Os ratos estão soltos pela cidade, deu ontem na primeira página da Tribuna da Bahia. Digo mais: os ratos estão soltos em todos os lugares. Segundo a reportagem, eles agora aparecem de dia. Antes era só de noite no Jornal Nacional. Tem tudo que é tipo de rato. Tem camundongo, aquele tipinho bonitinho, com orelhinhas redondas e que dá até vontade de fazer um guti-guti na barriguinha e que nos lembra Mickey, Jerry ou Stuart Litlle.
São mais de três mil tipos de ratos espalhados pelo mundo, mas claro que não vou aqui dar uma de erudição ratiana e fingir que sou especialista, pois, embora sendo jornalista e escritor – portanto especialista em generalidades – não vou correr o risco de passar mais ridículo que já passo. Basta ver que ontem mesmo passei vergonha ao dar uma nota de 2 reais para que a moça do caixa cobrasse 70, achando que era uma nota de 100 e ela me olhou e disse:
- É cada rato que aparece por aqui!
Entendi o que ela queria dizer e tratei de dar a nota certa, mas sei que até agora ela acha que eu quis aplicar um golpe.
Mas, como dizia, são muitos os ratos. Temos o rato de esgoto, aquele peludo e cheio de pulgas que de tão gordo parece até senador. Temos o rato de cozinha, que passa correndo, rouba a ratoeira mais rápido que a armadilha. Existe rato de telhado, rato de navio, estes que são os primeiros a se mandar quando vem o tsunami. Raramente, notamos, mas temos o rato novergicus e o norueguês. Tudo que é tipo de roedor é parente de rato.
Dizem os especialistas lá da Sesab que são 10 ratos para cada ser humano, o que significa dizer que em Brasília a situação deve ser pior. Não que a cidade criada por Niemayer tenha muitos esgotos ou buracos ou boca-de-lobo (lobo é uma outra história), mas é que tudo que é rato do país se manda para o Planalto Central.
Brasília é uma espécie de encantadora de rato ao contrário (você lembra a fábula do rapaz que tirou os ratos de uma cidade apenas tocando flauta). Pois, quem quer viver na flauta vai para Brasília e, portanto, lá deve ter bem mais que dez ratos por habitante.
Os ratos planaltinos seguem os mesmos princípios naturais do seus parantes, dos melhores esgotos de Salvador, Nova Dheli ou Bornéu, passando por Cuba e Venezuela, e não ache que não tem rato em Paris e Nova Iorque. Rato tem em todo lugar. Tem na Líbia e no Sudão.
As característica dos ratos são (está La no Google, claro): eles percebem o mundo com sentidos bem desenvolvidos. Sentem de longe onde tem uma maracutaia.
Os ratos em geral enxergam muito mal. Eles não conseguem perceber as cores, mas apenas variações de claro e escuro. Mas, sabem diferenciar uma nota de 100 reais de uma de 100 dólares.
O sentido do olfato, geralmente, é bastante desenvolvido nos ratos. Cheiram onde tem um mensalão, um adjutório, uma corrupçãozinha e chegam rápido, na frente.
Assim como o olfato, o sentido do paladar é bastante desenvolvido nestes animais, principalmente nas ratazanas. Ratos gostam de bons restaurantes, onde geralmente cometem suas mazelas e seus conchavos. Mas, pode ser também num gabinete ou apartamento funcional; numa antessala.
A audição dos ratos é muito sensível. Graças a ela, os ratos conseguem detectar e escapar do perigo com muita antecedência. A amplitude de audição destes animais vai desde frequências muito baixas até o ultrassom. Ficam sabendo de pronto quando tem operação da Polícia Federal ou mesmo mudanças que acontecerão na ponta do poder.
Apesar de apresentarem vários sentidos muito desenvolvidos (segundo pesquisei na internet), o tato parece ser o sentido mais desenvolvido dos ratos. Metem mesmo a mão no erário. Conseguem esconder o butim rapidamente, entocam, mandam para as Ilhas Cayman ou fazem como mágicos: dão um jeito de tudo sumir no ar. E depois ficam com cara de camundonguinhos.
Mas os ratos sempre foram desmoralizados pela mídia. Veja o Mickey. Leva o maior corno de Minnie e quando Pateta o chama para uma armação qualquer responde “Quero não; não vou não. Minha mulher não deixa não!”.
O Jerry sempre foi tido como um rato escroto que faz Tom de gato e sapato. O gatinho sempre sofre em suas mãos. Rato cruel e politicamente incorreto. Parece Tio Sam com os muçulmanos.
E Stuart Little é um ratinho esquizofrênico, com problemas de identidade, achando que é gente e querendo jogar futebol, tomar sorvete e namorar as meninas. Aliás, tudo que é rato acha que pode ter menina nova. Os ratos estão podendo.