Cidade / DESATIVADO

Projeto que revitalizaria Santo Antonio Além do Carmo termina engavetado

O projeto foi idealizado pela empresária Luciana Rique, uma das herdeiras de Newton Rique, fundador do Shopping Iguatemi,

Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia
Foram comprados 35 imóveis na região, mas nada mudou até agora no local, apenas seguranças tomam conta dos casarões

Imagine como seria bom ter no coração da cidade um espaço onde passear com a família, ir ao teatro ou ao cinema, fazer compras, tudo isso a céu aberto e ainda por cima a pé e com toda tranquilidade e beleza do Centro Histórico.

Um projeto inovador e milionário pensado com o objetivo de reconfigurar o ambiente do Santo Antônio Além do Carmo decepcionou quem desde 2007 aguarda o início das mudanças prometidas para a região.

Idealizado pela empresária Luciana Rique, uma das herdeiras de Newton Rique, fundador do Shopping Iguatemi, e CEO da LCR, uma das holdings mais influentes no ramo de administração de vários shoppings centers no Brasil, o projeto foi adiado por tempo indeterminado, sem maiores explicações.

Anunciado em meados de 2007, quando a jovem empresária iniciou a aquisição de imóveis antigos na região, 35 no total, representando um investimento em mais de R$ 40 milhões, o projeto iniciado a passos largos, passou a tomar um ritmo mais lento e agora está totalmente parado.

Ao contrário do anunciado anteriormente pela própria empresária, no lugar da aquisição de mais 15 casarões, como foi prometido, o que se vê são algumas construções obtidas na primeira remessa, em 2007, serem revendidas, conforme informaram alguns comerciantes antigos da região da Rua Direta do Santo Antônio. “Embora os imóveis não mostrem placas de venda, já soubemos de que pelo menos três casas já foram repassadas”, informou o funcionário de um bar situado na rua principal do Santo Antônio.

Segundo ele, a vizinhança no local acredita que o projeto não siga em frente não só devido ao abandono da ideia, mas por motivos financeiros. “Acho que foi mais um fogo de palha, uma coisa de momento. O Santo Antônio não tem movimento de público que dê lucros que superem o valor investido por ela aqui”, opinou.

Em entrevistas na época do lançamento do projeto, Rique tinha planos de trazer empresários de fora da Bahia para investir no local, inclusive abrindo espaço para lojas até então inéditas no estado, como a Raia de Goeye e a Isabela Capeto, mas a ideia não iria se restringir a montar um shopping a céu aberto.

Em entrevistas sobre os objetivos do projeto, Luciana focava no teor histórico e cultural da região e prometia altos investimentos em áreas que inspirassem a produção e o consumo artístico, como galerias de arte, teatro e cinema.

Na época, ela também mostrou interesse em cuidar dos espaços públicos da região, principalmente das ruas e da praça do bairro, amplo espaço localizado em frente ao Forte do Santo Antônio que atraia baianos e turistas, principalmente pela possibilidade de vista para a Baía de Todos os Santos. Com o passar dos anos e a interrupção do projeto, nenhuma melhoria foi realizada na região, nem pela iniciativa privada, nem pelo poder público.

No local tido por muitos como ponto de encontro, o gramado alto ofusca o ambiente agradável que já foi proporcionado na região em outros tempos áureos. O brilho do lugar é ofuscado pelo desamparo do poder público.

Seis anos após o anúncio do projeto inovador e a aquisição dos primeiros imóveis, nenhuma melhoria foi realizada no local. Rique chegou a cogitar a possibilidade de adotar a praça, mas a ideia não foi adiante.

Expectativa e desinformações

No bairro, o projeto inovador é conhecido por todos, mas poucos sabem prestar informações concretas sobre quando as mudanças vão ocorrer na região. Nem mesmo os vigilantes que cuidam dos imóveis do grupo LGR, que fazem a segurança dos casarões, 24 horas por dia, tem mais informações sobre o futuro do planejamento tido para a região.

Uma fonte ligada aos empreendimentos confirmou a suspensão do projeto por tempo indeterminado. O motivo teria sido a intervenção do poder público, com a promessa de investimentos nas ruas do bairro. “Acredito que a empresa (LGR) esteja esperando o estado entrar em campo, para depois dar seguimento aos planos”, opinou.

Para ele, a LGR quer aproveitar a contribuição do estado para economizar alguns milhões na aplicação de melhorias nas ruas. Este seria, segundo ele, a justificativa para a interrupção dos planos da empresa.

Em uma reunião realizada em outubro do ano passado, envolvendo vários órgãos estaduais, municipais e privados, algumas intervenções de requalificação na infraestrutura na área que vai da Rua Direita a Ladeira do Boqueirão, no Santo Antônio, foram discutidas.

No encontro, que contou com a presença de representantes do Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador (Ercas), da Associação dos Amigos do Santo Antônio Além do Carmo (Amacarmo), da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF),da Secretaria de Justiça Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH), da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder) e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), ficou definido que os investimentos previstos em R$ 6 milhões para região seriam aplicados quatro meses após a liberação da ordem de serviço.

A reportagem da Tribuna tentou manter contato com integrantes da Amacarmo para obter informações sobre os dois projetos para região, o público e o privado, mas a sede da associação, localizada no Santo Antônio estava fechada.

Fundada e mantida pela LGR, a Amacarmo encontra-se com as atividades suspensas temporariamente, pelo menos foi o que informaram alguns moradores da região. Em viagem ao exterior, Luciana Rique também não pode ser ouvida sobre o futuro do projeto.