Jolivaldo Freitas

Colunismo social na festa de Iansã

A professora Maria da Conceição Rodrigues de Miranda abriu os terraços de sua mansão na Avenida Imperatriz, no sábado passado, para homenagear  Iansã, que  vem a ser Santa Bárbara no sincretismo baiano (e não se pode dizer que coluna social não é cultura).

Ostentava em toda a sua nobreza um longo vermelho todo em tafetá, mandado costurar no antigo Daomé, hoje República do Benin (mais cultura), com base num modelito desenhado pelo afamado estilista Afrânio da Goméia.

Os convidados foram brindados com a degustação de uma farta gastronomia afro-baiana, onde pode ser apreciado desde o efó (feito com a planta língua-de-vaca da família das asteraceaes), passando pelo arroz branco, caruru, vatapá, rapadura e feijão fradinho, ficando faltando apenas a cana caiana e a farofia (fazendo um parêntese, caro leitor, só consigo dizer farofa. Até escrever farofia me parece boçalidade), mas aí é um assunto que faço questão de contar ao final desta coluna social.

O que despertou a atenção entre os convidados, foi a evolução dos modos e costumes, vez que a festa é das mais tradicionais de Salvador e referência para os moradores da Cidade Baixa, sendo a única que pode ser frequentada por qualquer representante de qualquer religião, tanto fazendo ser do candomblé, evangélica e apostólica ou até adeptos do espiritismo. Até mesmo o prefeito João Henrique poderia aparecer que não seria pecado.

 Os convidados, por falar nisso, eram intelectuais, artistas, professores, aposentados, gente da esquerda, da direita, do centro, de nada, anarquistas e até digníssimos representantes do clero.

Sua Excelência Reverendíssima Joselito Conceição Bispo, presidente da Congregação Mariana da Boa Viagem esteve presente, num primoroso e valioso conjunto de linho branco, como Oxalá, como um dândi fazendo o contraponto ao vermelho que imperava nas salas e principalmente no paço, onde antigamente era um jardim. Ele se fazia acompanhar da filha Paula Bispo, que chamou a atenção de todos por causa do seu moderno método de fazer regime e que, com certeza estará nas revistas de boa forma neste Verão.

Um exemplo do seu método ela mostrou na prática, depois de dizer que estava feliz por ter perdido 10 gramas em apenas um dia de regime. Tanto que ela encarando um gigantesco prato de caruru completo – parecendo bacia de sete meninos – tomava um gole de chá de herbalife para cada oito garfadas cheias.

 Explicava que já matava a gordura e as calorias no nascedouro, o que levou a acionista da Telemar Déa Maria a orientar seu conjugue Marçal Rodrigues de Miranda, petroleiro e colega de trampo de Jacques Wagner, do tempo que ele batia ponto no Pólo,  a começar de imediato um regime no que ele contra-argumentou que só estava tomando líquido e que cerveja não combina com chá. 

Aliás, numa mostra da evolução dos costumes, a anfitriã Maria da Conceição, mais conhecida como professora Tetinha, decidiu nos últimos anos liberar a cerveja, coisa que antigamente não podia e ela fingia que não via os convidados fugindo discretamente para o Bar Brasil para tomar uma.

Quem estava muito à vontade no regabofe foi Tila Miranda, vestindo um dreapeado furta-cor e com óculos Giorgio Armani com design feito exclusivamente, embora se queixasse que a Bahia estivesse fazendo muito calor e do suor que escorria do rosto, coisa que passou rapidamente depois que deixou de fazer esforço com  o garfo e a faca na ânsia de destrinchar o frango que acompanhava o caruru.

Quem também se destacou foi a professora e artista plástica Renata Motta, que exibia o resultado do período em que passou fazendo treinamento no Senac e se transformou numa excelente garçonete, recebendo elogios de todos e só não ganhando gorjetas por ser coisa que Santa Bárbara não iria gostar.

Cacau, conhecida chief de cozinha do Recôncavo Baiano, lá das bandas de Santo Amaro e São Sebastião do Passé, com passagem em Giari foi muito paparicada pelos convivas, notadamente pelo comerciante e surfista Ioió, pelo personal trainner Thiado Miranda e seu irmão do ramo imobiliário Tito.

Para não dizer que nada de fora do tom ocorreu, o que destoou do clima de confraternização e homenagem à santa/deusa dos raios e trovões foi o bafafá ocorrido justamente na cozinha, quando se descobriu que o serviço de Buffet estava economizando na farinha.

Só recebia porção de farofa de dendê os mais chegados da anfitriã, o que gerou um certo mal estar, mas nada que não pudesse ser contornado com uma porção mais generosa de milho branco.

No mais, de leve, sorry periferia, ademã que vou em frente, como diria Ibrahim Sued.