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Benito Gama rejeita apoio automático do PTB a Dilma Rousseff em 2014

Substituto do delator do mensalão Roberto Jeferson na presidência nacional do PTB, o baiano Benito Gama diz que o partido integra hoje a base do governo federal, com a indicação dele para a vice-presidência do Banco do Brasil, mas que isso não garante apoio automático à reeleição da presidente Dilma Rousseff, em 2014.

Para isso, Benito diz que dependerá de gestos do Planalto e da abertura de espaços na máquina federal. Os petebistas esperam a indicação de um ministério. “O PTB precisa de espaço para expor suas ideias, precisa de um ministério. Esse é o grande pleito que as bancadas têm hoje junto ao governo federal”.

O dirigente pedetista diz ainda que já foi procurado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que é candidatíssimo, e pelo tucano Aécio Neves. Estão em compasso de espera, antes de anunciar o entendimento sobre a sucessão presidencial. Na Bahia, o PTB selou a aliança com o governador Jaques Wagner, que foi, inclusive, o elo de ligação com a presidente da República.

Nessa entrevista à Tribuna, Benito Gama conta sobre o período que ficou longe dos holofotes e diz que o governador Wagner será o condutor da própria reeleição. Ele aproveita ainda para disparar a metralhadora contra o PT: “Eu convivo com o PT desde quando eles estavam na oposição e agora no governo. Na campanha, o PT bate boca com os adversários. No governo, bate boca com os aliados”, disse, fazendo referência ao comando nacional da sigla.

E finaliza: “Espero que esteja todo mundo unido, pois quando o PT uniu, venceu duas vezes, mas quando dividiu, perdeu”.

 

Tribuna da Bahia: Por onde andava Benito Gama antes de voltar à cena política com a presidência do partido e agora com a vice-presidência do Banco do Brasil?
Benito Gama
- Depois de 2003, eu fui vice-presidente nacional do PTB e, na Bahia, vice-presidente de Jonival Lucas, que presidia o partido. Ajudei a organizar o partido em todo o estado e fiquei à frente da Fundação Getúlio Vargas nos últimos oito anos, que é o braço politico do PTB com abrangência nacional. Fui ainda secretário de Estado no Rio Grande do Norte por dois anos. Como fiquei como oposição por muito tempo na Bahia, eu acabei ficando fora dos espaços políticos no estado.

 

Tribuna - O que fez o PTB voltar atrás em relação ao apoio da presidente Dilma?
Benito
– O partido não alterou com a presidente Dilma. O partido vota com a presidente na Câmara e Senado. Mas o problema todo é que o presidente licenciado Roberto Jeferson tinha uma diferença política com o ex-ministro José Dirceu, que era um dos lideres do governo federal. Então, existia essa dificuldade pessoal de reaproximação. Institucionalmente, o partido sempre apoiou, tanto o ex-presidente Lula como a presidente Dilma, seja na Câmara Federal ou no Senado. Para você ter uma ideia, o PTB ficou um tempo afastado quando apoiou o José Serra, mas, agora, com o afastamento do Roberto (Jeferson) por motivos de doença e após o julgamento do mensalão, acabamos por retomar o diálogo com o governo federal e a própria presidente Dilma. Agora, desde que eu assumi o comando nacional do partido, comecei a estabelecer o diálogo entre a presidente da República e as bancadas do PTB no Congresso Nacional, retomando o convívio politico com a base governista.

 

Tribuna - Sua nomeação no Banco do Brasil veio logo depois dessa recomposição com o Planalto. Quais os espaços que foram negociados pelo PTB com o governo para ficarem na base governista?
Benito
- O partido retoma a aliança com o governo federal. Como temos 20 deputados federais e três senadores, precisamos manter a isonomia como os outros partidos. O PTB precisa de espaço para expor suas ideias, precisa de um ministério. Esse é o grande pleito que as bancadas têm hoje junto ao governo federal. Desde o governo passado, com a saída do então ministro Walfrido dos Mares Guia, que estamos sem representação nos ministérios. E é isso que defendemos junto à presidente Dilma. Então, a bancada do PTB está buscando e aguardando por isso. Como não há espaço no Ministério disponível hoje, a própria presidente me convidou para ser vice-presidente do Banco do Brasil. Mas isso não implica em apoio automático em 2014 e ela está atenta a essa questão.

