osto do prefeito João Henrique quando ele encarna o espírito de vereador de cidade do interior e sai regulando ruas, projetando leis e até tomando conta do tráfego, enfatizando o seu espírito público na essência. Para mim é uma volta ao velho estilo da política romântica. O servir por servir.
Nosso prefeito tem o dom de ganhar alma nova quando se aproxima o período eleitoral, ultrapassando o tédio que se denota, o acompanha na cadeira administrativa da metrópole. Não que não tenha vocação, tem sim, mas ele, com certeza, deve achar melhor ser o síndico que o administrador.
Falar de buracos, sinaleiras, encostas e esgotos é um horror e ele manda que consertem o estrago. Mas os assuntos causam certo pejo, pois não significa uma luta, cruzada ou desafio. É parte do fazer burocrático e rotineiro de uma cidade cheia de gente, cheia de casos e com muita demanda. Se bem que, embora venha demonstrando não ser centralizador, revela
mau humor na falta de solução em situações não presenciais.
Quem esquece o cara que segurou no peito e na raça a sanha dos donos dos shoppings centers que queriam cobrar na tora pelo uso do estacionamento?. Até hoje não cobram com medo do olho de bomba do João. O povo gostou e foi o primeiro embate que deu resultado e ele ganhou asas de anjo junto à classe média soteropolitana. Era o nascimento de uma espécie de paladino da justiça.
Uns dizem que suas ações são factóides, uma estratégia de marketing. Não sei se o é. Mas, político que não faz marketing não alcança grandes coisas. Ainda mais que o povão tem memória curta. Sempre lembro de um vizinho, lá de Itapagipe que trabalhou feito o Cão para conseguir que o prefeito da época, lá pelos anos 50 construísse a praça perto da Igreja da Boa Viagem e em seguida a colocação da rede de esgoto.
Mas o miserável conseguiu os resultados dois anos antes da eleição. Quando saiu candidato a vereador a praça já estava com equipamentos estragados e precisando de manutenção. O mijo e o cocô não escorriam mais pelas ruas; passavam pelas grandes manilhas que desembocavam longe, no mar, por baixo da terra e ninguém mais lembrava nem que existia o odor, como se a rede de esgoto tivesse sempre estado ali.
Tentou fazer o povo lembrar, mas a ingratidão foi tanta que não se elegeu (nem a mulher votou nele, o que o levou a dar-lhe uns piparotes em público, lá no Largo da Boa Viagem) e ele rasgou o Título de Eleitor em tirinhas. E passou a vociferar quando falava em política: “O povo que s f.”.
Pois agora nosso prefeito está às voltas com a questão de carga e descarga nas ruas de Salvador. É mais uma cruzada e ele sabe que é algo realmente importante e de interesse público. Foi um achado excelente. Tem tudo para dar certo, ainda mais se os órgãos envolvidos não façam corpo mole quando o prefeito não estiver olhando. Realmente é brabo, ruim de ver e estar presente quando um caminhão para e fica a descarregar numa rua estreita. O prefeito lembrou que tem vezes que a rua fica engarrafada apenas para que se descarregue meia dúzia de ovos. Aí enche o saco.
Tomara que passando a fase da carga e descarga o prefeito tenha o insight para novas cruzadas e pelejas. Ele gosta de peleja. Mas João Henrique não tem sorte quando se trata de arrumar companhia para as suas labutas. Claro que seu pai, João Durval, deve ter-lhe dito quando jovem: “Não ande em más companhias”. No entanto, qual o jovem que ouve conselho? Jovem não houve “vê se aquieta, menino!”.
Só ouve “coitado!”. E JH, como o chama os mais íntimos (coisa que não sou, claro) só anda em companhia duvidosa. Umas siglas para lá de piriguetes como PDT, PT, PMDB e tantas outras que o traem de quando em vez ou sempre. Colocam guampa e saem numa boa, levando os sonhos, os planos, os desenganos, os livros e discos e o violão do alcaide.
Não vejo a hora de João voltar a ser vereador. Tem sido sempre seus melhores momentos. Não que não seja um bom prefeito. Tem segurado a barra. É que como edil ele é centro avante goleador. E a cidade da Baía de Todos os Santos agradece.