Sempre gosto de lembrar de seu Marcelino, lá do enclave da zona itapagipana de Salvador, que era louco por política e principalmente por Jânio Quadros.
Ele morreu tendo a certeza que o alfinete de lapela que recebera, no formato da vassourinha – que era parte do marketing do candidato que dizia querer varrer as mazelas do Brasil (e ele mesmo contribuiu em muito para outros sânies) – era de ouro maciço e não somente folheada a ouro. Tanto que, quando perto da morte fez o testamento, deixou para o afilhado querido a vassourinha como herança.
Seu Marcelino saiu candidato, perdeu feio, pois nem a mulher votou nele, que deu uns cascudos na filha e nos dois filhos e nunca mais que teve a mesma amizade com os vizinhos, que achava todos traiçoeiros, verdadeiros fura-olhos. Para piorar o seu humor, viu que nas urnas do Colégio Luiz Tarquínio, na Vila Operária, só tinha voto para o adversário. Que ninguém atendera ao seu apelo de votar em Jânio Quadros. Todos traiçoeiros e enganadores.
Foi a primeira pessoa que vi destilar ódio pelo adversário, tratando-o como inimigo pessoal e figadal. Hoje percebo que todo candidato considera seu adversário como inimigo e parte para as ofensas ou até manda matar. Tanto faz se a campanha eleitoral ocorrer nas capitais ou no mais recôndito município brasileiro, lá nos cafundós do Acre, no Recôncavo, no semiárido, no Sul do país, ou seja, lá onde for. É uma total insanidade.
Os candidatos, talvez por falta de preparo psicológico, uma vez que o que se pede a eles é que sejam no mínimo equilibrados, terminam por incentivar o desforço entre os seus correligionários. Pior é em cidade pequena onde existe um verdadeiro Ba-Vi, um Fla-Flu, com duas correntes se digladiando, como se perder significasse ir direto para o caldeirão dos infernos.
Já vivenciei casos em que a campanha eleitoral adquire uma conotação tão pessoal de inimizade que a cidade se divide, como se fossem mouros e cristãos. Com pessoas perdendo a compostura, o senso de ridículo e até a noção, apostando carros, casas, cachorros e, claro, uns safados apostando até mulher (querendo se livrar delas e até dando a sogra de brinde).
O chato é quando a campanha eleitoral toma ares de guerra civil e ao invés do eleitor prestar atenção naquilo que o adversário diz – pois se é para o bem coletivo, não custa nada seguir quem tem propostas sadias e qualificadas – prefere votar no ruim, somente por ódio arraigado.
No final de tudo, o eleitor que votou errado, somente para não dar o braço a torcer, fica igual a seu Marcelino, lá do bairro da Boa Viagem. Pensa que a vassoura é de ouro, mas não passa de uma bijuteria de Micheline: ouro de tolo.