Saúde

Coração já matou mais de 160 mil pessoas no Brasil desde janeiro

As doenças cardiovasculares representam 30% do total de mortes no País

Foto: SBC
O Cardiômetro, criado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia

As doenças cardiovasculares, afecções do coração e da circulação, representam a principal causa de mortes no Brasil. São mais de 1100 mortes por dia, cerca de 46 por hora, 1 morte a cada 1,5 minutos (90 segundos).

As doenças cardiovasculares causam o dobro de mortes que aquelas devidas a todos os tipos de câncer juntos, 2,3 vezes mais que as todas as causas externas (acidentes e violência), 3 vezes mais que as doenças  respiratórias e 6,5 vezes mais que todas as infecções incluindo a AIDS.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia estima que, ao final deste ano, quase 400 mil cidadãos brasileiros morrerão por doenças do coração e da circulação.

Muitas dessas mortes poderiam ser evitadas ou postergadas com cuidados preventivos e medidas terapêuticas. O alerta, a prevenção e o tratamento adequado dos fatores de risco e das doenças cardiovasculares podem reverter essa grave situação.

Uma dor no peito

Até o dia 18 de março, a vida do comerciante Emilio Gaspari Filho, de 71 anos, era bastante ativa e rodeada por pregos, parafusos e acabamentos residenciais. Uma rotina intensa que foi interrompida inesperadamente por um infarto agudo do miocárdio, que evoluiu para um tromboembolismo pulmonar.

Em estado grave, Emilio precisou travar uma batalha incansável enquanto permanecia internado no Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR). Foram 42 dias, entre cateterismo, intubação, traqueostomia e angioplastia, até receber a notícia mais aguardada: estava pronto para voltar para casa e sem nenhuma sequela. 

"Senti uma dor no peito, uma leve falta de ar e uma sensação parecida com a de uma indigestão. Não imaginava que fosse motivo para ir até o hospital", relata Emilio. Com o olhar atento e preocupado, foi a filha e enfermeira Ana Paula Gaspari que o levou até uma unidade de pronto atendimento para realizar um eletrocardiograma e receber o diagnóstico.

"Ele parecia bem quando saiu de casa, mas, como é hipertenso e estava com a pressão um pouco alterada, achei melhor buscar atendimento médico. Foi um susto descobrir o infarto e, mais difícil ainda, foram os dias que seguiram com ele bastante debilitado e instável no hospital", recorda emocionada.

O infarto do miocárdio, ou ataque cardíaco, é a morte das células de uma região do músculo do coração por conta da formação de um coágulo que interrompe o fluxo sanguíneo de forma súbita e intensa.

"No caso do paciente Emílio, evoluiu para um quadro grave de falta de oxigenação no sangue, com tromboembolismo pulmonar. Isso fez com que precisássemos realizar diversos procedimentos e repensar estratégias para que ele pudesse se recuperar o mais rápido possível", explica a médica intensivista Giovanna Cerri Lessa, que cuidou do paciente ao longo dos 26 dias na UTI.

"Esse período foi marcado pela proximidade com a família para o cuidado individualizado. Os familiares testemunharam os nossos esforços cotidianos e comemoraram a alta junto conosco, em especial por não haver nenhuma lesão neurológica", relembra.

Agora, Emílio retorna ao convívio de sua família, carregado de gratidão pela vida e esperança pela oportunidade de recomeçar. "Foram longos dias no hospital, mas com todo o suporte da equipe médica estou evoluindo bem, transbordando de alegria em poder dar novos passos", revela o paciente.

Para Ana Paula, que acompanhou de perto a internação do pai, o sentimento é de vitória e de alívio. "Só sei ser grata pelos médicos não terem desistido dele, em momento algum, e por darem espaço para criar vínculo com a equipe e explicarem os cuidados após a alta. Sei que teremos ainda alguns desafios, mas estar com ele em casa é o mais importante de tudo", acrescenta a filha.   

Estilo de vida, sedentarismo, tabagismo, estresse, hipertensão arterial e diabetes são os principais fatores causadores dessa situação de emergência, que se agrava com a dificuldade em reconhecer os sintomas. As chances de sobrevivência, assim como as sequelas, variam de acordo com a gravidade do ataque.

As doenças cardiovasculares figuram como a principal causa de morte nas Américas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No caso de um ataque cardíaco, cada minuto importa: quanto menor o tempo para receber atendimento médico, menores os danos ao coração.

Apesar de metade das vítimas morrerem antes de chegar ao hospital, estudos da Universidade de Harvard apontam que 90% dos pacientes hospitalizados sobrevivem.

Para a cardiologista Lídia Zytynski Moura, o alto índice de sobrevida é resultado do avanço do conhecimento, da tecnologia e da ciência.