Um dos meus dois leitores me escreve. Pinçou em algum lugar um texto em que eu defendia o casamento e pediu alguns conselhos. Respondi que não seria a pessoa certa, devendo haver algum engano, ruído na comunicação ou ele tomou remédio com prazo vencido, mas ele insistiu observando que queria uma opinião minha, que eu fosse macho pelo menos uma vez na vida e que não me escusasse de responder a um pedido feito por um leitor. Como ter apenas dois leitores é melhor do que nenhum caí na asneira de saber qual era o problema.
Passou a enumerar, desabafar e a perguntar para que serve uma mulher se ela não cozinha, só de vez em quando; não passa suas roupas (“para não ser injusto devo dizer que ela separa por cor e coloca na máquina de lavar e centrifugar e ainda coloca no varal e recolhe”, acrescentou) e não faz sexo. Além do mais vive suspirando pelos cantos, de olho no que ele fica fazendo, ouvindo a conversa no telefone e notadamente batendo portas e janelas ou varrendo e lavando a laje bem em cima do quarto na hora em que ele quer tirar um cochilo depois do baba.
Falar em futebol, faz tempo que não vai assistir a um jogo do Vitória no Barradão à noite, pois tem medo de ficar dormindo na soleira da janela, como ocorreu da última vez que ela trocou as fechaduras e ficou no sereno a madrugada toda esperando que ela tivesse piedade e deixasse entrar, o que não ocorreu e somente quando o dia começou a empregada abriu a janela e ele pulou, mesmo assim desviando do bule que veio voando em sua direção e que ela garante que não jogou, mas que escorregara da mão. Ele comenta: “Escorregou com força e com direção certeira, nunca vi!”.
Ele quer que eu diga o que fazer, pois gasta uma grana danada com a mulher e os filhos, não deixa faltar nada e ainda é enxotado e todos pensam que dinheiro nasce na carteira, energia elétrica nasce na tomada, água nasce na torneira, comida na geladeira e remédio é Lula ou Dila quem dá. Não há reconhecimento de nada que faz. Ele desabafa: “Mas o pior é ficar sem um lesco, lesco. Um toma lá dá cá. Uma ousadia”.
Volta a insistir para que eu diga o que fazer. Expliquei que sou mau conselheiro, mas que não esquente. Pensei em recomendar que pegasse a filha da mãe e jogasse da laje embaixo e depois, quando for caindo, geitasse – antes do copo se estabacar, que escorregou.
Foi sem querer. Mas achei melhor, dado o estado do meu leitor, dizer que tivesse paciência. Coisa boa estaria por vir. Ele agora me chateia querendo saber se sou médium, se sei ler mão, olhar bola de cristal e nas cartas. Mandei-o se catar. É melhor não ter leitor nenhum que ter um chato assim. E ainda roguei que levasse uns bons chifres que era para aquietar o facho. A mulher não gosta mais de transar e ele fica insistindo, incomodando. Não vá trabalhar mais para dar boa vida à família não. E tomara que além de corno ainda tragam um cachorro para ele tomar conta. Vá se lenhar!