Gina Marocci

A aventura dos transportes públicos


Sistema de viadutos em Los Angeles

O sistema de transporte público urbano tem como objetivo proporcionar uma alternativa de tansporte em substituição ao automóvel particular, questão prioritária para a mobilidade urbana nas médias e grandes cidades do mundo inteiro.

Ao mesmo tempo, o sistema tem uma importante função social que é a de promover para todos os cidadãos acesso ao transporte motorizado.

E quando falamos em sustentabilidade, no meio urbano, que é altamente poluente, devemos pensar em meios de transporte que reduzam a poluição ambiental, os congestionamentos, os acidentes e promovam a ocupação e um uso mais racional do solo urbano.

Apesar desses consagrados objetivos de qualquer sistema de transporte urbano, grandes cidades se tornaram um emaranhado de vias e viadutos de concreto.

Desmatamos, aterramos riachos, lagos e manguezais para construir passagens para veículos que, muitas vezes, conduzem apenas o motorista. E por que tantas pessoas utilizam o automóvel particular nas cidades?

Acreditamos que a maior dificuldade é que os sistemas são problemáticos nos horários de pico, então, quem pode fugir dos atrasos dos ônibus e do aperto dos vagões dos metrôs, prefere sair em sua própria condução. O que não significa que tudo correrá bem, pois milhares de pessoas pensam do mesmo jeito e aí formam-se longos corredores de congestionamento.

Solucionar essa equação não é tarefa fácil, mas investir em sistemas de transporte público é o melhor caminho. Hoje vamos falar um pouco sobre duas modalidades de transporte: o Bus Rapid Transit (BRT) e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).

O BRT é um transporte público composto por ônibus articulados e que devem transitar em corredores exclusivos. Para funcionar bem, o sistema precisa dessas rotas desimpedidas.

O VLT é um sistema de transporte que está entre o metrô e o ônibus convencional, e, geralmente, não tem a sua faixa de tráfego exclusiva, apesar de ser interessante a fim de desenvolver maior velocidade. Seus trilhos são instalados no nível das pistas, o que permite que trafegue ao lado de outros tipos de veículos, pequenos ou grandes. Pode ser movido a diesel ou por eletricidade.

Duas cidades brasileiras já possuem os veículos elétricos na versão sobre trilhos: Santos (SP) e Rio de Janeiro (RJ). No Rio, o VLT integra o centro da cidade, o Aeroporto Santos Dumont e a Barca Rio-Niterói à região portuária, tanto como uma nova opção de linha em alguns trechos e substituição de outras já existentes, integrado a outros modais. Estima-se que ele retire pelo menos 60% dos ônibus e 15% dos carros que circulam atualmente no Centro da cidade. É um dos primeiros do mundo sem as catenárias (linhas aéreas de energia). A alimentação é feita por baixo do solo, portanto, não há o risco de veículos e pessoas levarem um choque ao encostar nos trilhos.

Na Baixada Santista (que possui 1,9 milhão de habitantes em seus 9 municípios), o VLT liga as cidades de Santos e São Vicente, desde abril de 2015. Ele é integrado a 37 das 66 linhas de ônibus metropolitanas e municipais, carrega 400 passageiros por vagão e transita a 25 quilômetros por hora. Tem baterias que podem suprir o deslocamento no caso de falta de energia da rede elétrica. Há também o monotrilho que exige uma estrutura elevada. Em São Paulo, uma das linhas do metrô é nessa modalidade.

Todos os tipos de transporte público têm vantagens e desvantagens, por isso são necessários estudos de viabilidade econômica e de impacto ambiental. Quando falamos em capacidade de transporte de passageiros, o metrô ganha do VLT, do BRT e do ônibus.

Em relação a incidentes como, por exemplo, o alagamento de uma pista, problema que tem aumentado nas grandes cidades brasileiras, o VLT apresenta a maior fragilidade, pois como tem um trajeto fixo, ele não pode funcionar com a pista alagada.

Outro problema é a falta de energia elétrica, que prejudica tanto o funcionamento do VLT quanto do metrô. Apesar de não contribuir para a poluição atmosférica, o metrô pode ter um alto impacto ambiental, principalmente se for subterrâneo. Já o ônibus e o BRT perdem muito no quesito manutenção devido à rápida depreciação dos veículos.

A melhor saída seria investir em veículos movidos a eletricidade, modais diferentes e interligados, para conduzir o maior número de passageiros, a longas distâncias e em menos tempo.

Na próxima semana vamos embarcar na aventura do transporte público em Salvador, então, não podemos perder o bonde!

Para saber mais

FERRAZ, A. C. P.; TORRES, I. G. E. Transporte público urbano. 2 ed. ampliada e atualizada. São Carlos: RIMA, 2004.