152 bispos da Igreja Católica, apoiados por 1.058 padres e diáconos resolveram redigir e divulgar uma chamada "Carta ao povo de Deus". Em trecho da catilinária, escrevem: "Todos, pessoas e instituições, seremos julgados pelas ações ou omissões neste momento tão grave e desafiador".
É verdade. E não apenas neste momento, mas ao longo da história. Ações, por exemplo, como a da Igreja Católica no pavoroso período da Inquisição, quando torturou e matou milhares de inocentes. Ações que envergonham a Deus.
Omissões, por exemplo, como a da Igreja Católica, que por décadas protegeu, escondeu - e dessa forma alimentou e incentivou - o pedofilismo de padres e bispos. Milhares de vidas foram para sempre marcadas - profunda e indelevelmente marcadas. Omissão que envergonha a Deus.
"Assistimos, sistematicamente, a discursos anticientíficos", escandalizam-se os 152 bispos. Sim, é verdade. Como, por exemplo, o da Igreja Católica, que se opõe à Ciência quando ela confronta seus postulados de fé.
Também pregam contra "os conchavos políticos que visam à manutenção do poder a qualquer preço". Como se a Igreja Católica não houvesse sido erguida sobre eles. Como se eles não persistissem mesmo durante a escolha do papa. São capazes de negar, os 152 bispos, que não há enormes e inconfessáveis conchavos políticos no seio da Igreja?
"Até a religião é utilizada para manipular sentimentos e crenças, provocar divisões, difundir o ódio, criar tensões entre igrejas e seus líderes. Ressalte-se o quanto é perniciosa toda associação entre religião e poder no Estado laico, especialmente a associação entre grupos religiosos fundamentalistas e a manutenção do poder autoritário."
Está aí um trecho revelador. O pano de fundo parece ser o crescimento, no Brasil, de outras denominações religiosas.
Que saibam os 152 bispos: a Igreja Católica não possui o monopólio de Deus. Até porque dEle se afastou em muitos momentos, a começar por seu enriquecimento exatamente às custas da população pobre, de quem - em longos momentos de sua história - tomou e acumulou terras e bens.
Com esses pobres a Igreja Católica deveria, agora, nesse momento de incerteza - até como uma reparação - socializar, dividir, compartilhar parte ao menos de sua imensa fortuna.
Aí, sim, poderia falar em nome de Deus.