Uma das mais antigas da capital baiana, morada do poeta Castro Alves no século XVIII, a Rua do Sodré encontra-se em completo estado de abandono e perde a cada dia um pouco da sua história. Nesta quinta-feira, parte do casarão de número 195, localizado em frente ao Museu de Arte Sacra, desabou deixando apreensivos moradores do local.
A modelista Marivalda Calazans, de 59 anos, que reside na Vila do Sodré, conta que foram dois desmoronamentos. “O primeiro aconteceu por volta das 7 horas da noite e o segundo pouco antes da meia noite”, lembra, ela que teme novos incidentes. “Só aqui na vila moram sete crianças, elas vivem na rua brincando, imagine se um escombro desses cai neste momento”, diz.
Com diversos casarões em ruínas, os desabamentos de imóveis antigos são frequentes na Rua do Sodré. “Todo dia eu ouço um estalo e quando os carros passam dá pra ver os casarões balançando”, diz um morador que passava no momento.
A Defesa Civil de Salvador (Codesal) informou que uma planta que nasceu na fachada do casarão, projetou-se para a rede elétrica e consequentemente parte da estrutura desprendeu-se, porém, verificou que não há risco de desabamento do restante da edificação.
A Superintendência de Conservação e Obras Públicas (Sucop) foi acionada para a remoção da árvore e a rua permanece interditada pela superintendência de Trânsito e Transporte (Transalvador). A Companhia de Eletricidade da Bahia (Coelba) também foi acionada para verificação da rede elétrica.
O último levantamento realizado pela Defesa Civil de Salvador, com a participação de representantes da CONDER, IPAC e SUCOM, em 2009, vistoriou um total de 224 casarões. O resultado da pesquisa apontou que 50% dos imóveis apresentam alto risco de desabamento, 23% médio, 17% encontram-se sem risco e 10%, baixo risco.
Quem transita pela Sodré de hoje, degradada e tomada por usuários de drogas, nem imagina que este fora uma das mais importantes ruas da antiga Salvador.
“A Rua do Sodré é um entroncamento da Ladeira da Preguiça, principal ligação entre as Cidades Baixa e Alta, onde morava a classe média baiana nos século XVIII e XIX”, lembra a historiadora, Consuelo Pondé.
“A Rua do Sodré é um entroncamento da Ladeira da Preguiça, principal ligação entre as Cidades Baixa e Alta, onde morava a classe média baiana nos século XVIII e XIX”, lembra a historiadora, Consuelo Pondé.
De acordo com a professora, inicialmente a região mais nobre era o Terreiro de Jesus e Pelourinho, com o passar dos anos, as camadas mais abastardas da sociedade migrou para região do Sodré, onde figuras importantes residiram.
“A madrasta de Castro Alves morava em um dos maiores casarões da rua, o nº 43, onde hoje é o Colégio Ipiranga, o poeta viveu e morreu naquela casa”, conta a historiadora, que protesta sobre a condição em que a região se encontra. “Em qualquer país civilizado, um casarão como aquele deveria ser transformado em museu, onde as pessoas poderiam visitar o local onde viveu o mais importante poeta da nossa história”, destaca.
A casa é tombada pelo Iphan desde 1938 e conforme historiadores, teria sido construída no começo do século XVIII, pelo dono da área chegado à Bahia em 1661 e teria pertencido a Francisco Lopes Guimarães, antes de ser vendida ao pai do poeta.
A Rua do Sodré herdou o nome do antigo proprietário da área, Jerônimo Sodré, como era comum no passado é onde também está instalado o Museu de Arte Sacra, pertencente à Universidade Federal da Bahia. Seus jardins e encosta foram classificados como non aedificandi, pelo decreto municipal nº 4.524 de 1973. E todo o conjunto, composto por capela e convento, foi tombado pelo Iphan, em 1938.