Todas as divindades afro-baianas e também Superman, Capitão América e todos os heróis planetários foram chamados e entraram em alerta para defender a ministra Eliana Calmon dos inimigos intergaláticos. Primeiro fizeram uma barreira contra mísseis e mau-olhado.
Depois mais uma contenção usando os poderes do Lanterna Verde para evitar ser alcançada por maldições, impropérios e pragas, pois se tem três coisas que pega mais que impinge no rosto é imprecação de viúva, maldição de ex-mulher, ex-comunhão do bispo e opróbrio de juiz.
Era tempo de alguém que veste a toga com orgulho e sem dever a ninguém falar o que todo mundo sabe.
Se fosse a imprensa a revelar o assunto, diriam que era mais uma intriga. Se fosse o Ministério Público diriam que era inveja. Se fosse alguém do populacho... nem seria ouvido, claro, quem na magistratura, na Justiça e nos tribunais que vai dar ousadia para o povão. Mas foi alguém com credibilidade que disse que não tem somente bandido com capacete de motociclista, máscara de ninja, óculos escuros ou jaqueta. Tem também “bandido escondido por baixo da toga”, falou e disse a excelentíssima, meritíssima doutora Eliana, a neo-Mulher Maravilha, defensora dos fracos e dos oprimidos e contra a malandragem.
Nesse imbróglio todo lembrei dos anos 70 do século passado – parece longe e falando assim fica mais distante ainda – de um homem alto, negro, simpático e com uma calma de dar agonia, visitando as redações dos jornais denunciando um juiz baiano.
Ninguém dava trela e somente a Tribuna da Bahia decidiu dar guarida (ou talvez o finado Jornal da Bahia também). A história era comum para a época. O homem era proprietário de uma área imensa de terra entre a Federação e o Rio Vermelho, herança dos avós. Não tinha todos os documentos de posse mas tinha testemunhas, tinha o tempo (já vindo do século XVII) a favor ou no mínimo o usucapião.
Uma grande empresa imobiliária invadiu as terras, se apossou e não deu trela para o infeliz proprietário. O homem, pobre, entrou na Justiça para reaver as terras, mas bateu logo de cara com um juiz, digamos assim, de olho grande. Foram anos e anos o juiz sentado no processo e todo mundo sabendo que ele estava levando um por fora, era o que se dizia.
Mas o homem era poderoso, ligado a políticos fortes e época da Ditadura Militar, ninguém teve coragem de peitar. O juiz morreu, o assunto morreu, me disseram que o dono da terra morreu desgostoso com a justiça baiana. Pena que não me lembre do nome do juiz e do pobre proprietário que andava com pastas e mais pastas cheias de documento provando sua posse, a invasão do empreiteiro e as mazelas do juiz.
Daí que temos de sair em defesa de dona Eliana, paladina da Justiça, mulher retada, mais raçuda que muitos homens com toga ou sem toga. Vamos esperar o próximo capítulo da “Mulher Maravilha contra os bandidos de toga”. O último herói brasileiro foi Jerônimo, Herói do Sertão, que tinha como ajudante o Moleque Saci e o cavalo Príncipe e que nas ondas sonoras da Rádio Sociedade da Bahia lutava pela lei, justiça e ordem. Depois é que veio na TV Itapoan o Vigilante Rodoviário (vixe! Lembrei do Dnit. Vade retro!), que assisti pongando na janela da vizinha. Lá em casa não tinha televisão. Mas isso não vem ao caso. Mania de redator prolixo (ou pro lixo?).
Jolivaldo Freitas