Conduzido pelas pesquisadoras da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Claudia Galhardi e Maria Cecília de Souza Minayo, um recente estudo identificou as principais fake news relacionadas à Covid-19, recebidas pelo aplicativo Eu Fiscalizo, entre março e maio no país.
O aplicativo Eu Fiscalizo possibilita que usuários notifiquem conteúdos impróprios em veículos de comunicação, mídias sociais e WhatsApp.
A ideia é que a sociedade possa denunciar notícias falsas ou conteúdos inapropriados, exercendo, assim, sua cidadania e o direito à comunicação e entretenimento de qualidade no que tange à produção, circulação e consumo dos produtos midiáticos.
As denúncias de conteúdos veiculados nas TVs aberta e fechada, em serviço de streaming, espetáculos e cinema serão enviadas pela Fiocruz à Coordenação de Política de Classificação Indicativa do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Já os conteúdos inapropriados divulgados em publicidades serão encaminhados ao Instituto Alana.
O material recebido também será convertido em um Banco de Dados, dividido por categorias de acordo com o tipo de meio de comunicação em que o conteúdo foi publicado.
A partir dos dados compilados, serão gerados relatórios que servirão para a produção de conhecimento acadêmico, bem como base para a elaboração de Políticas Públicas.
“A ferramenta promove a adesão de relacionamento, colaboração e participação autônoma e ativa de cidadãos com a Academia (Fiocruz), centros de pesquisa e o órgão regulador, no sentido de utilizarem a plataforma como local de manifestações e intercâmbio de informações e debate, que atendam às suas necessidades e direitos”, explica Claudia.
Além de registrar conteúdos inapropriados, o app informa as datas das notificações e permite o envio de foto, vídeos e mensagens de texto, como sugestões, elogios e reclamações. O aplicativo está disponível na Playstore e App Store e pode ser baixado em Smartphones e Iphones.
Fake news e o descrédito da ciência
Segundo Claudia, além de colocar vidas em risco, a disseminação de notícias falsas relacionadas ao novo coronavírus contribui para o descrédito da ciência e das instituições globais de saúde pública, bem como enfraquece as medidas adotadas pelos governos no combate à doença.
Por isso a importância da realização de estudos sobre a temática. “Precisamos redobrar a atenção ao receber informações nas redes sociais que não apresentem a fonte oficial e fazer uma leitura crítica antes de compartilhar qualquer conteúdo”, alerta a pesquisadora.
A primeira etapa da pesquisa, que fez um balanço das denúncias de notícias falsas recebidas entre 17 de março e 10 de abril, revela que 65% delas ensinam métodos caseiros para prevenir o contágio da Covid-19, 20% mostram métodos caseiros para curar a doença, 5,7% se referem a golpes bancários, 5% fazem menção a golpes sobre arrecadações para instituição de pesquisa e 4,3% se referem ao novo coronavírus como estratégia política.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), juntas, somam 2% das instituições citadas como fonte de informações sobre cuidados e medidas contra o novo coronavírus em mensagens de WhatsApp.
Fake News sobre campanha de arrecadação
Outra notícia falsa denunciada no Eu fiscalizo se refere a uma postagem que cita uma parceria da Fiocruz com o Movimento Brasil Livre (MBL) para a arrecadação de doações.
A publicação também menciona a indicação da Fundação como laboratório de referência para o combate à Covid-19. O post estampa a foto do Castelo da Fiocruz e apresenta o texto noticiando a instituição como referência no combate ao novo coronavírus. No final da postagem, é indicado o site do MBL, que direciona o usuário para a página de contribuições do Movimento.
A Fiocruz NÃO possui parceria com o MBL para a arrecadação de verbas.
É verdade que, no dia 8 de abril, a Organização Mundial da Saúde (OMS) oficializou a indicação da Fundação como laboratório de referência para o combate ao novo coronavírus nas Américas.
Também é certo que a Fiocruz lançou, no dia 2 de abril, uma campanha de arrecadação de verbas para serem destinadas ao combate do novo coronavírus. No entanto, a campanha, batizada como Unidos contra a Covid-19, recebe doações de pessoas físicas e jurídicas feitas diretamente na página da instituição.
É importante que o usuário verifique toda informação que cite o nome da Fundação Oswaldo Cruz, atualmente alvo de diversas notícias falsas relacionadas à Covid-19.
Segunda fase da pesquisa
A segunda fase do estudo, realizada entre 11 de abril e 13 de maio, aponta que, entre as fake news notificadas pelo app, 24,6% afirmam ser a doença uma estratégia política, 10,1% ensinam métodos caseiros para prevenir o contágio do novo coronavírus, 10,1% defendem o uso da cloroquina e hidroxicloroquina sem comprovação de eficácia científica e 7,2% são contra o distanciamento social.
Os resultados referentes ao intervalo entre abril e maio também mostram que 5,8% das notícias falsas ensinam métodos caseiros para curar a Covid-19, 5,8% afirmam que o novo coronavírus foi criado em laboratório, 4,3% declaram o uso de ivermectina como cura para a doença, 4,3% são contra o uso de máscaras e 2,9% difamam os profissionais de saúde.
Ainda entre os meses de abril e maio, foi constatado que, entre as fake news denunciadas, 2,9% são contra o uso de álcool em gel, 2,9% declaram o novo coronavírus como teoria conspiratória, 1,4% são relacionadas à difamação de políticos, 1,4% declaram ter a causa do óbito de parentes alterada para Covid-19 e 0,4% consistem em charlatanismo religioso, com tentativa de venda de artefatos para a cura da doença.
O estudo também aponta que 15,9% das fake news se referem à Covid-19 como uma farsa, durante todo o período analisado, entre 17 de março e 13 de maio.