preciso que a gente volte a estar conectado com as causas populares. Eu acho que esse movimento é muito bom para o Brasil. É como se fosse, um “sacode a poeira” e a gente vai ver como as coisas vai se encaixar. O Congresso Nacional, até o momento, está respondendo bem.

TRIBUNA: As manifestações vão impactar na eleição de 2014? De que forma?
Imbassahy:
É difícil dizer nesse momento. A fotografia atual é que já impactou. Com muita clareza podemos ver a satisfação da população com o que está acontecendo. Agora daqui até lá (2014) é preciso que tanto o executivo, quanto o legislativo e também o judiciário, tenham uma atitude mais afinada com esses anseios. Isso não é nenhum tipo de falta de interesse, pelo contrário, há um grande interesse da população para que as coisas se encaixem. Agora cabe a nós todos, de maneira geral, que tem responsabilidade com o país entender e se ajustar, especialmente na atitude e na conduta de cada um.

TRIBUNA: Como líder da oposição no Congresso, como vê as últimas ações da presidente Dilma, em tentar dialogar com a sociedade?
Imbassahy:
São medidas que foram da iniciativa de marqueteiros. É impensável, que num momento como esse, a presidente Dilma vá se reunir com o ex-presidente Lula, tudo bem, mas levar como conselheiro principal o marqueteiro João Santana é impensável, é uma falta de respeito com a população. Esse assunto não é de interesse de marqueteiro e nem de propaganda. É de interesse da economia, da atividade e do bem-estar da população. No momento ela cometeu um grave equívoco. Ela está dando muito mais importância a uma reação que atenda a uma política de marketing e propaganda do que a que atenda aos interesses nacionais.

TRIBUNA: Acredita que até lá teremos uma reforma política? Qual o modelo ideal?
Imbassahy:
Acho que isso pode acontecer e deve acontecer. Sobre o modelo ideal, cada um pode ter um pensamento. Eu sou francamente contrário ao financiamento público de campanha. Eu acho um absurdo, nesse momento, se imaginar tirar dinheiro do contribuinte. O contribuinte brasileiro paga tanto tributo e não vê esses tributos voltarem em forma de serviços públicos, quer dizer, pegar esse dinheiro do contribuinte e financiar campanhas de deputadas, campanhas de candidatos. Isso não tem nada a ver com a população. O dinheiro do contribuinte deve ser direcionado para segurança, educação, saúde, meio ambiente e obras de infraestrutura. Pegar mais recursos da população para financiar campanhas é um equívoco enorme por mais justificativa que apareça do ponto de vista de conflito de base, eu rejeito essa preliminar.

TRIBUNA: Aécio Neves conseguirá construir um projeto de governo e chegar fortalecido na eleição?
Imbassahy:
Eu acho que ele tem tudo para se transformar primeiro, num candidato a presidente do PSDB. Acho que não é o momento de colocá-lo como candidato, a legislação nem sequer permitiria isso, mas como ele está caminhando para ser o nosso candidato a presidente, terá todas as possibilidades para se eleger. Observe que há algum tempo atrás a presidente Dilma era considerada imbatível e seria facilmente reeleita, depois se começou a ver o segundo turno, agora, no Congresso Nacional, está se falando que a Dilma nem será candidata. Inclusive, dentro do próprio PT a rejeição da presidente Dilma é muito grande. Na última reunião, que a bancada do PT fez, dizem no Congresso, é que 90% da bancada que estava lá só fazia críticas ao modo como a presidente Dilma está conduzindo o país. Então o Aécio Neves, que está se colocando como alternativa para mudar os rumos do país, tem que ser o candidato da oposição. O Aécio Neves tem todas as condições porque foi um grande presidente da Câmara, foi duas vezes governador de Minas Gerias, considerado um dos melhores governadores da história do estado, um senador da república com excelente performance e que tem um conjunto de valores na biografia dele, que vai permitir se apresentar como um candidato confiável e com projeto de novos rumos para o país, que é um projeto muito bom, inclusive eu estou participando de tudo isso.

TRIBUNA: Eduardo Campo e Marina saem candidatos? Ajudam ou atrapalham os planos do PSDB?
Imbassahy:
Eu não sei se serão candidatos. Nesse momento todos os dois estão se colocando como pré-candidatos. Eduardo Campos que é também um político jovem, com visão moderna, fez e faz um excelente governo em Pernambuco, pois as coisas boas que poderiam vir para a Bahia estão indo para Pernambuco porque lá tem governante mais efetivo do que o nosso governador. A Marina Silva já introduziu na eleição passada uma pauta interessantíssima sobre o desenvolvimento sustentável. Então a presença deles hoje, no debate nacional e na disputa da presidência da república, só vai enriquecer, porque são duas pessoas de conteúdo, são dois quadros fantásticos que vão, inclusive, colocar no campo da oposição candidatos de boa qualidade, junto com Aécio Neves. Os três contra esse status cor, essa situação que estamos vivendo há 10 anos, que teve algum avanço, mas agora dá sinais claros de exaustão, esgotamento e até de irritação da população pelas práticas abusivas, que o governo do PT está realizando.

TRIBUNA: O cenário da Bahia pode ser influenciado pela sucessão nacional?
Imbassahy:
Ela (a Bahia) sempre foi, historicamente, influenciada pelas eleições presidenciais. O que acontece aqui para governos estaduais, está muito ligado à campanha presidencial. Por isso que a gente está assim, muito animado. Até porque os três candidatos da oposição são de qualidade e que vai influenciar muito na Bahia. Aqui nós já temos uma dificuldade própria de um governo desmotivado, como é o do governador Jaques Wagner, então, se a gente tiver, além disso, a força nacional, num candidato como Aécio Neves, evidentemente, que os resultantes aqui na Bahia são bem promissores para a oposição.

