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Casarões do Santo Antônio seguem em alta

18 placas de venda foram encontradas na Rua Direita do Santo Antônio até a Rua do Carmo

Foto: Romildo de Jesus
Os casarões chegam a custar R$ 950 mil
Os casarões chegam a custar R$ 950 mil

Uma das ruas mais charmosas do Centro Histórico de Salvador, a Rua Direita do Santo Antônio, tem 15 casas à venda. Considerando seu prolongamento, a Rua do Carmo, a via que une o Pelourinho ao Largo de Santo Antônio expõe placas de vende-se na fachada de 18 casarões antigos.

A grande oferta, que para alguns moradores não tem precedente, não diminui, no entanto, a especulação, que faz os preços beirarem a casa do milhão de reais. “Nunca vi tanta placa como agora”, disse o empresário Paulo Vaz, proprietário de empreendimentos na rua há mais de 15 anos.

O grande número de casarões à venda, segundo o gestor imobiliário, Heron de Oliveira, tem o mesmo motivo que levou os preços a subirem. “Desde que foi anunciado um projeto de iniciativa privada na rua, as pessoas começaram a estourar os preços, que estão, em alguns casos, mais de 100% acima da realidade do mercado. É pura fantasia”, pondera o gestor imobiliário Heron de Oliveira. Ele, no entanto, ressalta que são valores que poderiam dar retorno para grandes investidores, caso a área fosse revitalizada e contasse com outra infraestrutura.

Ele fala sobre os preços com a autoridade de quem participou da venda de duas casas à LGR, a empresa que já comprou 35 casarões com o objetivo de transformá-las em lojas.

“Uma delas, que tem vista para a Baia de Todos os Santos, foi vendida, há três anos, por R$ 160 mil. Foi barata por ter um problema jurídico, mas não valia muito mais de R$ 200 mil. Hoje, em uma casa do mesmo porte estão pedindo R$ 800 mil”, relata.

Paulo Vaz, proprietário do Cafelier, localizado na rua, acredita que o projeto da LGR foi o disparador de outros motivos para o aparecimento de tantas placas de venda. “Muita gente que vive aqui alimenta o sonho de sair, de morar em áreas como a Pituba. O problema é que a especulação não permite que eles vendam as casas, já que estão muito caras”, diz.

O presidente da Associação de Moradores e Amigos do Santo Antônio Além do Carmo (Amacarmo), João Cabral, não se surpreende com a grande oferta de casarões. “Não acho que seja um número anormal”, disse.

Para ele, o fenômeno é apenas um acumulo de ofertas que não se convertem em vendas. “Se prestarmos atenção, são casas que se tenta vender há anos, sem sucesso. E não são vendidas justamente por que o mercado não aceita o que se está pedindo”, acrescenta.

Ele concorda também que o projeto da LGR influenciou na especulação, mas lembra que isso já aconteceu antes. “Em 1996, quando terminaram a reforma do Pelourinho, aconteceu o mesmo fenômeno. O valor das casas subiu vertiginosamente”.

Cabral, no entanto, manda um recado para os que estão de olho nos casarões. “O preço segue a volatilidade da fantasia dos vendedores, mas existe quem tenha esta consciência. Conheço gente que está vendendo uma casa por R$ 800 mil, mas se oferecerem R$ 600 mil, ele vende”, diz.

A reportagem ligou para os números expostos nas placas de venda e apurou que existem casas na Rua Direita do Santo Antônio com preços diversos. A variação tem como base valores entre R$ 140 e 150 mil. Os preços evoluem, passando por R$ 350 mil, R$ 500 e chegam a R$ 950 mil. As casas mais caras são as que têm vista para a Baia de Todos os Santos, mas não é regra, já que do outro lado da rua algumas casas são maiores e, por vezes, mais conservadas.

Para empresário Eric Gouguelhein, proprietário da Pousada das Artes, que tentou comprar uma das casas à venda, os preços se tornam ainda mais “distantes da realidade” quando se leva em conta os investimentos que casas antigas exigem para torná-las seguras e bonitas.

“A casa que queria está sendo ofertada por R$ 950mil, mas para poder começar a ter um retorno no investimento, teria que gastar pelo menos mais R$ 500 mil, isso sem contar o tempo que se enfrenta de burocracia para poder realizar reformas”, explica.

Projeto ainda não vingou

O projeto que, segundo os moradores, aqueceu a especulação imobiliária na da Rua Direita do Santo Antônio, está sendo implementado por Luciana Rique, uma das herdeiras de Newton Rique, fundador do Shopping Iguatemi. Sua empresa, a LGR, que tem negócios em vários estados, comprou 35 casarões (até 2009), entre o Largo de Santo Antônio e a Ladeira do Boqueirão.

A ideia é transformar a rua em um centro comercial, usando as casas para abrigar lojas, restaurantes, galerias de arte, espaços culturais, entre outras atrações.

A demora em implementar o projeto, no entanto, tem feito a comunidade local especular sobre uma possível desistência por parte da empresa, o que foi negado pela administradora da LGR em Salvador, Márcia Pagotti. Apesar de não dar nenhum detalhe sobre o andamento do projeto, ela nega que casarões adquiridos pela empresa estejam sendo vendidos, como foi cogitado por alguns moradores.

“Nenhuma das casas que estão à venda na rua pertencem à LGR”, afirmou.

O empresário Eric Gouguelhein, que é associado da Amacarmo e afirma conhecer a empresária que está à frente do projeto, acredita que a demora na implementação se deva a uma falta de apoio do governo.

“Ela [Luciana Rique] deve estar cansada de encontrar tanto obstáculo e tão pouco apoio para um projeto que iria trazer um desenvolvimento que sempre esperamos. Sei, por exemplo, da dificuldade em conseguir alvarás para reformas das casas”, revelou.

O presidente da Amacarmo, João Cabral, diz não saber o que está acontecendo, mas acredita também que a falta de apoio da parte do estado deve estar influenciando.

“Acho que está engavetado, esperando que o governo invista um pouco mais na região, mas torço para que saia, pois seria uma maneira de revitalizar uma área da cidade que pode ainda trazer muito investimento para Salvador”, pondera.

*Matéria de Carlos Vianna Junior publicada na versão impressa da Tribuna da Bahia