Recebi boas notícias na semana que passou. O prefeiturável ACM Neto tem um projeto para ajudar no processo de ressocialização dos ex-presidiários. E também soube que Mário Kertész pensa na mesma coisa. Se bem que todos os candidatos poderiam ter pensado nisso, uma vez que o problema social é imenso.
Um texto do site da conceituada organização baiana Reviver, cujo slogan é “Reviver é possível” (www.revivere possivel.com.br) faz levantamento do problema. Mais de 70 por cento dos ex-presidiários voltam a ser presos por falta de oportunidade. Na realidade, estas oportunidades muitas vezes surgem, mas o homem que sofreu uma longa pena e nada aprendeu na prisão sai pior do que entrou.
Como alguém que não conseguiu aprender nada dentro da cadeia vai almejar algo melhor na vida? Pior é a situação dos jovens infratores. Não se vê uma saída iluminada. Temos visto a aplicação de filosofia e ação que nos parecem de outras eras, que em nada coaduna com o século XXI.
Falei com ex-presidiário que conheci no Largo Dois de Julho, em Salvador, que hoje trabalha vendendo frutas.
Ele me disse que foi muito difícil sair daquilo que ele mesmo chama de “bandidagem”. Ele me falou que vendendo maconha ficava – depois de dar a parte de leão ao dono da droga – com mais de 100 reais na mão por dia. Foi preso duas vezes, voltou a fazer o papel de avião, foi preso de novo e decidiu sair daquela vida com medo de morrer e porque tinha a esta altura um filho de dois anos de idade.
Ele me diz que não queria deixar o filho passar vergonha, mas que foi difícil deixar a facilidade de ganhar 100 reais por dia somente visitando “clientes”, quando procurou emprego no comércio e foi rejeitado na primeira semana, pois a empregadora descobriu que ele era ex-presidiário.
Mesmo como trabalhador de ajudante de pedreiro, numa obra da Avenida Paralela, não passou do primeiro mês. Mas foi com a merreca que ganhou neste entra e sai que conseguiu fazer uma guia de frutas, com a ajuda de um comerciante que vendeu o produto fiado na Ceasa e hoje com seu carro de mão e o gogô afiado sustenta a família.
Mas, ele gostaria mesmo de ter tido a oportunidade de estudar, coisa que enquanto esteve preso não pôde e agora está difícil pois trabalha até 14 horas diariamente. E foi quase a mesma coisa que me disse um frentista em Serrinha.
Eu havia passado por volta das 6 horas da manhã no posto onde fui atendido por ele. Quando voltei às 19 horas ele ainda estava lá. Brinquei perguntando se iria dormir no posto e ele passou a me contar sua vida.
Cumprira pena num presídio da região e por sorte o dono do posto decidira de lhe dar uma oportunidade. Mas trabalhava de sol a sol e só ia visitar a famílias aos domingos. Ganha menos de um salário mínimo.
Conforme a filosofia da Reviver, é necessário se repensar tudo isso, coisa que me chamou a atenção ao entrar por acaso no site da empresa e ver lá o texto-manifesto em que ela defende os direitos dos presidiários. E isso me comoveu e passo para vocês.
Os prefeituráveis já estão se conscientizando. Tomara que os empresários também.