Opinião

É preciso diversificar o dinamismo econômico

A política de redução da pobreza sofre curto-circuito

Aconselha-se a busca de estimulantes capazes de diversificarem a dinamização

Há um dado da conjuntura divulgado no final de setembro com forte impacto analítico, na medida em que revela considerável parcela das despesas das famílias, item capital no PIB. Até final do ano, os gastos com apostas e outros jogos online podem ultrapassar os 250 bilhões de Reais, com a agravante de pessoas pobres, beneficiárias do Bolsa Família, aplicaram nos mesmos, cerca de 3 bilhões só no mês de agosto.

O gasto geral entra na contabilização do PIB, porém, se passarmos ao qualitativo não houve criação de atividade produtiva e a receita para o tesouro nacional está sujeita a circunstâncias aleatórias, facilitadas pela tecnologia de nuvem utilizada. Ao mesmo tempo, a política de redução da pobreza sofre curto-circuito com um dos conhecidos aspectos psicológicos da economia, quer dizer, crença em atalhos para enriquecimento.

Com uma taxa de crescimento econômico previsto para final de 2024 da ordem dos 2,5%, o Brasil faz melhor que em alguns anos anteriores, porém, olhando para metas mais ambiciosas e compatíveis com a multidimensão nacional, é modesto perante os avanços de economias asiáticas próximas do lugar brasileiro no ranking, como Indonésia, ou muito acima de nós em oferta diversificada e avançada, como Coreia do Sul e talvez até Malásia.

Exemplo demonstrativo continua sendo a fraqueza na produção de painéis solares, extensão da energia nuclear e produção de baterias, componentes definidores do nível de funcionamento macro. Nessas três áreas emergem três enormes iniciativas a nível mundial.

- A China continua largamente na frente sobre os painéis e a transição energética no mundo depende dela, sem que o Brasil aumente de forma significativa a produção para o mercado interno, e, menos ainda, marque presença no mercado mundial;

- A Microsoft assinou contrato com os proprietários da usina nuclear desativada da ilha de Three Milles, para reativação até 835 MW e fornecimento energético a grande centro de dados, chamando a atenção para os dois patamares: a própria energia e o desenvolvimento dos centros de dados, onde a supremacia norte-americana continua em primeiro lugar, longe dos segundos e terceiros (Alemanha e China) e longe demais do Brasil.

- A Stellantis (conglomerado de Peugeot, Fiat, Opel, etc.) assinou parceria com o gigante chinês das baterias, CATL, para abertura na Espanha de gigaunidade implicando investimento de 4 bilhões de Euros.

Apesar do atraso em muitos ramos ou setores inteiros, hoje decisivos, a economia brasileira apresenta, segundo o Banco Central, riscos de sobreaquecimento, justificativos de alta taxa de juros base. Avaliação e decisão que, desta vez, originou menos protestos.

No visual internacional, a economia brasileira aparece com dois perfis distintos:

- a extensão das queimadas, usadas pelos adversários europeus do longamente negociado acordo Mercosul-União Europeia, novamente anunciado como perto de conclusão significando, como sempre após esses anúncios, alto risco de ser bloqueado por fatores europeus, mais políticos que econômicos, sobretudo franceses. Muita gente na Europa não se dá conta que a montagem de dispositivo eficaz anti-incêndio florestal no Brasil abrange uma superfície próxima de toda a U.E., onde continuam a ocorrer esses incêndios. 

- um investimento de grande impacto para as trocas internacionais, pelo grande armador francês CMA, na aquisição de larga fatia de capital do principal operador portuário de Santos, na ordem de 1,8 bilhões de dólares, a ser concluído até começo do próximo ano, declarando o executivo-chefe daquele armador que a economia brasileira se tornou madura e dinâmica no sentido de operação financeira deste gabarito.

No agregado de todos estes dados e elementos, concretizados ou em potencial, a visão aconselha busca de estimulantes capazes de diversificarem a dinamização.

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Jonuel Gonçalves é pesquisador associado no NEA/INEST da UFF (Niterói),ex-professor visitante da Uneb (Salvador) e está à frente do Blog do Jonuel