O que a extrema-imprensa – relações públicas do atual governo – tem feito em relação à Venezuela só pode surpreender mesmo os incautos e/ou ignorantes políticos. E se entenda ignorância na verdadeira acepção semântica.
O socialismo é a maior usina produtora de miséria no mundo desde sempre, não havendo sequer um contraexemplo digno de nota.
De todas as suas promessas utópicas, a única verdadeiramente exitosa é a igualdade, mas uma igualdade na miséria, no rebaixamento extremo do patamar civilizatório. Portanto, o script é sempre o mesmo e, sabemos, quando o enredo não se altera, tampouco se pode esperar um desfecho diverso.
Mas o que a extrema-imprensa tem a ver com isso? Vimos na última semana uma tentativa quase desesperada de situar o ditador da Venezuela no campo da direita. Outros, mais delirantes, chegaram a chamá-lo de conservador.
Valdo Cruz, da Globo News, por burrice ou pura manipulação ideológica, chegou a afirmar que o governo de Maduro não tinha mais nada de esquerda, pois agora naquele país é militarista, contra o aborto, persegue minorias e é homofóbico.
Iniciei dizendo que nada disso pode surpreender, pois, sempre que os regimes socialistas colapsam, a esquerda saca o seu eterno slogan “deturparam Marx”! O ardil utilitarista é simples, isto é, o socialismo nunca está errado; erram os homens. Nossa, que sagacidade!
Vamos por partes. Os jornalistas atuais são tão ignorantes que chegam a assustar.
Existe uma conotação de conservador totalmente desconectada da corrente filosófica conservadora. O sentido de conservador que esses intelectualoides dão é este: o mais rasteiro possível – seria a intenção de conservar um regime para manter-se no poder. Em suma: uma ditadura. Chega a ser patético.
O que uma criança de dez anos é capaz de compreender sequer norteia o horizonte de conhecimento desse pessoal!
O conservadorismo, como corrente filosófico-política, conta com um arcabouço de princípios e valores, sendo alguns deles o ceticismo, a prudência, a preservação das tradições e da cultura e a liberdade irrestrita do indivíduo em todas as suas dimensões.
Em síntese: o regime de Maduro não tem absolutamente nada a ver com isso, a não ser para os mestres do ilusionismo da mídia tupiniquim.
Quanto ao que afirmou o referido jornalista, a coisa só piora. Todos – repito, todos – os regimes socialistas no mundo ascenderam usando minorias como massa de manobra e tão logo se estabeleceram trataram de descartá-las.
Che Guevara era misógino, racista e homofóbico, além do que tinha preferência em mandar para o paredon essas minorias
Ainda hoje em Cuba manifestações LGBTs são duramente reprimidas
-- A homofobia no regime Fidel Castro
e opositores do regime perseguidos e presos.
Antes da Revolução Russa, a ativista feminista Alexandra Kollontai foi apoiadora do movimento revolucionário e contava com grande prestígio dos bolcheviques para sua agenda.
No início do regime, suas reivindicações foram postas em prática o trabalho feminino em fábricas, a coletivização de casas e a facilitação do divórcio, o que implicou o incremento de mães solteiras. A brincadeira durou menos de uma década, até os soviéticos perceberem que as medidas estavam causando degradação moral e social, aumento da criminalidade e da prostituição (in CREVELD, Martin van. O Sexo Privilegiado, Vide Editorial, 2023, p. 124).
Na China maoísta, as mulheres faziam trabalhos forçados na lavoura e, mesmo hoje, não há qualquer notícia de espaço para minorias, sendo, por exemplo, a minoria étnica dos uigures oficialmente perseguida e torturada pelo regime de Xi Jinping.
-- Violações de direitos humanos na China
Eu iria falar sobre a Coreia do Norte, mas entendo dispensável, pois, mesmo o leitor mais alheio, sabe minimamente das violações aos direitos humanos na ditadura de Kim Jong-um.
O que vemos hoje na Venezuela é mais do mesmo: um governo autoritário moribundo, que, para manter-se no poder, dobra a aposta e promove a escalada na restrição aos direitos fundamentais.
Veja. Não é uma questão de ideologia, mas de lógica e coerência. Todo regime autoritário para perpetuar-se no poder necessita sufocar qualquer movimento crítico, que, agora, passa a ser seu rival. É precisamente essa a noção de conservar o status quo que promove a confusão terminológica entre jornalistas mal intencionados.
Se houvesse honestidade intelectual na extrema-imprensa, usariam um epiteto como conservacionismo para fazer a distinção. Mas preferem deliberadamente manter a ambiguidade como meio de manipular os menos letrados.
As minorias, após a consolidação do regime socialista, não são mais bem-vindas. Ao reverso: elas agora são oponentes que promovem subversão da ordem, devendo ser, portanto, sufocadas, caladas, presas e quiçá assassinadas.