Algumas doenças, como a catarata, são comumente relacionadas à terceira idade. No entanto, o problema ocular pode atingir também crianças no nascimento ou ao longo da infância.
A Organização Mundial de Saúde estima que, no Brasil, ela é responsável por 350 mil novos casos de falha na visão anualmente – em todo o mundo este número chega a 18 milhões.
A enfermidade, também conhecida como catarata congênita, é uma das principais causas de cegueira infantil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O médico oftalmologista do Núcleo de Oftalmologia, Cícero Narciso, explica que a doença, no caso das crianças, atua como uma película opaca nos olhos. “A catarata infantil faz com que elas percam a transparência do cristalino, uma lente translúcida que fica dentro do olho, atrás da pupila. A perda ocorre por meio da formação de uma película opaca de espessura mediana, que provoca a sensação de embaçamento da visão. A formação desse ‘vidro fosco’ nos olhos é capaz de comprometer a visão dos pequenos, em casos graves”, esclarece o médico.
A doença tem sintomas visíveis e aparentes. Dentre os mais comuns em crianças, está a pupila esbranquiçada, ou leucocoria, como descreve o especialista. “Esse sintoma pode se manifestar logo após o nascimento ou após poucos meses. A leucocoria é um sinal de que a catarata já está em um grau mais avançado e, caso não haja o tratamento imediato, pode acontecer uma piora considerável da doença ao longo do tempo, levando ao desenvolvimento de estrabismo e nistagmo, por exemplo” complementa.
A luz entra no olho e é projetada para a retina (área nobre da visão localizada no fundo do olho) que detecta o sinal luminoso e o transmite ao cérebro. A catarata impede a passagem da luz para a retina, portanto as imagens e objetos não chegam ao cérebro. Para que uma criança desenvolva boa visão, é necessário que a luz entre pelo olho sem obstáculos e que o cérebro forme imagens claras. Se houver uma catarata obstruindo a passagem da luz, ocorre a limitação do desenvolvimento visual da criança e resultando em baixa visão em um ou ambos os olhos
É possível identificar a doença pelo Teste do Reflexo Vermelho (TRV), realizado pelo pediatra nas primeiras 72 horas de vida. Quando não for realizado no berçário o pediatra deve realiza-lo na primeira consulta de puericultura. Se o TRV for inexistente ou duvidoso a criança deve ser encaminhada para avaliação oftalmológica completa. Ele é um teste de triagem e indica que existe uma alteração no eixo visual, quando ausente. O oftalmologista fará a confirmação da doença que esta comprometendo o olho.
O TRV deve ser repetido após 1, 3, 6, 12 meses e a seguir anualmente nas consultas de puericultura, pois outras doenças oculares podem aparecer mais tardiamente como a catarata infantil, que aparece após um ano de vida, retinoblastoma e processos infecciosos e parasitários.
“Se o recém-nascido apresentar sintomas logo na primeira semana, recomenda-se que seja realizada a testagem. No teste, uma luz é projetada sob o olho do bebê para observar possíveis alterações na estrutura ocular. Caso não seja identificado nenhum obstáculo na entrada e saída de luz pela pupila, a saúde ocular do bebê não está comprometida pela doença”, explica o especialista.
A catarata infantil possui cura.
Tratamento
A terapêutica depende da intensidade da opacificação e consequente déficit visual ocasionado; bem como das alterações oculares associadas, como um olho pequeno ou microftalmico, da idade da criança e se é uni ou binocular.
A cirurgia consiste na remoção das opacidades do cristalino, preservando sua cápsula, que sustentará a lente intra-ocular (LIO) quando implantada.
O glaucoma congênito e a catarata congênita com indicação cirúrgica devem ser operados antes dos três meses de vida para ter uma melhor acuidade visual. É importante que se tenha previamente estabelecida a rede de referencia para que a criança seja rapidamente atendida em centros oftalmológicos.
Nem todas as cataratas infantis precisam ser removidas. Algumas são pequenas ou localizadas fora do eixo da visão. Elas não precisam ser tratadas, pois não impedem o desenvolvimento da visão.
Tipos de cataratas congênitas
A catarata congênita é classificada em quatro tipos:
Catarata polar interior - Está relacionada às causas genéticas e é localizada na parte frontal do olho. Na maioria dos casos, não é necessário intervenção cirúrgica.
Catarata polar posterior - Acontece na parte posterior do cristalino e é uma opacificação bem definida.
Catarata nuclear - É o tipo mais comum de catarata congênita. Aparece na parte frontal do olho.
Catarata cerúlea - Costuma atingir os dois olhos da criança. Suas causas são normalmente genéticas e não causam nenhum tipo de problema de visão. Aparecem como pequenos pontos azuis no cristalino.