Desde que começou ser exibida na Netflix, a minissérie “Anatomia de um Escândalo”, tradução literal de Anatomy of a Scandal, baseada no livro da jornalista Sarah Vaughan, tem dado o que falar. A crítica se divide entre considera-la “trash” e de fórmula requentada e denominá-la de instigante e atual. Críticas de cinéfilos a parte, o público em geral tem adorado a série de apenas seis episódios que pode ser facilmente assistida em uma noite.
A série foi criada, com fórmula adequada para prender o expectador, por David E. Kelley que fez muito sucesso falando de escândalos em gente elitizada em “Big Little Lies”, que repetiu a fórmula na Anatomia de um Escândalo, e deu certo. O expectador, mesmo sabendo que talvez já tenha visto aquilo antes, se vê envolvido na estória proposta e se delicia com alguns toques mais apimentados.
Embora não seja baseada em nenhum fato real específico, poderia sê-lo, uma vez que Sarah Vaughan, durante muito tempo foi jornalista do The Guardian, cobrindo escândalos desde membros da realeza a figurões importantes da política britânica.
A série traz Sienna Miller, vivendo de forma impecável, a mulher traída, mas fiel aos seus princípios de suportar até o fim, ou até onde der, as regras de família unida dos bem-nascidos que estudaram em Oxford. Sienna, confessou que interpretar Sophie Whitehouse foi ao mesmo tempo desafiador e terapêutico, uma vez que ela própria viveu a situação de ser traída por Jude Law com a babá dos próprios filhos, o que levou ao fim do seu casamento com o astro inglês (Closer, O Talentoso Mr Ripley, Animais Fantásticos). Digamos que a vida imita a arte.
No elenco também merece destaque a interpretação de Michelle Dockery que nos apresenta a promotora Kate Woodcroft, que por trás da sua aura legalista e ética, esconde algumas posturas discutíveis e sua vingança pessoal contra o réu.
Tudo isso, já justifica assistir a série, mas ainda que surfando na onda do movimento “Me too”, o filme toca em questões importantes sobre abuso sexual, sobre limite entre o que é estupro e o que é ato consentido. Até onde dentro de um relacionamento consensual, todas as relações sexuais são realmente consentidas?
Até onde o sim é sim e a partir de quando passa a ser não? Como a mesma situação pode ser vista de maneiras diferentes por quem acusa e por quem defende? Essas são questões, ainda que de forma, as vezes simplória, coloca o expectador na dúvida de onde pode estar a verdade. Embora, eu possa dizer, que enquanto mulher, não tive dúvida de quando o não foi não.
O final do julgamento é esperado, com a vantagem dada em prol de quem já tem os privilégios, mas o final da série abre a brecha para uma reviravolta com mais escândalos e quem sabe uma nova temporada, capitaneada pela descoberta de Sophie Whitehouse que está na hora de realmente existir. Confira e dê sua opinião!