Seria cômico se não fosse trágico. Quando os prédios no Japão começaram a tremer, um brasileiro descendente dos filhos do sol nascente pegou a Bíblia, se postou embaixo de uma mesa e foi orar para pedir ao Senhor proteção. Foi quando o terremoto se intensificou e ele decidiu pedir desculpas ao Criador, largou o livro sagrado e se picou. Se não dá no pé estaria hoje aos pés de São Pedro justificando os seus pecados.
Entre o que manda fazer a Madre Igreja Católica, o Alcorão, o Talmude e o Torá ou o Vedas, a melhor coisa é correr e procurar ajudar os deuses a te ajudar. Claro que colocar um papiro, um manuscrito ou a Bíblia para proteger a cabeça de uma viga que cai, não vai dar em nada. Por sorte, uma concussão nas vértebras, seguido de hematomas generalizados.
A questão da religião pode ser debatida até mesmo nestes momentos de terror – aliás, são as horas certas para se avaliar ou mostrar até onde vai a sua fé, minha senhora carola da Igreja da Boa Viagem. Lembro que, quando do terremoto do Haiti, uma mulher que passou dois dias embaixo da terra e ficou paraplégica disse que foi Deus que a salvou e protegeu. Salvou? Certo. Protegeu? Como, se estava toda estropiada?
Outro dia assisti a um capítulo da genial série House, que passa em canal fechado. Um homem está para morrer e não quer tomar remédio. O médico arma um truque, dá-lhe o remédio sem ele saber e quando fica bom diz que foi Deus quem quis. House conta o que foi feito e o paciente insiste:
- Foi Deus quem mandou você fazer isso!
Pode Fernando? Pode.
Recentemente vivenciei dois casos interessantes de fé. Um rapaz que joga tênis comigo entrou em pânico quando o exame revelou que estava com o coração já batendo biela. Se ele olhasse uma mulher boa e o coração disparasse morria. Se ficasse emocionado em novela da Globo pifava.
Até mesmo se tivesse um grande prazer com um pedaço de bife podia morrer. Sexo nem pensar. Os médicos do Hospital Santa Isabel levaram mais de um ano cuidando do cara, mexendo daqui, ajeitando a rebimboca da parafuseta e quando ficou bom ele foi agradecer a quem? A Deus, claro, pois tinha “iluminado” os médicos. Ou seja: o Senhor escreve sempre certo por linhas tortas – o que pode ser miopismo ou dislexia, ou tira a pipoca com a mão do gato.
Outro caso foi do amigo que fez cirurgia bariátrica, reduzindo de 160 para 90 quilos as suas arrobas. Não se sabe se pela cirurgia ou se foi consequência da anestesia ou infecção hospitalar ou o valor da conta que pagou, pirou de vez e decidiu virar de uma hora para outra Testemunha de Jeová. Três meses depois de ter sido abduzido pelas crentes, pelas bíblias, pelos evangélicos teve uma hemorragia intestinal e precisou de transfusão de sangue. Todo mundo sabe que Testemunha de Jeová não aceita sangue de outra pessoa. Morre mas não dá uma de vampiro.
Mas não é que meu amigo se reconverteu e voltou correndo para a Sagrada Igreja Católica, Apostólica e Romana. Recebeu a transfusão e foi salvo. Agora que está bem quer voltar de novo para a outra vertente cristã. Não é para Deus mandar um raio e fazer dele churrasquinho de gato? Eu faria, mas não sou nenhum deus. O cara parece até o prefeito João Henrique. Todo dia é um partido novo e sempre voltando.
Aliás, no Japão, com aquele tsunami vindo a setecentos quilômetros por hora, não teve ser humano que não tivesse um cagaço. Zeus, Deus, Alá, Odin, Huiracocha, Shiva, Tupã ou o deus Lula do povo dos-com-bolsa-família nem precisaram puxar pela oração. Se mandaram. Os japoneses com seus pauzinhos que se virassem.
E um baiano descendente de japoneses mandou uma carta ao Senhor Redator, elogiando a ordeirice, a falta de medo, do pejo com as circunstâncias e a coragem dos orientais frente à catástrofe, aproveitando para esculhambar a gente, dizendo quie somos frouxos e desorganizados. Quando fui ver, o missivista não esteve lá.
Viu tudo daqui, da cidade do São Salvador, pela TV. Aí é fácil falar que não teve mijação nas calças. Como diria a teatróloga Aninha Franco junto com Fernando Guerreiro:
- Pelo bigode do delegado Magalhães.