Quando o cara, com apenas cinco anos de casado me disse que precisava de uns conselhos, respondi na lata que como conselho e água só se dá a quem pede, ele poderia aparecer lá em casa para um bate-papo, tomar um vinho e se lambuzar no doce de coco e saborear uns queijos que eu trouxe da Suíça. Uma loja que fica em Feira de Santana.
Para alegrar o rapaz preocupado e que começava a me preocupar, eu ainda garanti que depois iríamos saborear também um doce de leite, um restinho que ficou no fundo da lata. Por último, ofereci um pouco do licor que tinha trazido da Serra Gaúcha, recentemente. Ele aproveitou e me perguntou como faço para viajar tanto. Outro dia estive em Madri e não trouxe nem uma lembrancinha para ninguém.
Respondi de pronto que só não viaja hoje quem não quer. Paguei passagens de avião em dez meses. Hospedagem com cartão de crédito que só vou honrar o valor mínimo e para as compras peguei um empréstimo consignado. Ele gritou do outro lado do telefone que quem precisava de uns conselhos era eu.
- Tá maluco, velho! Vai se endividar até os vermes comerem sua carne na tumba!
Vixe! Tomei um susto que até o uísque perdeu o gosto e perdi o capítulo da novela. Mas, já em minha casa ele veio conversar sobre seu casamento. Estava de saco cheio, mas tinha dois filhos e não queria largar a mulher. Ainda gostava dela. Só não sabia mais como conversar. “Na hora daquilo não tem nem mais nem menos. Mando ver. Mas no dia a dia é que vem o problema”, desabafou.
Senti que o problema estava num ponto sem volta quando ele observou que durante a semana até tudo ia bem. Acordava, dava bom dia, um beijinho, perguntava sobre o café, se tinha biscoito, cuscuz, pão e depois se mandava para o trabalho. À noite, sem problemas, pois chegava tarde, ela dando lição da escola para as crianças e depois bastava ver uma novela. Mas, aos domingos e feriados era um horror. Não sabia o que fazer.
Teve um domingo que acordou e viu a mulher sentada na sala – as crianças ainda dormindo – vendo TV. Deu bom dia e foi para a cozinha. Tomaram café e o ar carregado, ninguém tendo o que conversar.
Ele conta: “O jeito foi deixar cair um copo. Lá da sala minha mulher perguntou o que tinha acontecido. Eu disse que o copo caiu. Ela perguntou se quebrou. Eu disse que quebrou. Ela disse que eu tomasse cuidado para não me cortar. Eu disse que estava certo e aproveitei para prolongar o papo perguntando onde estava o apanhador de lixo. Ela disse que atrás do armário. Eu perguntei qual, embora só tenha um armário em casa. Ela explicou que era o único da cozinha. Eu repliquei dizendo que tinha um pequeno na área de serviço. E fez-se o silêncio de novo. Eu pensei: depois derrubo um prato e a conversa dura mais”.
Fiquei pasmo, com cara de corno, ouvindo sem acreditar. Perguntei se não era melhor ele sentar no sofá a puxar conversa sobre os meninos. Ele respondeu que ela reage mal dizendo que só quer saber das crianças. E se falar sobre saúde? Ele explica que ela já vem dizendo que está parecendo a sogra, que só fala de doença. Tentando uma solução eu orientei no sentido de discutir o que ela está vendo na televisão e ele se diz ressabiado; ela pede que fique calado pois a está impedindo de ver a novela.
Já que ele veio me pedir um conselho, só tive um para dar: – Aos domingos não saia da cama.
- Mas fazendo aquilo com ela ou fingindo que estou dormindo – perguntou.
- Faça aquilo e volte a dormir. Quando ela voltar faça de novo e durma até chegar a segunda-feira.
- Mas vou aguentar?
- O que não falta é aditivo. Compre um monte da pílula azulzinha.
Pelo jeito deu certo. O cara não me ligou mais. Ou morreu de fadiga.
Jolivaldo Freitas