Todo Natal é a mesma coisa. Fico esperando o meu presente, mas Papai Noel me manda tomar naquele lugar. Mas insisto e coloco, desde pequeno, meu sapato na janela. Não, sem antes, com bastante antecedência, deixar meu bilhete para ele. Antigamente era mais fácil.
Rabiscava-se num pedaço de papel pautado retirado do caderno escolar, fazia-se uma letra bem bonita e redondinha que era para ele não dar o presente errado e dizer que não entendeu o pedido, entregava para a mãe ou o pai e ficava escondido na noite de Natal esperando para dar o flagra. Nunca vi Papai Noel. Acho que ele é tímido e como todo bom mecenas gosta de fazer as coisas escondido ou tem alguma coisa a esconder. Nunca entendi direito e nem ninguém me explicou quando perguntado. Nunca consegui ficar acordado para dar um susto no cara.
Hoje é mais fácil mandar carta para o bom velhinho. Vai ao shopping, lá mesmo tem papel, caneta e envelope e coloca numa urna ou na árvore. Eu acho que Papai Noel tem convênio com os shoppings. Não sei por quê. É que quando chega o Natal vejo as crianças brincando com os mesmos presentes, quase todos iguais, que dias antes vi sendo ofertados nas lojas, justamente daquele shopping específico.
Eu adoro Natal, mas todo ano é uma aventura que tenho de enfrentar. Me sinto como Indiana Jones. Eu tenho de enfrentar de delfos, grinchs, bruxas, passando por assombrações e demônios. Eles me cercam, como se cercassem um castelo, querendo acabar com meu Natal. Verdade! Não tem um ano sequer que eu tenha sossego para curtir numa boa, em paz, zen, a festa que mais gosto. Então tenho que pegar minha espada, meu cavalo de pau branco e escudo prateado e sair por aí dando de pau, berrando, esmurrando e botando os seres do mal para correr. Vou à luta e procuro manter minha paixão pelo Natal incólume.
Adoro tanto o Natal que entendo e gosto o fato do comércio começar a mercar seus produtos e promoções natalinas já no mês de outubro. Para mim Natal teria de ser todo mês. Gosto de ganhar presente e de dar presente. Na verdade gosto mais de ganhar (hahaha). Tanto que não me importo de sair de casa, pegar engarrafamento, enfrentar fila para estacionar nos shoppings, brigar para ser atendido nas lojas, ser mal atendido e depois sair feito um louco cheio de sacolas no meio do povo. E ainda alegre. Quanto mais perto do grande dia e com mais multidão se acotovelando mais fica legal o Natal para mim.
Natal também tem que ter muito brilho. A árvore tem de ser grande, com bolas de todas as cores, estrela-guia lá na ponta, no alto, luz pisca-pisca e pasme, tem mesmo de ter algodão imitando a neve. Onde já se viu Natal sem neve. E tem de ter bichinhos cantando músicas temáticas. É preciso também o pão de Natal – não gosto muito de panetone -, queijo, castanhas, ameixas, passas e peru (no bom sentido, claro). Mas, o que me deixa mesmo louco do Natal é um coral.
Os inimigos do Papai Noel são vários, principalmente os corais com o pessoal da terceira idade ou melhor idade, sei lá. E tem também as empresas aéreas que servem péssimo serviço no período, na certa com inveja das renas que voam sem gastar combustível. Mas o pior inimigo é o dinheiro. Não ter dinheiro para comprar um mimo de nada, como uma Ferrari, uma cobertura na Vitória ou viajar pelo mundo de navio dói. E Papai Noel finge que não sabe, nem vê. Este ano eu pego ele.