Política

PTB expulsa vereadora para quem o autismo é um "castigo de Deus"

A vereadora ainda corre o risco de ter o mandato cassado

Foto: Câmara de Arcoverde

Vereadora Zirleide Monteiro

O líder do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) na Câmara, Fred Costa (Patriota-MG), anunciou que a vereadora da cidade pernambucana de Arcoverde, Zirleide Monteiro (PTB-PE), foi expulsa da sigla.

O desligamento acontece após a parlamentar ser acusada de falas capacitistas (discriminação de pessoas com deficiência) a uma mãe de uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Durante uma assembleia no local, na última segunda-feira (30), a vereadora disse que o filho da mulher é um “castigo de Deus”. Zirleide referia-se a uma adversária política.

“O castigo de Deus ele dá aqui, em vida. Quando ela veio com filho deficiente, é porque ela tinha alguma conta para pagar com aquele lá de cima. Ela já veio para sofrer”, afirmou.

O líder do PTB informou, nas redes sociais, que ele e o deputado federal Bruno Lima (PP-SP) vão enviar à Câmara Municipal de Arcoverde um pedido de cassação do mandato de Zirleide.

"Já expulsamos do partido a Vereadora Zirleide Monteiro, de Arcoverde/ PE, que afirmou, em uma sessão da Câmara Municipal, que filho deficiente é castigo de Deus. Uma pessoa que faz uma afirmação dessa, não pode estar no parlamento", escreveu.

Nota de repúdio da Câmara

Em nota, a Câmara do município pernambucano afirmou que não aceita ou admite nenhum tipo de preconceito" e que trabalha "com os mais altos valores da ética e da civilidade, na construção de uma sociedade mais justa e harmoniosa, para assegurar a proteção e o respeito a todas as pessoas”.

Além disso, a Casa revelou que “a Presidência da Câmara está analisando o caso em conjunto com a Assessoria Jurídica da casa, para que o episódio seja conduzido de forma correta, legal e transparente”.

Íntegra da nota

A Câmara Municipal de Arcoverde, em sintonia com o posicionamento já expressado por seu Presidente, Wevertton Barros de Siqueira (Siqueirinha), vem, por meio desta, reafirmar que não aceita ou admite nenhum tipo de preconceito, de qualquer natureza; seja contra pessoas com deficiência; em questões de raça; de gênero; etárias; culturais; religiosas; sociais ou ideológicas.

Na Sessão Plenária de ontem (30.10), a vereadora Zirleide Monteiro (PTB) usou a tribuna da Câmara para expressar conceitos que não se coadunam, absolutamente, com as práticas, os ideais, pensamentos e/ou comportamentos aceitos pelo Poder Legislativo Municipal de Arcoverde. A fala da vereadora - de caráter preconceituoso contra a mãe de uma criança deficiente - foi, de imediato, rechaçada pelo Presidente da Câmara, Wevertton Barros de Siqueira (Siqueirinha), pedindo desculpas à população em nome do Poder Legislativo, por se tratar de “uma fala muito infeliz da vereadora”.

A Presidência da Câmara está analisando o caso em conjunto com a Assessoria Jurídica da casa, para que o episódio seja conduzido de forma correta, legal e transparente. Já existe um procedimento em trâmite, que foi protocolado, de imediato, encaminhado ao setor jurídico da Câmara, em seguida vai para as comissões respectivas, e será dada a resposta, garantindo a ampla defesa e o contraditório para a vereadora.

O Poder Legislativo de Arcoverde reafirma o seu compromisso com os mais altos valores da ética e da civilidade, na construção de uma sociedade mais justa e harmoniosa, para assegurar a proteção e o respeito a todas as pessoas.

Notícia-crime

O Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos dos Autistas (IBDTEA) apresentou na terça-feira (31 de outubro) uma notícia-crime ao Ministério Público de Pernambuco contra a vereadora por crime de discriminação. Através de nota, o IBDTEA comentou a atitude da parlamentar.

“Após ser chamada a atenção pelo presidente da Câmara, a vereadora se negou a pedir desculpas à mulher e voltou a realizar um discurso intolerante. De acordo com as leis brasileiras, a parlamentar infringe o artigo 88 da Lei Brasileira de Inclusão que determina que é crime contra a pessoa com deficiência: ‘Praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência, crime que prevê pena de um a três anos de reclusão e multa’”.

 A AMAR - Aliança de Mães e Famílias Raras também emitiu uma nota de repúdio. “É inadmissível que qualquer representante eleito faça declarações que firam a dignidade e o respeito de um grupo tão vulnerável e lutador em nossa sociedade. As palavras da vereadora não apenas são vergonhosas, mas também difundem uma mentalidade que vai contra os princípios de inclusão, igualdade e respeito que todos devemos defender. Repudiamos veementemente as palavras da vereadora e instamos a sociedade a se unir nesse repúdio, defendendo os valores de respeito, compreensão e solidariedade que são fundamentais para a construção de um mundo mais igualitário e acolhedor para todos”.