 

Tribuna - Foi cogitado o apoio do PTB a uma eventual candidatura de Eduardo Campos, do PSB?
Benito
- Eu fui procurado por Eduardo Campos pessoalmente duas vezes, no Rio de Janeiro. Conversamos sobre articulação política e ele afirmou taxativamente que era candidato a presidente em 2014, me apresentando, inclusive, seu plano de trabalho. Fomos procurados também pelo senador Aécio Neves, de Minas, que falou sobre o projeto politico do PSDB, de retomar a Presidência da República. Só não fomos procurados ainda pela Marina Silva. Mas, como a bancada que apoia Dilma no Congresso decidiu, optamos por priorizar o diálogo com o governo federal, do PT.

 

Tribuna – Então a participação no governo hoje vai se repetir automaticamente em 2014?
Benito
- Não necessariamente, porque o apoio do PTB hoje diz respeito ao projeto de governo em curso. Mas, em 2014 há uma tendência e uma convergência que esse apoio se concretize. Tudo vai depender da demonstração de reciprocidade do governo Dilma ao partido no Congresso.

 

Tribuna - Na Bahia, o PTB apoia de forma automática o governo Jaques Wagner?
Benito - Na Bahia é o seguinte: o PTB apoiou o governador Jaques Wagner na primeira campanha dele, em 2006. Mas depois o PTB não participou do governo como partido aliado, não teve espaço, não se sentiu representado. Então, se resumiu a um único cargo, que não representa o partido, não possui representação nas suas bases no estado. Depois apoiamos Geddel (Vieira Lima) do PMDB, em 2010. Agora, fomos procurados, eu e o presidente Jonival Lucas, para darmos sustentação ao governo e em 2014, tanto que já acordamos apoio à eleição para deputado federal e estadual no próximo ano.

 

Tribuna - Você acredita que o PT vai ter a primazia, como eles falam, para indicar o candidato na sucessão do governador Jaques Wagner?
Benito
– Olha, o governador é o coordenador natural do processo. O Partido dos Trabalhadores tem quatro candidatos apresentados. O PSD, por sua vez, não apresenta um nome, mas suas bases falam do vice Otto Alencar. Agora, o natural mesmo é que a candidatura seja do PT e o nosso apoio, evidentemente, é ao governador e ao projeto político que o governador leva na Bahia. Agora, isso é diferente de um entendimento na esfera federal. Na Bahia já está resolvido, enquanto no âmbito nacional, não. Estamos aguardando espaços e gestos da presidente Dilma.

 

Tribuna - Como observa a demonstração das insatisfações dos aliados, sobretudo, com a ânsia do PT? Muitos falam que os petistas não abrem espaço para os próprios aliados. Acredita que possam eclodir duas candidaturas na base do governador?
Benito
– Olha, eu convivo com o PT desde quando eles estavam na oposição e agora no governo. Na campanha, o PT bate boca com os adversários. No governo, bate boca com os aliados. Essa é uma observação que eu faço. Na Bahia acontece um pouco diferente disso. Na Bahia, o governador Wagner é um grande líder, divide os espaços com o PP, PR, PDT... Mas é fato que a lógica do PT é ter o espaço dele, absoluto, o que não é bom para a política. Mas a coordenação é do governador, que contempla os aliados numa base forte de coalizão. Agora nós ficamos muito confortáveis de apoiar o governador Jaques Wagner.

 

Tribuna - O indicativo é que o candidato do governador seja Rui Costa. O senhor acredita que ele tem condições de unificar a base?
Benito
- Eu penso que a candidatura majoritária não pertence exclusivamente a ninguém. Nem mesmo ao próprio governo. A campanha no estado é de coordenação geral da base, e quem coordenar melhor ganha. Mas eu não tenho clareza ainda sobre esse processo. Evidentemente que eu não posso avaliar se Rui Costa, Luiz Caetano, ou o José Sérgio Gabrielli ou o senador Walter Pinheiro seriam o melhor para construir a convergência. Espero que esteja todo mundo unido, pois quando o PT uniu, venceu duas vezes, mas quando dividiu, perdeu.

 

Tribuna - Como você vê a bancada de oposição aqui no Estado. Diante das poucas opções de nome, Geddel vai ser um candidato difícil de ser abatido, caso seja ele o representante da oposição?
Benito
- Geddel é um politico experiente, trabalhador e muito habilidoso. Na campanha passada houve um duplo palanque, o que dificultou e muito para ele e para quem estava na sua base. Tem ainda o prefeito ACM Neto, recém-empossado. Mas eu acho que está muito cedo para ele deixar o mandato para o qual foi eleito. Tem ainda a senadora Lídice da Mata, do PSB. Com a candidatura do Eduardo Campos nacionalmente, o partido será obrigado a ter um candidato competitivo na Bahia e pode até repercutir numa aliança com Geddel, ou não.

