A luta pela independência do Tibet, que tem no Dalai Lama seu maior expoente, está sendo sacralizada. Assim como os monges tibetanos sacralizam qualquer coisa que se mova, respire e brilhe. A China, pelo que se pode observar das aparições de seus representantes na mídia, está se expondo cada vez mais.
E o mundo começa a admirar a luta dos monges e a chorar os imolados. A China está sendo vítima do seu próprio corpo, consumida por dentro por uma imensa tênia, cujos pruridos ressoam e se espalham fora da epiderme. A pujança da economia chinesa depende mais e mais dos incrementos ocidentais, seja na dependência de matérias-primas, ou na necessidade de manter ligações on-line com bolsas e mercados, o que traz indesejada exposição da sua filosofia e geopolítica.
Os chineses encontram-se agora entre a cruz e a espada. Querem manter seu mundo em particular, onde os direitos humanos são suprimidos continuamente, enquanto estão sendo pressionados pela chamada economia globalizada, algo impensável para Mao Tse-Tung. A exposição da China serve para mostrar seu rico acervo cultural e poder ou para ter revelado suas mazelas.
A China quer mostrar que é rica, poderosa e uma vaca de benfazejas tetas para seus filhos. Mas, não quer mostrar o que, embora esteja sendo colocado debaixo do tapete, todo mundo sabe: prende-se e arrebenta qualquer dissidência.
Os monges budistas do Tibet, que de bobos nada têm, sabem que esta é a oportunidade de chamar a atenção para os problemas causados pelo garrote chinês é a agora. A riqueza do país permite um olhar universal sobre a verdade que os chineses buscam a todo custo encobrir, mesmo que seja tentando enganar a imprensa estrangeira com armações, cenários e realidades virtuais.
Desde que o Tibet foi invadido pela China nos anos 1950, nenhuma oportunidade para mostrar as manchas de sangue nos furisodes laranjas foi tão boa. Se bem que não se pode deixar de observar, mesmo sendo politicamente incorreto, que o Tibet nunca deixou de ser um enclave geográfico e cultural, desde os seus primórdios. O país representa um desafio até mesmo para os valores democráticos conhecidos e contemplados.
É uma teocracia que vai de encontro à modernidade e para quem progresso é pecado (no sentido ocidental de pecados). Ocorre que entre a filosofia secularista tibetana e a prepotência chinesa, o mundo torce pelo primeiro. O que será que a China quer tomando o Tibet para si?
A ocupação da área tem motivação estratégica. Os chineses sabem que o Tibet está no topo do mundo e que dali podem controlar boa parte da Ásia. O que se vê, entretanto, lá do alto e abaixo são atos bárbaros. Mas, os monges estão aprendendo a ser pós-modernos. Aprenderam a sair na porrada. No tabefe. No melhor estilo não-zen.