Jolivaldo Freitas

Desculpas esfarrapadas

Brasileiro tem sempre umas desculpas interessantes, na ponta da língua, para consertar o estrago que faz com alguma atitude ou postura. Veja o caso da candidata Dilma Roussef, que foi esta semana para entrevista no Jornal Nacional. Nós que trabalhamos com jornalismo televisivo aprendemos, com o passar do tempo e com especialistas, que o entrevistado quando tem certeza quase que não se mexe na cadeira, não gagueja e principalmente não transpira. Mesmo com os sangans e holofotes em cima, a maquiagem segura a barra.

Mas, quando o entrevistado quer se justificar ou esconder algo ou tergiversar, no início vai tudo bem, mas passados quatro minutos – o que em termos de televisão é um tempo que parece não passar – começa a aparecer marca de suor no suvaco. Ou o indigitado fica vermelho e as gotículas sob o Pancake que parecem querer estourar para sair de qualquer jeito. A testa fica brilhando mais que panela areada.

Foi o que se viu com Dilma. Quando ela tentou justificar o porquê do PT ter se envolvido com Sarney e Collor, parecia que ela estava sentada num fogareiro. Deu umas desculpas esfarrapadas, não conseguiu fixar os olhos na câmera e explicou que o partido que denunciava os políticos corruptos tinha se bandeado por questão de aprender a governar. Foi aprender no lado negro da força.

O assunto veio à baila por causa de uma conversa – e eu adoro me meter na conversa dos outros, mesmo sem conhecer a pessoa – que ouvi descendo o Charriot da Praça da Sé. Um empresário se queixando com outro de que tinha  mandado um funcionário fazer pagamento de uma conta e ele esqueceu; e chegou com a desculpa que o banco tinha sido assaltado. A notícia não saiu em lugar nenhum. Só seu funcionário viu o acontecido.

Lembrei do meu amigo João “Cabeção” Campos, que ia jogar tênis. Quando ganhava tinha sido um gênio. Quando perdia a culpa foi de estar desestabilizado emocionalmente por ter levado um susto com um cachorro maluco que estava solto na rua ou – acredite – um pombo fez cocô no capô do seu carro. Ou até mesmo que Kátia, sua mulher o levou a força para a cama.

Também tinha outro amigo, gerente da Texaco, que perdia sempre no tênis. Era a pior desculpa de todas. Dizia que Vera – sua mulher – tinha cozinhado um frango dias atrás e colocara muito cominho e estava cheio de azia sem poder se concentrar. Ou mesmo que na semana anterior tivera um entrevero no trânsito, e a pior de todas: que tinha chegado de viagem, fazia um mês, e ainda estava com problema de fuso-horário.

Meus queridos amigos importantes funcionários da Associação Atlética Eliraldo, Nice, Lúcia e Eliane estavam chegando um pouquinho atrasados para o trabalho. Andando em fila parecendo formiga. Chegava um, outro, outro e assim sucessivamente. Só de sacanagem, pois eu estava com o presidente do Clube Ademar Brito, disse que estava todo mundo para ser punido pelo atraso. Disseram harmoniosamente que o motorista do ônibus havia perdido o rumo. Todos no mesmo ônibius? Claro que acreditei só porque são funcionários exemplares.

Eu mesmo certa vez quebrei a cara. Trabalhava aqui na redação e por volta do meio-dia deu uma vontade danada de jogar tênis. Saí de fininho e quando eu estava na quadra ganhando de um amigo, passa para uma reunião do Lions ou Rotary, não lembro, o superintendente da Tribuna doutor Walter Pinheiro. Ele fez uma saudação, nada disse e eu na ânsia de dar uma desculpa, que nem saiu, apertei sua mão. A minha mão suada e cheia de barro da quadra de saibro. Claro que perdi o jogo. Foi mal.