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Ditadura venezuelana mata ao menos 3 pessoas e prende 749

Os presos serão acusados de vandalismo, instigação ao ódio e até terrorismo

Ao menos três pessoas morreram em protestos contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, na última segunda-feira (29 de julho), de acordo com um porta-voz da oposição, Perkins Rocha.

Segundo ele, os óbitos foram registrados no estado de Aragua, e um quarto falecimento ainda pode ser confirmado.

"Houve muitas manifestações, algumas delas reprimidas com dureza", disse Rocha a uma rádio local.

Uma grande mobilização chavista está prevista para esta terça-feira (30), em Caracas, com o objetivo de retomar o controle das ruas da capital.

Segundo o procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, 749 manifestantes foram presos em protestos desde a última segunda-feira (29) e responderão por crimes como vandalismo, instigação ao ódio e até terrorismo.

Já o ministro de Relações Interiores, Remigio Ceballos, disse que as forças de segurança foram instruídas a agir com a força necessária, "em conformidade com a Constituição", para punir quem "violar as leis".

"Continuaremos trabalhando em perfeita coordenação com o sistema judiciário, incansavelmente, minuto por minuto, todos. Garantiremos a paz do povo venezuelano", declarou ele à emissora Telesur.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou nesta terça-feira que seu governo é alvo de um "plano da extrema direita" para "iniciar uma escalada de terrorismo" no país, que vive uma nova crise após a proclamação do líder chavista como vencedor das eleições de 28 de julho.

Maduro ainda definiu os manifestantes de oposição como "drogados armados" que formam "grupos de delinquentes".

"Foram os gringos que os convidaram. Eles foram presos e já estão falando. Receberam US$ 150 por dia [R$ 850]", salientou o chavista, que mostrou imagens de atos de vandalismo.

"Destruíram material eleitoral e queriam interromper a corrente elétrica no país", acusou.

Embaixada sem energia

A energia elétrica na sede da Embaixada da Argentina na Venezuela, em Caracas, foi interrompida nesta terça-feira.

A sede diplomática abriga há várias semanas seis representantes da oposição contra o governo do presidente Nicolás Maduro.

Na noite passada, a embaixada já havia sido cercada pela polícia, e a Venezuela anunciou a decisão de expulsar diplomatas de sete países latino-americanos, incluindo da Argentina. 

Rùssia apoia Maduro

O governo da Rússia cobrou nesta terça-feira (30) que a oposição venezuelana respeite o resultado das eleições, que tiveram o presidente Nicolás Maduro proclamado como vencedor com 51,20% dos votos.

O desfecho do pleito é questionado pela oposição e por parte da comunidade internacional, que exigem do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) a publicação das atas de cada urna.

"Estamos vendo que a oposição não quer aceitar sua derrota, mas achamos que a oposição deve parabenizar o vencedor das eleições", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

"As tentativas de influenciar a situação na Venezuela não deveriam ser alimentadas por outros países", acrescentou.

Maduro também recebeu o apoio de outro aliado de peso, o presidente da China, Xi Jinping, que enviou uma mensagem para felicitá-lo pela "reeleição". "Desde que assumiu o cargo, Maduro guiou o governo e o povo venezuelanos em um percurso de desenvolvimento adequado às próprias condições nacionais, obtendo resultados notáveis", salientou o líder chinês.

A oposição liderada por María Corina Machado, impedida de disputar as eleições, reivindica a vitória do candidato Edmundo González Urrutia com "mais de 73% dos votos" e prometeu divulgar as atas que comprovam essa estimativa.

Machado, no entanto, se tornou alvo de uma investigação por fraude eleitoral, enquanto milícias chavistas se concentraram em torno do Palácio de Miraflores, em Caracas, para defender Maduro, alvo de crescentes protestos por todo o país.

"Se quiserem gerar violência, nos encontrarão aqui. Estamos prontos a defender o palácio, a Constituição e a vitória do presidente", disse o vice-mandatário do Partido Socialista Unido da Venezuela (Psuv), Diosdado Cabello, um dos homens fortes do chavismo.

O regime venezuelano também suspendeu voos para Panamá e República Dominicana, acusados de "ingerência em questões internas", e expulsou diplomatas dos dois países e de Argentina, Chile, Costa Rica, Peru e Uruguai, que não reconheceram a vitória de Maduro.

Já o Brasil prepara um comunicado conjunto com México e Colômbia, países governados por presidentes progressistas, mas o teor desse documento ainda é incerto.

Impasse

O governo de Nicolás Maduro acusa parte da oposição e países de incitarem um suposto golpe de Estado na Venezuela contra o resultado eleitoral. Por outro lado, parte da oposição, alguns países e organismos como OEA [Organização dos Estados Americanos] questionam a lisura do pleito e pedem a publicação das atas que permitem que os votos sejam auditados.

Os votos computados nas urnas eletrônicas da Venezuela devem ser enviados por sistema próprio - sem conexão com a internet - para uma central que totaliza todos os votos. Ao mesmo tempo, é impressa uma ata no local da votação e são distribuídas cópias para todos os fiscais.

Posteriormente, é feita uma verificação, por amostragem, para saber se os votos enviados pela urna eletrônica são os mesmos entregues aos fiscais. Há ainda a possibilidade de auditar as urnas com os votos impressos. Isso porque na Venezuela, além do voto eletrônico, há o voto em papel.

Porém, o CNE ainda não divulgou as atas que comprovam o resultado anunciado, que deu vitória a Maduro com 51,21% dos votos, contra 44% para Edmundo González e 4,6% para os outros oito candidatos.

Questionado pela Agência Brasil sobre quando e como os dados seriam disponibilizados, a assessoria de imprensa do CNE informou que “o Poder Eleitoral está atuando”.