Jolivaldo Freitas

Coisas que não entendo talvez por burrice

Fico abestalhado, aparvalhado, idiotizado, pasmo e na maioria das vezes beatificado ou mortificado (como quem levou corno e não caiu na real ou pisou em cocô com o sapato de couro italiano de 1.400 euros, feito certinho, na forma, para caber os calos e as unhas encravadas), ou pior: com ares de Berlusconi depois de comer a ninfeta e fingir que não sabia que era pedofilia. Fico mesmo siderado com o que vejo, ouço, leio ou fico sabendo, mas tenho dificuldades de apreender.

Vejamos por exemplo a questão política. Agora mesmo Kassab, aquele cara de fuinha prefeito de São Paulo, apesar do apelo de ACM Neto para que ele fique no DEM, decidiu criar um partido novo, o Partido da Democracia Brasileira. Não entendi o motivo até que me explicaram que ele quer fundar uma nova agremiação para poder se fundir, depois, com o PSB. Ô! Porque não vai de vez?

Aqui na Bahia tivemos o Partido Verde quebrando o pau com o PT nas eleições passadas e agora fico sabendo que os verdes irão fazer parte da bancada de apoio ao governo estadual na Assembleia Legislativa. Ô! E o pau comendo entre o presidente reeleito na AL, Marcelo Nilo e o líder do governo, numa autofagia só? Ô!
As escolas estão dando listas com mais de onze livros para os estudantes do Ensino Médio.

Eu já tinha notado, mas ainda não havia entendido, até que uma senhora leitora (só tenho três leitores: esta senhora que não se identifica, meu amigo Sérgio Passarinho e meu algoz Ronaldo Rohrs, feliz proprietário de museus) me explicou que eles pedem para fazer de conta que serão usados. Eu vi que alguns livros que havia comprado ano passado, para um enteado, estava com as páginas virgens. Ô! Não era para estudar? Minha leitora garante que é mais para dar uma ajudazinha para as pobres editoras.

Cheguei na casa de um amigo de infância (amigo antigo só serve para criticar o tempo todo e falar dos nossos podres) e vi uma imensa TV de LCD com 60 polegadas, colada na parede mas ainda dentro da caixa. Perguntei o que acontecera e ele me mostrando a sala de 3 metros por 3 metros disse que não dava para ver nada. A cara fica colada na tela. Falta distância para apreciar melhor o que a tecnologia moderna oferece. Vai trocar por uma de plasma de menos polegadas. Ô! Não viu antes? Me aproveitei da situação e ofereci recomprar por metade do preço. Ficou de apreciar.

Coisa que me deixa mais em extase (não confundir com êxtase) é propaganda de celular. Parece que quem compra um aparelho de última marca vai chegar ao nirvana. Vai até mesmo falar com o Hubble ou com o robô lá em Marte ou Mercúrio, sei lá, pois nunca sei de nada. Aí chega logo depois de Feira de Santana e dá “fora de área”. Ô! Não era para pegar lá longe, até em Xique Xique ou no inferno, o que vem ser a mesma coisa?

 Também tem a propaganda dos automóveis, que parece feita para nos levar à liberdade. Com, certeza que se eu comprasse um utilitário e fosse subir a montanha, no mínimo furava o pneu. Mas, o que me deixa de miolo mole é ler que o carro custa tanto e tem zero por cento de juros. Mas, quando vou ler os juros já estão embutidos. Ô! Se não tinha juros, como apareceu nas linhas pequenas?

Outro dia li e reli para tentar entender que as empresas de serviço de revisão de carros da cidade estavam com promoção. A tabela de revisão custava 382 reais para um veículo com 40 mil quilômetro rodados. Fui lá que era o caso do meu.  Quando recebi a conta era muito mais. Eu não havia entendido – abestalhado que sou – que o valor era para um serviço que durasse no máximo 48 minutos na oficina. Ô! Quem garante que o tempo não é maior em se tratando ser mão de obra na Bahia, coisa que a cantante Gal Costa garante que é preguiçosa.

Quem me garante que o mecânico não vai levar meia hora para pegar as ferramentas. E se ele decidir dar uma mijadinha? E se a mulher ligar para brigar pelo celular no meio do serviço? Quem paga? Paguei.

Agora mesmo tem a história de todo mundo estar fazendo compras pelos sites específicos na internet. Mas, tem gente que compra barato e quando chega no restaurante pede a picanha e o garçom grita:

- Manoel, traz aí uma picanha que o cliente comprou pela Internet!
E quando o prato chega não dá nem para preencher a cárie do molar. Sem falar que todo o restaurante já se virou para ver quem foi que fez a compra e sabe que o jantar vai sair por dez reais. Ô! Queria picanha inteira e ainda garrafa de vinho?
      Não entendo.