Jolivaldo Freitas

Os micos voltaram

Da minha varanda vejo com alegria que os micos voltaram. Primeiro ouvi os seus gritinhos que parecem iguais aos de bem-te-vi brigando e depois os vi como sempre, pulando dos galhos da mangueira para os fios de alta tensão com seus filhotes grudados nas costas e até hoje, burro que sou não entendi como não morrem esturricados. Olha que eletricidade mata e transforma qualquer um em churrasco, menos os micos.

Os danados comem as mangas que decidem dar fora de época, pegam os ovos nos ninhos e entram pelas janelas das casas fazendo bagunça. Mas é bom vê-los de volta, já fazia anos que não os via e pensei que tinham sido mortos pelos gaviões ou comidos pelos trabalhadores das obras da construção civil.

Falar em gaviões, nunca mais que apareceram. Geralmente ficavam na antena de TV do prédio abaixo e defronte ao meu, tendo a Baía de Todos os Santos ao fundo. Cheguei a fotografar três tipos de gaviões, dois de carcarás e certa vez apareceu uma espécie de gavião imenso com as patas amarelas e as penas pretas (não era urubu não, seu sacana), que assim como apareceram, passaram uma manhã e sumiram para sempre. Acho que os gaviões foram postos para correr pelo bem-te-vís. A espécie que dá mais aqui é o de coroa. Aquele que tem uma mancha preta e outra branca no cocorutu.

No reino animal é igual ao dos homens. Os gaviões, pesadões, de vôo cadenciado, são como aviões bombardeiros. Os passarinhos menores, mais ágeis, são como aviões de caça. Quando os gaviões se aproximam dos ninhos os bem-te-vis sobem bem alto e descem com tudo enfiando o bico na nuca do gavião, que nada pode fazer a não ser tentar fugir subindo na corrente de ar quente o mais alto possível. O senhor, a senhora já levou bicada de bem-te-vi? Dói!

Por enquanto os micos voltaram. Que voltem os outros com a iminente chegada da primavera.