Foi um frisson (como diriam nossos colunistas sociais, claro) o desfile do 2 de Julho em homenagem aos heróis baianos.
O governador Jacques Wagner esteve bem à vontade, fashion, com indumentárias brancas hasteando o pavilhão nacional, estadual e soteropolitano na Alvorada.
Mas, à tarde, não conseguia esconder seu desconforto, na segunda etapa do percurso, entre a Praça Municipal e o Campo Grande, tendo de trajar um belíssimo Giorgio Armani, com sapatos de couro italiano da Gucci e uma gravata Ermenegildo Zegna e sair gastando sua excelentíssima figura no asfalto quente e recebendo abraços do populacho com desodorante vencido, o que só era amenizado por seu perfume francês da marca m7 de Yves Saint Laurent.
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Os servidores públicos tiveram ampla participação, levando suas mensagens em banners, de preferência desancando as autoridades constituídas e pedindo aumento salarial e outras reivindicações. Vaiaram elegantemente, diga-se de passagem, com todos os impropérios possíveis, as autoridades, no varejo e no atacado.
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Foi interessante ver que nossa PM está tratando bem os seus elementos. Nunca se viu tantos policiais – homens e mulheres – gordos. Todo mundo barrigudo. Na Praça Municipal apareceu um grupo onde o soldado parecia que iria explodir dentro da farda apertada. Uma soldado causou alvoroço, pois de tanto apertada entre o coturno e o capacete, desenhava o que Deus tinha dado por natureza. Deu até vontade de acabar com a ordem e levar um papo com a autoridade para ver se rolava uma integração cívico-militar. Faltou coragem e ela tinha uma arma na cintura. E que cintura!
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Bom mesmo foi ver o protesto das vadias. Elas estavam que tavam, mas tudo não passava de gritos de slogans, cada um mais cabeludo que outro. Este colunista social do 2 de Julho disse a um colega que deveríamos segui-las pois ali estava certo e garantido que a gente ia se dar bem. Coisa nenhuma. Era só conversa para chocar e boi dormir. Também só tinha mulher mais ou menos. Não fez tanta falta assim, embora com duas doses de Cravinho e uma de Milome qualquer chuva na horta vire tempestade. Mas não choveu na nossa horta. Aliás, o amigo meio desolado se queixou de estar beirando a velhice. “Depois dos 60 parece que ficamos invisíveis até para as vadias”, desabafou.
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Quem se fez presente em número grandioso foi o pessoal da Terceira Idade do movimento “Cultura Racional”. A maioria dos componentes atrasou a saída e alguém foi procurar o motivo e descobriu que as senhoras idosas esperavam na fila do Elevador Lacerda para fazer xixi. Incontinência é fogo. Outros esqueceram o horário. Mas o pessoal é bem simpático. Todo mundo de branco e com luvas impecáveis.
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A empresa de serviço de som que prestava serviço na Praça Municipal, contratada para executar à exaustão o Hino da Bahia (Ode ao 2 de Julho? Deve ser), não teve paciência e lá para as tantas tascou músicas dos Beatles. Imaginei os britânicos cabeludos nas lutas pela Independência. Help!
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A festa estava boa, como todos os anos, com alegria. Mais alegres estavam os representantes da Oposição (Imbassahy, Neto, Aleluia e os Vieira Lima) que, sob a magia da data conseguiram conversar como gente civilizada e desfilaram juntos. Coisa rara. Parecendo que uniram forças para lutar contra os inimigos portugueses. Era o milagre do Caboclo e da Cabocla. Aliás, falar no casal, parece que passaram um verniz mais pesado nos dois, que ficaram quase que puramente afrodescendentes. Com bem mais melanina. Coisas da Bahia.
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Os Encourados de Pedrão, que nas lutas pela independência meteram o relho nos portugueses, decidiram, este ano, travar luta contra o Ministério Público, que havia impedido o grupo de vir a cavalo. Fizeram todo o percurso montados. Um deles me disse que, se não enfrentar, dentro de algum tempo eles é que terão de trazer as mulas, os cavalos e até jumentos nas costas.