TRIBUNA: Acredita em racha na base de Wagner, já que o PT insiste em ter candidato?
Imbassahy:
Acho que analisando, até porque é uma questão de natureza interna do PT, o governador já decidiu e colocou o candidato de preferência dele, que é o secretário da Casa Civil, Rui Costa. Aliás, a precipitação desse debate, de uma certa forma, trouxe até um constrangimento para o vice-governador Otto Alencar. Não havia sentido algum antecipar esse debate. Ele foi antecipado para dizer o vice-governador Otto Alencar: Olha você não vai ser, quem vai ser é do PT. A respeito de Otto Alencar reunir qualidades como administrador público, como político, tudo que a gente reconhece. Agora, sem dúvida alguma que se Eduardo Campos vier a ser candidato, nós poderemos ter a candidatura da senadora Lídice da Mata. Então tudo isso pode significar alguma divisão dentro da base governista, que já dá sinais de insatisfação. O PT trata muito bem os seus, mas os parceiros e companheiros de outros partidos não. O pessoal está muito insatisfeito e aborrecido.

TRIBUNA: Seu nome já foi cogitado. Há alguma possibilidade ou não quer trocar o mandato certo pelo duvidoso?
Imbassahy:
Primeiro acho que dentro dos partidos que estão na oposição, como DEM, PMDB e outros, estamos mantendo, inicialmente, a unidade da oposição e o que importa é isso. Nós tivemos um bom resultado nas eleições municipais agora. Vencemos em Salvador, vencemos em Feira de Santana e outros municípios importantes da Bahia. Mas o fato é que vencemos em Salvador e Feira também pela qualidade dos candidatos. Essa unidade da oposição já permitiu o ambiente e clima favorável a nossa vitória e a gente mantendo, como estamos mantendo essa boa relação com o DEM, PMDB e outros partidos, a gente cria uma base e passa para a população mais confiança da vitória em 2014. Nós vamos ganhar as eleições de 2014 na Bahia.

TRIBUNA: ACM Neto não será candidato. Geddel vai conseguir unificar a oposição?
Imbassahy:
Primeiro, que eu não vejo disputa. Eu tenho me reunido com amigos do meu partido, com o DEM, recentemente tive uma longa conversa com o ACM Neto e agora ex-governador Paulo Souto, ao lado de Geddel Vieira Lima que é um provável candidato da chapa majoritária, disputando o governo da Bahia. Posso dizer que não há nenhum espírito de disputa, com maior convicção e tranquilidade. Na medida que a gente mantiver essa posição de desprendimento e pensando na Bahia para modificar os rumos que estamos vivendo hoje, acho que vamos encontrar um bom candidato e vamos ver no que vai acontecer. Agora não é o momento de “fulanizar” e sim de manter a unidade das oposições, as conversações e traçar novos programas, como a gente já está começando. A Bahia precisa dizer que está cansada do PT que é o governo da mesmice, sem motivação, sem iniciativa e sem criatividade. A Bahia perde posição na economia nacional, regional. A Bahia perdeu prestígio político e ninguém está satisfeito com a questão da segurança pública. É só propaganda e a saúde se deteriorando. Nada está acontecendo de bom. As pesquisas que a gente tem visto já mostram com clareza a insatisfação presente contra o governo do PT.

TRIBUNA: E quanto a Copa de 2014. É possível acontecer ainda os legados prometidos, sobretudo, na área da mobilidade ou os governos perderam o time?
Imbassahy:
São sete anos que se passaram desde o momento que a Copa do Mundo foi decidida a ser realizada no Brasil. De lá pra cá o que foi feito? Só os estádios e mais nada. E ainda assim, com os custos sendo questionados pelos brasileiros. Então não tem nada de efetivo. Uma cidade quando vai receber um evento como a Copa do Mundo, evento internacional, ela abre uma oportunidade enorme para atrair investimentos, que possa transformar a cidade no ponto de vista urbano, transporte público e hospitais como outras cidades no mundo fizeram. Aqui no Brasil a resposta quem está dando é o próprio Jérôme Valcke, que é o secretário da Fifa, que disse, recentemente, que o único legado que vai ficar para os brasileiros sobre a Copa é a Arena e a Fifa não é responsável por isso e sim o governo federal e os governos estaduais que não souberam aproveitar essa grande oportunidade e atrair investimentos para a cidade. É essa a gastança que aconteceu nos estados e a população ficou tão aborrecida que foi às ruas protestar.

TRIBUNA: Como avalia os seis meses do governo ACM Neto? Tímido ainda?
Imbassahy:
Avalio muito bem. Acho que ele está fazendo a lição de casa direitinho. Primeiramente, depois de eleito, ele tratou de fazer uma revisão da estrutura administrativa, organização. Segundo, ele escolheu uma boa equipe, gente de qualidade, de capacidade e êxito comprovado na administração pública. Terceiro momento, ele está fazendo bons projetos e já está captando recursos. Agora é claro que ele teve uma herança que foi um horror. O antigo prefeito que deixou a prefeitura de Salvador foi rejeitado pelo Tribunal de Contas e saiu praticamente pelas portas do fundo do Palácio Tomé de Souza, então ele herdou uma situação caótica. Todo governante tem uma carência de alguns meses, mas acho no caso de ACM Neto tem que ser um pouco maior em função da situação que ele encontrou. Não só a administração da prefeitura como também a cidade, que estava destroçada. Vamos dar tempo ao tempo, mas ele está indo bem.

Colaboraram Daniela Pereira e Fernanda Chagas.