Nem vou falar da propaganda baiana, que quando se trata de campanhas institucionais, embora não apresentem novidades, pelo menos fazem engraçadinhas ou emocionadas. No varejo a pobreza é tanta que fico até com saudade da antiga loja A Feira dos Tecidos, que tinha uma comunicação péssima e que ganhava o cliente no volume de inserções na TV. Era o dia inteiro e ninguém aguentava. Mas, quando alguém pensava em comprar panos ia é para uma das lojas por saber ser mais barato.
Até lembro de uma festa que fui. Eu, e dois amigos no apartamento de um deles. Estava certo que iria encher de mulheres lindas e disponíveis; não apareceu nenhuma. Ficamos assistindo televisão, num aparelho em preto e branco de 12 polegadas. Batem à porta - eu achando que era mulher -, aparece um hippie, conhecido de um dos meus camaradas e eles começam a fumar maconha.
Lá para as tantas, no vídeo, surge um comercial da Feira dos Tecidos com um anão (aquele que era torcedor do Bahia) e um grandão de mais de dois metros e magro como uma vareta (aquele foi, de sacanagem, o anti-Momo do Carnaval da Boca do Rio). O texto dizia assim:
- Na Feira dos Tecidos o preço baixo acabou com o preço alto (o anãozinho dava um chega pra lá no grandão e ele caia todo desajeitado e olhando para o chão para não se machucar. Cena mal dirigida. Patética).
Era algo, digamos, naïf.
Passa meia hora e de repente os maconheiros começam:
- Você viu, o pequeno derrubou o maior? Hahahahaha
- O maior caiu em cima do pequeno – Hahahaha
E este diálogo durou até o dia amanhecer quando pegaram no sono. Eu já estava ficando louco.
Mas, voltando à propaganda em geral, não aguento mais ver projetos imobiliários cujos prédios por estarem perto de um manguezal leva o nome de reserva ecológica. Lá próximo a um matinho fica com nome de Recanto (dos pássaros, sempre) e nas zonas onde se paga IPTU mais caro vira mansão.
E os vídeos de propaganda imobiliários são o máximo de criatividade, parecendo até que todo criador é pesquisador do Yutube. Tem área verde, criança brincando, um homem que mostra ser bem sucedido; com uma mulher boa pra cacete. Uma criança brincando junto com a mãe gostosona e um lindo cachorrinho. Se for casa de praia o cãozinho vem correndo à beira-mar e a mulher na beira da onda aspergindo água com os pés em slow-motion.
Quando se trata de supermercados, surge a modelo-apresentadora andando no meio das gôndolas e dizendo que seu preço é mais baixo:
- Pode trazer o encarte do outro - desafia.
Em termos de lojas de eletro-eletrônicos o VT tem de ser gritado. Imagine se fosse som no padrão do vídeo 3D. Tem até loja que briga com outra loja de bandeira diferente, mas pertencente ao mesmo grupo. Mas o povão não sabe. Embora o povo tenha cunhado um slogan informal, que é “vende, mas não entrega”. O “filme” termina com pancada forte. Para garantir o fio da barba. A assertiva.
Os slogans das propagandas brasileiras são de matar. Tem um que diz “apaixonado por carro como todo brasileiro”. Uma vende comida indiana e diz que: “Tão boa que até Ghandy sorriria”. Outra: “Bar Atlântida. Onde os frutos vêm do mar”. E mais: “Não beba só uma. Bebavárias.” (Cerveja Bavária) - “ Se Vinho não fosse a melhor bebida do mundo, Jesus havia transformado água em cerveja.”(Rancho do Vinho).
Todo anúncio de lingerie tem mulher e garante que as mocreias ficarão mais tesudas que Vera Fischer com 20 anos de idade ou Sonia Braga antes das rugas e os peitos caídos. Aliás, tem um anúncio no ar, de uma loja que bota modelos maravilhosas dançando. De repente no meio entra uma gordinha. Foi politicamente correto, mas brochante. Eu que não comprava calçola nesta loja. Não está vendo que forçaram a barra?
Anúncio de banco é terrível. Todos os bancos mostram as portas abertas, atendimento fácil, prioritário, exclusivo, personalizado, como se o cliente fosse o dono do próprio dinheiro, coisa que até Deus duvida. Mas, quando chega na agência tome fila e só o prefeito não entra na fila pois o pessoal o conhece como aquele que fica aborrecendo querendo que se cumpra a lei do tempo de espera. Ninguém cumpre. E banco parece que tem marketing esquizóide. Só oferece empréstimos a quem não precisa.
Carro é coisa a parte. Todos remetem às grandes aventuras no mar, na floresta, na urbe e até tem carro que sobe no topo de uma montanha só para seu feliz proprietário apreciar um pôr do sol. Todas as campanhas ou passam a ideia de realização pessoal, ou estar de bem com a vida. Mas, meu cardiologista Juarez Brito comprou um Hyundai na Jubiabá, o carro quebrou e desde janeiro aguarda peça. Lá, parado, sem ver o mar, montanha ou mesmo os buracos da cidade. Triste. Abandonado.
E quando se trata de soluções para a pele, aí parece que a farmacologia trata as mulheres como bestas (e muitas caem no conto). Basta passar uma vez por dia um creme que vai rejuvenescer décadas. E tome uma coroa bonita, tipo Luma de Oliveira ou Luísa Brunet para atestar. A senhora diarista lá de casa gasta quase um terço do que ganha nestes placebos. Mas está com a auto-estima maravilhosa. E me pergunta se está ficando sem rugas. Eu digo que sim.
Não serei aquele que irá contra o binômio propaganda e marketing. Vou ali no “Minha Casa, Minha vida”.
Jolivaldo Freitas