A técnica é conhecida como 'awake craniotomy' (craniotomia acordada, em tradução literal) e é feita com o crânio aberto
Em meio à pandemia de Covid-19, dois pacientes internados no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), em Salvador, foram operados enquanto estavam acordados.
Tratam-se de neurocirurgias para tratar tumores localizados na área da linguagem e, para estimular o local, é preciso que os doentes se comuniquem com os médicos durante o processo.
A técnica é conhecida como 'awake craniotomy' (craniotomia acordada, em tradução literal) e é feita com o crânio aberto.
Normalmente, durante o procedimento, o paciente precisa responder a perguntas simples, a exemplo de “quais os dias da semana?”, mas há casos em que deve resolver uma operação matemática ou tocar um instrumento musical.
De acordo com o coordenador do serviço de neurocirurgia e da residência médica de neurocirurgia do HGRS, Leonardo Avellar, a cirurgia é usada para a remoção de tumores cerebrais que estão próximos às áreas que controlam linguagem e movimento do corpo. “Nós temos cerca de uma hora e meia para tentar retirar a lesão”, conta.
O neurocirurgião Carlos Eduardo Romeu foi o responsável por uma das cirurgias, ao lado do também neurocirurgião Lucas Mascarenhas. Na avaliação dele, a operação foi um sucesso, já que houve remoção, de forma segura, da maior parte da lesão.
“O paciente – um jovem, de 20 anos – teve boa evolução no pós-operatório, sem déficit notável da fala”, detalha o médico, que acrescenta: “a equipe de anestesia tem um papel muito importante nesses casos, pois precisa manter o paciente num plano anestésico em que ele possa ser examinado e não fique nem muito agitado nem muito sonolento. Tínhamos fonoaudiólogas na sala também, que são essenciais. Com o paciente acordado, conseguimos definir, através de manipulação delicada, as regiões do cérebro acometido que levavam a uma modificação da fluência verbal ou parada comportamental”.
A craniotomia acordada realizada por Carlos Eduardo Romeu e Lucas Mascarenhas ocorreu no último dia 11, e o paciente teve alta hospitalar no dia 14 – mesmo dia em que seria operada a segunda paciente, uma mulher, de 31 anos.
No entanto, por não haver bolsas de sangue compatíveis com ela no estoque do hospital, o procedimento precisou ser remarcado para esta terça-feira (19).
Anestesia em craniotomia acordada
Anestesiologista em neurocirurgias no Hospital Geral Roberto Santos, Lilian Cibele acredita que a participação desses especialistas é fundamental: “desde o esclarecimento do paciente no pré-operatório sobre o que ele vai ouvir quando despertar, quais as sensações que vai sentir, até a garantia de estabilidade e conforto para ele. A escolha das drogas anestésicas, como será mantida a via aérea desse paciente, tudo isso é essencial”.
No primeiro momento, conforme explica a médica, o paciente está completamente anestesiado, sob anestesia geral.
O tipo de anestesia muda quando o paciente passa a não sentir mais dor e, então, a remoção do tumor é feita com o controle das reações neurológicas.
“A gente mantém essa anestesia até que a dura-máter, que é a meninge mais externa que envolve o cérebro e a medula espinhal, seja aberta. E, aí, o procedimento se torna insensível e podemos despertar o paciente. Esse momento em que despertamos o paciente é crucial para a cirurgia porque a gente precisa manter ele com drogas anestésicas corretas, e em doses corretas, para que ele tenha conforto, não tenha dor, não fique sedado e consiga responder às solicitações da equipe”, narra Lilian, que participou de uma das craniotomias acordadas ao lado das anestesiologistas Monique Pimenta e Juliana Carneiro e da residente de anestesiologia Nina Angelica Régis Libório.