Economia

Índice de inflação em maio é o menor dos últimos 22 anos no País

No acumulado do ano, o índice registrou queda de 0,16%

Foto: pxhere/Creative Commons
A queda no preço dos combustíveis causou forte impacto no IPCA

Pressionado pela queda de 4,56% nos preços dos combustíveis, o país registrou deflação de 0,38% em maio, após o recuo de 0,31% em abril. É o segundo mês consecutivo de queda nos preços e o menor índice desde agosto de 1998, quando ficou em -0,51%. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, divulgado hoje (10) pelo IBGE. 

No acumulado do ano, o índice registrou queda de 0,16%. Já nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 1,88%, abaixo da meta de inflação de 4% do governo para 2020, que tem tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.  

O maior impacto negativo do índice nesse mês veio do grupo Transportes (-1,9%), puxado principalmente pela queda no preço dos combustíveis (-4,56%). “A gasolina é o principal subitem em termos de peso dentro do IPCA e, caindo 4,35%, acabou puxando o resultado dos transportes para baixo, assim como as passagens aéreas, que tiveram uma queda de 27,14% e foram a segunda maior contribuição negativa no IPCA de maio”, explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

Gráfico IPCA

Outros grupos que tiveram deflação em maio foram o de vestuário (-0,58%) e habitação (-0,25%). Em relação ao vestuário, o IPCA registrou queda nas roupas femininas (-0,88%), nos calçados e acessórios (-0,74%), nas roupas masculinas (-0,55%) e nas roupas infantis (-0,29%). Na habitação, a maior contribuição negativa veio da energia elétrica, que recuou 0,58%. No dia 26 de maio, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que irá manter a bandeira tarifária verde, sem cobrança adicional na conta de luz, até o fim do ano.

O maior crescimento no índice do mês veio do grupo Artigos de residência (0,58%), puxado pela alta dos artigos de TV, som e informática (4,57). “Esse aumento pode ter relação com o dólar, com o efeito pass-through, quando a mudança no câmbio impacta os preços na economia. E artigos eletrônicos normalmente são mais afetados porque têm muito componentes importados. Então a desvalorização do real acaba impactando o preço desses produtos também”, analisa o gerente.

Em maio, os preços dos eletrodomésticos e equipamentos aumentaram 1,98%, enquanto os de mobiliário caíram 3,17%.

Alimentos tiveram desaceleração em maio

Já o grupo Alimentação e bebidas (0,24%) desacelerou em relação a abril, quando cresceu 1,79%. Os preços de alguns itens como cenoura (-14,95%) e as frutas (-2,1%), que haviam subido em abril, recuaram em maio. Com isso, contribuíram para que a alimentação no domicílio passasse de 2,24% para 0,33%. A alimentação fora do domicílio também desacelerou de abril (0,76%) para maio (0,04%).

“É normal que os alimentos tenham uma alta no início do ano, especialmente nos primeiros três meses, por conta das questões climáticas que prejudicam as lavouras.  Com isso a gente tem uma alta específica em alguns alimentos. E outros, já agora em maio, se comportam de forma diferente. Com a melhora das condições climáticas, eles começam a ter uma reposição nos mercados e, com isso, uma queda no preço”, explica Kislanov.

Após quatro meses consecutivos de queda, as carnes subiram 0,05%. Os preços da cebola (30,08%), da batata-inglesa (16,39%) e do feijão-carioca (8,66%) também tiveram aumento. 

Nos índices regionais, todas as dezesseis áreas pesquisadas tiveram deflação em maio. A região metropolitana de Belo Horizonte teve o menor índice, com recuo de 0,60%, principalmente por conta da queda nos preços da gasolina (-6,61%) e das passagens aéreas (-28,14%). Já o índice mais elevado foi observado na região metropolitana do Recife (-0,18%), em função das altas nos preços da cebola (31,31%) e do automóvel novo (1,86%) e também da queda menos intensa nos preços da gasolina (-3,59%). 

Por causa do quadro de emergência de saúde pública causado pela Covid-19, o IBGE suspendeu, no dia 18 de março, a coleta presencial de preços nos locais de compra. A partir dessa data, os preços passaram a ser coletados por outros meios, como pesquisas realizadas em sites de internet, por telefone ou por e-mail. Para o cálculo do índice do mês, foram comparados os preços coletados no período de 30 de abril a 28 de maio de 2020 (referência) com os preços vigentes no período de 31 de março a 29 de abril de 2020 (base).

