Esportes

Carpegiani: Flamengo de 1981 era "simplesmente fantástico"

Carpegiani foi técnico do Rubro-Negro na conquista da Libertadores

Carpegiani foi técnico do Rubro-Negro nas conquistas de 1981

Jogar bonito, vencer, convencer, conquistar a América e o mundo. Marcar uma época, entrar para a história do futebol. Aconteceu com o Flamengo em 1981. Quem viu, viu. E quem não viu, ficou sabendo. Um time simplesmente "fantástico" nas palavras do seu próprio treinador. À beira do gramado, Paulo César Carpegiani comandava e se encantava com o que via dentro de campo. 

Na primeira fase da Libertadores de 1981, o Flamengo deixou para trás Cerro Porteño-PAR, Olimpia-PAR e Atlético-MG. Nas semifinais, um triangular contra Deportivo Cali-COL e Jorge Wilstermann-BOL aguardava o Rubro-Negro, que venceu colombianos e bolivianos tanto dentro quanto fora de casa. E veio a grande final. A primeira daquele ano. Diante do Cobreloa-CHI, uma vitória no Maracanã e uma derrota no Chile culminaram em um terceiro e decisivo jogo.

 
Posso dizer que em cada posição eu tinha um craque. Era um time fantástico, que jogava por música
-- Paulo César Carpegiani

No dia 23 de novembro, as equipes voltaram a se enfrentar. Dessa vez, em campo neutro. No místico Estádio Centenário, em Montevidéu, no Uruguai, o Flamengo foi a campo com Raul, Nei Dias, Marinho, Mozer, Júnior, Leandro, Andrade, Zico, Tita, Nunes (depois Anselmo) e Adílio. Com a bola rolando, o Rubro-Negro deu mais um show. Ao apito final, 2 a 0 no placar e a América, enfim, se vestiu de vermelho e preto. 

– Foi um título tão natural. As coisas foram acontecendo, ganhamos a confiança necessária em função da equipe que tínhamos. São coisas que acontecem que é até difícil entender. É complicado ter uma explicação exata para a formação desses grandes times. São equipes grandiosas que marcaram uma época de forma natural, como Santos, Palmeiras, Flamengo. O treinador tem a condição e também a capacidade de escolher o melhor. Depois dá aquele estalo e começa a ganhar e convencer – relembrou o treinador. 

Mas até encontrar o time ideal, Carpegiani admite ter tido algumas dificuldades pelo caminho. Foi num jogo do Campeonato Carioca que o estalo aconteceu. No histórico 6 a 0 contra o Botafogo, o comandante percebeu que o futuro daquela equipe seria promissor.

– Para mim o ponto chave foi esse jogo contra o Botafogo no Maracanã, que nós vencemos de 6 a 0. Foi quando encontrei uma equipe que não dava mais para mexer, não tinha condições de tirar ninguém, porque o time foi ganhando, convencendo, conquistando títulos, fazendo grandes jogos. Conquistou o torcedor e marcou uma época. Mas até aquele jogo, eu vinha colocando um, experimentando outro. Ali foi o momento crucial da formatação daquela equipe.

"Craque, o Flamengo faz em casa". A frase, que ganhou vida em 1979 e virou lema entre os torcedores, provavelmente atingiu seu auge em 1981. Do grupo campeão da Libertadores, nomes como Zico, Júnior, Andrade, Leandro, Adílio e Tita saíram da base do Rubro-Negro carioca para o topo da América. 

– Foi uma atuação de uma equipe digna do lema do Flamengo. Naquela época, a nossa equipe titular era formada por mais da metade de jogadores da base do clube. Pelo fato deles terem essa formação, eles sabiam o que representava o Flamengo. Então, o título também ficou marcado por isso. 


Zico marcou todos os gols do Flamengo na final da Conmebol Libertadores de 1981 - Foto: Flamengo

Agora, 38 anos depois, os tempos mudaram. Na atual temporada, o Flamengo se reforçou. Assim como em 1981, o encaixe perfeito não veio de imediato, mas na hora certa. 

– O clube foi muito feliz nas contratações. Trouxe jogadores já acostumados a grandes jogos como Rafinha e Filipe Luís. Tiveram mérito em buscar um zagueiro da segunda divisão do campeonato espanhol. Jogadores que chegaram para ocupar o time titular como Bruno Henrique, Gerson, Rodrigo Caio. E tem o Jorge Jesus que conseguiu formatar uma equipe, manter e fazer jogar. Ele também demorou para encontrar esse time. Mas se hoje a gente sabe de cor a equipe titular do Flamengo isso é um mérito do treinador também – analisou o ex-técnico do Rubro-Negro, antes de completar:

– As coisas agora têm acontecido naturalmente. Os jogadores têm o entendimento do que é o Flamengo. Esse time de hoje está escrevendo uma história, está ganhando e convencendo e está no caminho para marcar uma época conquistando títulos. 

No próximo sábado, 23 de novembro, mesmo dia da decisão de 1981, o Flamengo entra em campo para o capítulo final da Libertadores diante do River Plate-ARG. Quem leva a melhor? 

– Quando eu defino uma partida de futebol sempre gosto de uma lógica. Mas essa lógica para River e Flamengo não existe. São dois times tradicionais, com muita história, que representam muito dentro do seu próprio país, com uma força imensa. Aí a gente parte para favoritismo, que no meu entender é aquela equipe que tem os melhores jogadores, que vive um melhor momento. Nesse caso o Flamengo leva vantagem, em função da qualidade de alguns jogadores, com poder de decisão e poder de criatividade, por isso é um time um pouco superior. Mas são duas grandes equipes e, no futebol, tudo pode acontecer – encerrou.