Médicos do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, realizaram pela primeira vez no Brasil uma angioplastia – colocação de stents para a desobstrução de artérias coronarianas – observando o critério de segurança de distanciamento social de dois metros de distância estabelecido na pandemia do novo coronavírus.
O procedimento só foi possível com a utilização de equipamento robótico para fazer a inserção do cateter que leva o dispositivo até o ponto da artéria onde o fluxo sanguíneo está bloqueado por placas de gordura.
Uma vez no local, o stent é armado, como uma rede que empurra as placas em direção às para as paredes do vaso de forma que a passagem do sangue é restabelecida.
A angioplastia é a técnica padrão-ouro no tratamento do infarto do miocárdio (músculo cardíaco), caracterizado pelo bloqueio da circulação do sangue em pontos das artérias que irrigam o coração.
A interrupção do suprimento de sangue leva à morte do tecido cardíaco ao redor e, se não revertida a tempo, pode matar.
Há cerca de dez meses, o Einstein foi pioneiro no Hemisfério Sul ao executar, em caráter experimental, uma angioplastia com cirurgia robótica. Neste tipo de método, os braços do robô funcionam como extensão dos braços do profissional.
Eles são manejados pelo médico por meio de um console, que fica em uma saleta contígua à sala onde estão o paciente e o aparelho.
A visualização do coração é feita pelo sistema de imagem. Pela técnica convencional, a passagem do cateter levando o stent ou pela artéria femoral, puncionada na virilha, ou pela radial, puncionada no pulso, é feita pelo cardiologista posicionado ao lado da maca cirúrgica.
A intervenção via robótica traz vantagens em comparação à tradicional.
Como está fora da sala cirúrgica, o médico não precisa vestir o avental de chumbo, que pesa sete quilos, para se proteger da radiação emitida pelo aparelho de imagem.
Desta forma, livre do peso, concentra-se melhor na execução dos movimentos que guiam o stent até o coração.
O conforto repercute na outra ponta. O paciente é beneficiado ao usufruir de um procedimento que tende a ser mais rápido e preciso.
Há um mês, o time de cardiologistas deu um passo adiante, usando o modelo robótico para realizar a angioplastia em um paciente com Covid-19.
O objetivo era reduzir ainda mais o tempo em que os profissionais permaneciam ao lado do paciente e também o seu manuseamento, diminuindo os riscos de contaminação dos envolvidos no procedimento.
O paciente era um homem de 60 anos que havia sido internado no Hospital M´Boi Mirim – Moysés Deutsch, um dos equipamentos públicos gerenciados pelo Einstein, e transferido para a unidade do Morumbi.
O primeiro passo foi marcar no chão um círculo demarcando dois metros de distância da mesa cirúrgica para que ficasse visualmente clara a zona de segurança de afastamento do paciente infectado pelo novo coronavírus.
Enquanto um médico manejava o robô na saleta de fora, dentro do palco cirúrgico ficaram dois médicos e quatro enfermeiros.
O tempo que cada um teve que entrar dentro do círculo de risco foi registrado, permitindo a medição da efetividade das medidas na proteção dos profissionais.
A aferição revelou que, em média, os profissionais adentraram na área de exposição 14,7% do tempo da intervenção. Em circunstâncias normais, eles em geral ficariam 100% do período ao lado da maca.
“É uma redução importante no risco de contaminação pelos profissionais de saúde”, afirma o cardiologista Pedro Lemos, coordenador do Centro de Intervenção Cardíaca Complexa do Einstein.
Trata-se de um resultado importante. Mais de 30 mil profissionais de saúde foram infectados no Brasil. Por isso, é urgente a criação de métodos que resguardem todos os que neste momento estão dedicados à assistência aos pacientes com todas as doenças.
Apesar de ainda experimental no Brasil, a angioplastia robótica é praticada como rotina nos Estados Unidos e na Europa. Aguarda-se para os próximos meses a liberação, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, do procedimento por aqui.
O paciente atendido no Einstein recebeu dois stents e foi liberado três dias depois. Um mês após, encontrava-se livre da Covid-19 e com um coração pronto para bater forte novamente.