Queda em Salvador é ainda maior

Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida oficial da inflação, ficou em -0,47% na Região Metropolitana de Salvador. Ficou bem abaixo da deflação registrada em abril (-0,16%) e muito menor que o índice de maio de 2019 (0,11%).

Foi o menor IPCA para um mês de maio na RM Salvador desde o início o Plano Real, em 1994. Considerando todos os meses, foi a maior deflação em cerca de seis anos, desde julho de 2014, quando o índice havia ficado em -0,61%.

A deflação verificada em maio na RMS foi mais intensa do que a registrada no país como um todo (-0,38%). O índice nacional foi o menor, considerando todos os meses do anos, desde agosto de 1998 (quando havia ficado em -0,51%). 

Em maio, todos os 16 locais investigados pelo IBGE tiveram deflação. Os menores índices foram verificados na RM Belo Horizonte/MG (-0,60%), no município de Campo Grande/MS (-0,57%) e na RM Curitiba/PR (-0,57%). As quedas menos intensas ocorreram na RM Recife/PE (-0,18%), na cidade de São Luís/MA (-0,22%) e em Goiânia/GO (-0,25%).

Apesar das deflações de abril e maio, o IPCA da RM Salvador ainda acumula discreta variação positiva, de 0,04%, no ano de 2020. Manteve a trajetória de desaceleração, mas ainda está acima do verificado no Brasil como um todo (-0,16%). Nos 12 meses encerrados em maio, a inflação acumulada na RM Salvador ficou em 1,66%, também com importante desaceleração em relação aos 2,26% acumulados até abril e se sustentando abaixo do índice nacional (1,88%).

Tabela inflação

A deflação de maio, na RM Salvador foi concentrada em três dos nove grupos de produtos e serviços que compõem o IPCA: transportes (-4,11%), vestuário (-1,14%) e habitação (-0,19%). 

Os demais seis grupos tiveram aumentos médios de preços no mês, com destaque para alimentação e bebidas (1,18%), artigos de residência (0,98%) e saúde e cuidados pessoais (0,20%). 

Além disso, seis dos nove grupos tiveram aceleração no IPCA entre abril e maio, ou seja, tiveram índices maiores em maio do que em abril. Isso só não ocorreu com transportes (-2,14% em abril e -4,11% em maio), alimentação e bebidas (2,34% em abril e 1,18% em maio) e habitação (0,35% em abril e -0,09% em maio). Por outro lado, os artigos de residência tiveram a maior aceleração no IPCA entre abril (-2,81%) e maio (0,98%). 

O IPCA de maio na RMS teve forte influência da queda média nos preços dos combustíveis (-12,03%), com pesos importantes da gasolina (-12,12%), do etanol (-13,71%) e do diesel (-8,26%). Ainda no grupo transportes, as passagens aéreas também mostraram deflação relevante (-23,87%). 

Dentre os itens de vestuário, houve quedas nas roupas femininas (-2,41%) e masculinas (-2,32%), enquanto as roupas infantis tiveram uma variação positiva (0,84%). Já dentre as despesas com habitação, as principais influências para baixo vieram de aluguel e taxas (-0,43%) e condomínio (-0,98%).

Entre os grupos em alta no IPCA de maio, na RM Salvador, a alimentação, apesar de ter desacelerado, mais uma vez liderou, com aumentos tanto nos alimentos consumidos em casa (1,48%) quanto na alimentação fora (0,40%), que inclui serviços de delivery.

A cebola continuou com forte alta (51,71% em maio e 139,93% no ano de 2020), as carnes voltaram a aumentar (2,06% em maio, frente a -0,21% em abril), o feijão carioca (11,56%) e o pão francês avançaram (1,78%), entre outros produtos importantes do dia a dia. 

Entre os artigos de residência, as maiores pressões inflacionárias vieram de equipamentos de TV, som e informática (4,13%) e de eletrodomésticos e equipamentos (3,28%). Já no grupo saúde e cuidados pessoais, os destaques em alta foram os planos de saúde (0,60%), produtos para a pele (6,52%) e os produtos farmacêuticos, ou medicamentos em geral (0,66%).

