A frequência e o ritmo da pulsação podem fornecer pistas importantes sobre a saúde do seu coração. Como nem todas as pessoas que possuem algum problema cardíaco apresentam sintomas, uma ferramenta acessível a todos é realizar o autoexame de pulso. Se identificar alguma alteração, é importante procurar uma unidade de saúde para uma avaliação mais detalhada, já que a técnica não substitui uma avaliação médica profissional.
“O autoexame do pulso é uma prática simples e eficiente de monitorar a saúde cardíaca. Desta maneira, é possível buscar uma avaliação clínica adequada, uma vez que a detecção de irregularidades, como batimentos sem um ritmo normal, que variam bruscamente de frequência, pode ser um alerta para condições como fibrilação atrial ou extrassístoles [batimentos cardíacos extra] frequentes”, afirma o cardiologista Alexsandro Fagundes, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC) e professor do curso de medicina da Universidade do Estado da Bahia.
Na literatura médica, é consenso adotar como referência o intervalo entre 60 e 100 batimentos por minutos (bpm), que é considerado normal para adultos em repouso ou realizando simples tarefas do dia a dia. Esses valores são relevantes para avaliar alterações na frequência cardíaca, chamadas de arritmias. A orientação dos especialistas é fazer o autoexame uma vez por dia.
“As arritmias que comprometem o funcionamento normal do coração reduzem drasticamente a frequência cardíaca. Existem também as taquicardias, que podem ser de diversas origens, com ou sem doença cardíaca prévia. E, em especial, os batimentos irregulares, que podem sinalizar a presença da fibrilação atrial, que é uma arritmia que pode ser silenciosa, mas requer tratamento preventivo para evitar complicações importantes, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou insuficiência cardíaca”, alerta o presidente da SOBRAC.
A pulsação, medida facilmente na região do punho logo abaixo do polegar, reflete a frequência cardíaca. É possível verificar o número de batimentos por minuto através da contagem do pulso radial. Dessa forma, a frequência elevada no repouso, chamada de taquicardia (acima de 100 batimentos por minuto), frequência cardíaca baixa ou bradicardia (batimentos abaixo de 50 por minuto) ou ainda a percepção de batimentos irregulares, que podem sinalizar a presença de algum distúrbio do ritmo que necessite de uma avaliação clínica.
“O autoexame do pulso pode ser complementado por diversos tipos de monitor de frequência cardíaca, como medidores de pressão arterial e, especialmente, relógios de pulso ou telefones celulares. Muitos desses dispositivos vestíveis são capazes de registrar eletrocardiograma, auxiliando o diagnóstico de diversas arritmias cardíacas”, sugere o cardiologista Guilherme Fenelon, coordenador do Centro de Arritmia do Hospital Israelita Albert Einstein e professor em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Frequência cardíaca muda em diferentes situações
O coração de uma pessoa jovem e saudável, com idade entre 18 e 21 anos, geralmente bate entre 60 e 90 vezes por minuto. Entretanto, é importante destacar que se a frequência cardíaca ultrapassar ou ficar abaixo dessa faixa, não necessariamente indica a presença de algum problema cardíaco.
Quando alguém está fazendo exercícios físicos, por exemplo, a frequência cardíaca pode chegar a 150 ou 160 bpm sem que isso seja um risco para a saúde. Da mesma forma, em situações de estresse físico ou emocional, é esperado um aumento da frequência. No outro extremo, durante o sono existe uma diminuição natural da pulsação cardíaca. Essas variações acontecem conforme o corpo reconhece as diversas situações e ajusta o ritmo do coração para a resposta mais adequada a cada cenário.
Cuidados com o calor intenso
O consumo de substâncias estimulantes, como o café, guaraná em pó e energéticos também tendem a elevar a frequência cardíaca, assim como o calor intenso. “Nesses casos, o pulso acelera para que aumente o fluxo de sangue para a pele, permitindo assim resfriamento do corpo. Por isso, nos dias mais quentes, é importante manter uma boa hidratação, usar roupas leves e evitar exposição excessiva ao sol”, aponta o cardiologista Fenelon.
Outras recomendações incluem evitar o consumo de cigarro e de bebidas alcoólicas, o excesso de peso, o controle de glicemia e do colesterol. “Essas medidas, junto ao reconhecimento de alterações ao autoexame, contribuem para a redução do risco de morte súbita”, frisa o cardiologista Fagundes, presidente da SOBRAC.
Passo a passo do autoexame de pulso:
A pulsação pode ser aferida com os dedos indicador e médio no punho, próximo à base do polegar com a palma da mão virada para cima, ou no pescoço abaixo da mandíbula;
No punho, a mão oposta deve ser usada (pulso direito, mão esquerda), já o pulso do pescoço deve ser medido com a mão do mesmo lado (mão direita, lado direito do pescoço);
Pressione suavemente até sentir a pulsação. Se não conseguir, faça um pouco mais de pressão na região, mudando um pouco a posição dos dedos ou tentando no outro punho;
Para obter a frequência cardíaca, conte o número de batimentos durante 15 segundos e multiplique por 4. Por exemplo, se contar 20 batimentos em 15 segundos, a frequência cardíaca é de 80 batimentos por minuto. Essa medida pode ser repetida algumas vezes para aumentar a precisão do autoexame;
Verifique se existe alguma variação estranha entre os batimentos, com pausas ou acelerações.