 

Tribuna - Como avalia a reta final do governo Wagner?
Benito
– Olha, o Executivo estadual teve realmente um problema de interlocução com o empresariado no começo da gestão, mas com o governo, não com o governador Jaques Wagner. Depois mudou o secretário e começou a mudar essa parte de interlocução com os setores da economia. Sabemos que no aspecto econômico, Pernambuco avançou mais que a Bahia, devido aos investimentos no seu polo petroquímico e no Porto de Suape. Mas isso foi um problema do Brasil, não só da Bahia, pois o ex-presidente Lula resolveu investir mais em Pernambuco do que por aqui. Agora, outro problema que destaco é na área do planejamento. Foram quatro secretários com pensamentos diferentes. Não é uma crítica, mas uma observação. Tantos secretários na área de planejamento pode ter freado um pouco o governo, por terem visões distintas. No mais, acredito que o governo da Bahia está sendo tocado de forma positiva. Na área fiscal está bem, na segurança pública existem alguns problemas, mas a policia está organizada. No geral, acho que o governo é bom.

 

Tribuna - Com relação ao governo ACM Neto, como vê esse começo e qual a expectativa?
Benito
– Realmente está no começo do governo, mas avalio de forma positiva. Conheço o prefeito ACM Neto. Tem características positivas, é uma pessoa obstinada, trabalhador, cooperativo, tem tudo pra dar certo, Mas, infelizmente, há variáveis externas que independem da vontade do gestor. Mas eu confio que vai ser um bom prefeito para a cidade de Salvador.

 

Tribuna - O PTB como vai se comportar com o governo dele?
Benito
- No âmbito municipal, o prefeito ACM Neto convidou o PTB para indicar o vice-prefeito dele, na campanha. Mas, na época, liderado por Edvaldo Brito e pelo presidente Antonio Brito, optaram por fechar com o PT. Na Câmara Municipal, o Edvaldo está atuando de forma independente, votando de acordo com os interesses da cidade.

 

Tribuna - Quais os seus planos como vice-presidente do Banco do Brasil? O que a Bahia vai ganhar com isso?
Benito
- O Banco do Brasil é o maior banco da América Latina. Uma potência em todo o mundo. Então eu chego realmente para agregar, para ajudar. Tenho certeza que o Banco do Brasil tem muita qualificação e vai exigir muito de todos nós. Vou continuar lutando pelo nosso estado e cada espaço dado será honrado em prol do desenvolvimento da Bahia. Portanto, fico muito orgulhoso de estar participando desse processo pelo desenvolvimento do país. Na Bahia, o BB é um grande parceiro do estado e do governador Wagner, que vai continuar à disposição do desenvolvimento dos baianos.

 

Tribuna – E 2014? Será candidato?
Benito
– Olha, serei candidato a deputado federal. Estamos trabalhando mais intensamente por esse projeto. Queremos formar bancadas fortes para deputado estadual e federal. Nosso projeto é eleger dois federais e três estaduais na Bahia. Tanto que o próprio governador Jaques Wagner dará suporte a esse processo.

 

Tribuna – Mas como aconteceu mesmo a costura para o PTB voltar para à base da presidente Dilma?
Benito
- Quando a presidente sinalizou com a participação do partido no governo federal, pessoalmente, ela atendeu a uma sugestão do governador Jaques Wagner, que fez essa interlocução. Fomos deputados, atuamos juntos na Câmara Federal. Tanto que os contatos que tivemos foi através da intermediação dele.

 

Tribuna – E como vai ficar a relação do ex-presidente do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson, com a presidente Dilma, já que ele sempre foi tão crítico com o governo?
Benito
- Ele foi crítico na maneira como foi feito o processo do mensalão. Mas é evidente que o entendimento com o governo federal se deu com o apoio de 85% da convenção nacional do partido. E ele participou ativamente dessa discussão, desse processo.

 

Tribuna - Como você viu o resultado do mensalão?
Benito
– Vejo com naturalidade. Sinceramente, acho que todos pagaram o preço. É uma questão processual que deve ser respeitada.

 

Colaboraram: Daniela Pereira e Fernanda Chagas