Tabela inflação

Na Região Metropolitana de Salvador, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação das famílias com menores rendimentos, ficou em -0,30% em maio, abaixo tanto do -0,12% registrado em abril deste ano quanto do 0,11%, de maio de 2019, mas mostrando uma queda bem menor do que o IPCA (-0,47%). 

O INPC de maio na RM Salvador (-0,30%) ficou abaixo da média nacional (-0,25%) e foi o 7o menor entre as 16 áreas pesquisadas. Todas elas mostraram queda no indicador.

No acumulado de janeiro a maio de 2020, o INPC está em 0,34% na RM Salvador, bem acima do registrado no país como um todo (0,06%). Já nos 12 meses terminados em maio, ficou em 1,75%, abaixo do nacional (2,05%) e desacelerando frente aos 12 meses encerrados em abril (2,46%).

Custos da construção desaceleram

O Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi), divulgado hoje (10) pelo IBGE, subiu 0,17% em maio, mas ficou 0,08 ponto percentual abaixo da taxa de abril, que foi de 0,25%. Este é o segundo menor índice para o mês de maio (depois dos 0,11% de maio de 2019) desde o início da série histórica em 2014. O resultado mostra desaceleração na taxa mensal, no acumulado no ano e nos últimos 12 meses. De janeiro a maio, o índice acumula 1,33%. Nos últimos doze meses, a taxa soma 3,74%.

“Durante muito tempo maio era o mês em que ocorria a homologação dos acordos coletivos, que agora acontecem espaçados ao longo do ano e exigem muito mais negociação. Em maio deste ano, apenas Maranhão teve acordo coletivo, com alta de 1,57%, mas é um estado com pouco peso no total. A mão de obra tem um peso de 40% e, com o desaquecimento da construção civil, não há pressão de alta devido à perda do poder de barganha dos trabalhadores, comparado aos anos de expansão das obras de infraestrutura”, explica Augusto Oliveira, gerente da pesquisa Sinapi. 

O custo nacional da construção, por metro quadrado, que em abril fechou em R$ 1.172,05, passou em maio para R$ 1.174,02, sendo R$ 615,56 relativos aos materiais e R$ 558,46 à mão de obra.

No mês de maio de 2020, o custo da mão de obra teve pouca variação (0,14%), registrando queda de 0,28 p.p. em relação ao mês anterior (0,42%). Em relação a maio de 2019 (- 0,21%), houve aumento de 0,35 p.p..  

O gerente da pesquisa explica que a alta no índice geral foi impactada, principalmente, pelo custo de materiais especialmente nos estados do Amapá, Roraima e Paraná. A parcela dos materiais apresentou variação de 0,19%, registrando alta de 0,10 ponto percentual em relação ao mês anterior (0,09%), enquanto em relação a maio de 2019 (0,39%), houve queda de 0,20 ponto percentual.

“Captamos alta em diversos materiais em estados do Norte como Amapá e Roraima e no Paraná, na Região Sul. A parcela dos materiais é a mais importante na avaliação final desses estados, onde o custo da mão de obra se manteve estável. Aliás, a mão de obra se manteve estável - com pequenas quedas ou pequenas altas - em todos os estados exceto o Maranhão”, explica Oliveira.

Nordeste tem maior índice da construção 

Ele ressalta que o Nordeste registrou a maior variação regional em maio (0,27%). A taxa no Nordeste foi impactada pelo aumento observado nas categorias profissionais observada no Maranhão. As demais regiões apresentaram os seguintes resultados: 0,16% (Norte), 0,11% (Sudeste), 0,22% (Sul) e 0,03% (Centro-Oeste). Os custos regionais, por metro quadrado, foram: R$ 1.181,52 (Norte); R$ 1.089,44 (Nordeste); R$ 1.222,84 (Sudeste); R$ 1.230,98 (Sul) e R$ 1.176,20 (Centro-Oeste).

Este é o segundo mês de coleta não presencial. Mas Oliveira diz que ainda não é possível apurar o impacto da pandemia nos custos do setor.

 “Precisaríamos de uma série mais longa para realmente ter essa mensuração, com dois meses ainda não é possível. Várias obras se mantêm, sem falar de outras obras que foram iniciadas para combate ao Covid-19. Em maio, o resultado é decorrente da redução da pressão da mão de obra e o aumento dos custos dos materiais em três estados”, conclui Oliveira.