Jolivaldo Freitas

Histórias hilárias da Bahia

 Meu novo livro “Histórias da Bahia – Jeito baiano”, que fala de gente, origem de ruas, do patrimônio, de baianidade e sacaneia – com humor, é claro, um monte de personagens -, por obra e graça do Espírito Santo, com a ajuda de Irmã Dulce dos Pobres que lá do céu dá adjutório a quem nasceu na Cidade Baixa, antes de dar a outro qualquer, pois é de nosso direito; e também com as bênçãos de Oxalá, Zeus, Tupã, Thor (não é o filho de Eike Baptista, é bom esclarecer), Shiva, Buda e Janaína (e olha que eu não acreditava em Deus nem outras divindades, nem daqui, nem dali e nem do Olimpo e só acreditava em Débora Secco, Fátima Mendonça, Juliana Paes, John Wayne ou Elvis, que não morreu, é bom saber) está bombando nas livrarias.


Só não fiquei com lágrimas nos olhos quando vi a placa de “Mais vendido” na Saraiva do Shopping Barra, por achar que com tanta seca no sertão seria uma falta de respeito com o sertanejo estar derramando líquido tão precioso. Ainda mais que li outro dia num cartaz que é de gota em gota que a cidade fica alagada. Então segurei as minhas gotas para o prefeito não vir a me culpar do dilúvio que lenha a cidade.
 
Pois não é que por causa do tema tenho recebido histórias de todo mundo, não só da Bahia, mas mundo afora, até da Ribeira! Agora, tem cada história de arrepiar e não dá para colocar num livro, imagine aqui neste respeitado diário, onde idosos, senhoras da sociedade baiana, estudantes, políticos (não se pode escolher o tipo de leitor, perdoe), trabalhadoras do lar, taxistas, alpinistas sociais, intelectuais, vendedor de cocada e de pamonha (e até mesmo o cego de Cajazeiras XXXXVVVVIIII garante que lê) se informam.
 
Recebi em meu email alguns pedidos para fazer a Parte II do “Histórias da Bahia” e uma das mensagens já trazia a história pronta. É que todo mundo sabe que a origem do nome é que é ali existiam três fazendas, uma das quais chamada de Cajazeiras e que o bairro engloba Fazenda Grande, Águas Claras e Boca da Mata e adjacências.

O folclore garante que o então candidato a prefeito de Salvador, o ex-deputado Pedro Irujo (dono da TV Itapoan), embora tivesse as melhores ideias para a cidade em sua plataforma política, teria perdido a eleição quando com seu imperdível e indefectível sotaque galego abriu o comício com a frase:
- Moradores de Cachaceiras!
 
- Ooohh! Sacrilégio! Falta de respeito e nem para aprender o nome certo do bairro – chiaram os moradores e principalmente as mulheres que ficaram ofendidas. Tudo bem que tem um monte de cachaceiros em Cajazeiras e todo mundo sabe até o nome de cada um, inclusive meu conhecido Zé Arruela que dorme com a garrafa a guisa de travesseiro. No entanto ninguém nunca ouviu dizer que mulher do bairro fosse pinguça. São todas mulheres direitas. De respeito.
 
É lá do local que um leitor me garante que tinha um cego que surpreendia todo mundo lendo os jornais do dia. Abria as folhas, passava os dedos nas manchetes e lia a notícia inteirinha. Uns moradores achavam que era milagre, outros que se tratava de poderes excepcionais e ninguém tinha coragem de desconfiar do ceguinho, que desde adolescente morava lá e recebia ajuda de todo mundo.

De comida a abrigo, roupa, sapato e o carinho especial de Marinha do feijão. Até o dia em que lendo o jornal notou que a multidão que o cercava para ouvir as notícias tinha se virado para a rua. Silêncio, todos extasiados e Martinha, a vizinha mais perfeita da rua acabara de ser posta de casa para fora pelo marido que a pegara com o cara da van. Expulsa nua em pelo. 
 
No meio do silêncio se ouviu a voz do ceguinho: “Que diabo mais gostosa!”
E o povo se virou para ele e antes de o encher de porrada questionou:
- Mas você não é cego? Que só lê por espiritismo?
 
- É, tinha mesmo de ser cego para não ver aquela gostosura - respondeu.
E o cego foi posto para correr, já sem óculos e bengala, cruzando os carros, pulando buracos e cercas com uma agilidade como jamais se viu em um deficiente visual. Mas até hoje tem que diga que foi milagre. Que o cego curara na hora do aperto. Outros dizem que era trambiqueiro. Vá saber!
 
Ah! E outro missivista me mandou uma história dizendo que a Rua da Forca se chama assim porque era lá que as pessoas tomavam dinheiro emprestado de agiotas judeus (isso já desde o tempo do Brasil Império e a Bahia capital do Brasil) e ficavam “financeiramente enforcados”. Acho que vou fazer a segunda parte do “Histórias da Bahia”. Desta vez bizarra.