Música

As 2 vezes em que vi Raul Seixas no palco (e por que corri do guarda)

Lembranças a partir de uma homenagem

O grande amigo Fábio Cota me enviou um vídeo nesse final de semana onde uma marca de celulares e uma operadora de telefonia móvel homenageiam os 30 anos de morte de Raul Seixas, completados em agosto passado.

O vídeo dura pouco mais de cinco minutos e mostra de uma forma muito bem bolada uma teoria sobre o porquê de Raul ser um homem além da sua época, colocando o Maluco Beleza como um viajante do tempo.

Vendo esse vídeo quem viajou no tempo fui eu. Lembrei instantaneamente de dois marcantes momentos da minha vida. As duas vezes que pude ver Raul Seixas cantar, e é sobre essas duas incríveis oportunidades o nosso bate-papo de hoje.  

A primeira vez

Tudo aconteceu no templo do rock baiano, a Concha Acústica do TCA. Era 1988 e Raulzito não subia em um palco desde 1984. Marcelo Nova estava em sua primeira turnê solo, depois do fim do Camisa de Vênus, acompanhado da banda Envergadura Moral. De repente ele surpreendeu todo mundo trazendo ao palco um convidado ilustre: o grande Raul Seixas.

Ele já estava bastante debilitado fisicamente, com a voz arrastando um pouco, mas estava presente com toda a intensidade a luz do maior roqueiro de nosso país, como o próprio Marcelo se referiu a ele no show.

Lembro aqui de uma outra emoção que tive relacionada a esse mesmo dia na Concha. Há uns cinco anos, quando conversando com uns amigos lembrava dessa noite, um deles resolveu fazer uma descompromissada busca na internet e, para minha surpresa, veio um vídeo de Raul e Marcelo cantando na Concha a música “Sociedade Alternativa”.

Não teve como não ficar ali congelado e me transportar, emocionado, para aquele dia em que tinha sido testemunha de Raul e Marcelo lendo o manifesto da Sociedade Alternativa, ao vivo.

A segunda vez

Essa foi alguns meses depois, ainda em 88, no festival Rock in Bahia, que aconteceu no estádio de Pituaçú. Naquela oportunidade estava acompanhado de Augusto César, um amigo de trabalho.

Também amante do rock, César tinha ficado impressionado quando contei sobre como foi emocionante ver Raul e Marcelo juntos na Concha. Quando soubemos da nova apresentação dentro do Rock in Bahia, tivemos a ideia: vamos gravar o show para guardar como recordação do encontro das duas feras do rock.

Ele pediu emprestada a câmera de um amigo que confiou à gente o que era uma preciosidade na época, uma câmera VHS novinha. Ele apenas exigia como pagamento uma cópia do show. Topamos na hora e lá fomos para a aventura.

Penduramos chachás da empresa em que trabalhávamos, uma locadora famosa da cidade que tinha o nome Vídeo na frente.

Com a maior cara de pau seguimos, de câmera em punho, para a entrada do backstage. Demos aquela “carteirada” e os seguranças aceitaram. Não demorou e estávamos prontos pra gravar na área em frente ao palco. Estava tudo bem até que, no final do show, a gravação nos rendeu um momento típico de filme de ação. Depois da última música uma pessoa da produção apontou pra gente. Percebi e dei uma cutucada em César, que conferia se a gravação tinha ficado boa. Olhamos para o túnel por baixo do palco e lá vinha o mesmo segurança que tinha dado acesso à gente, decidido a tomar a fita.

Rapaz... pense numa correria. Mas a juventude ajudou bastante. Eu e César pulamos a proteção da frente do palco e demos aquele pique com todas as forças. Conseguimos sumir na multidão e nosso tesouro estava são e salvo. A câmera do amigo dele também, graças a Deus.

No dia seguinte fizemos as cópias e cada um ficou com a sua. Sinto muito ter perdido a minha quando uma parte de meu arquivo em VHS foi vítima de mofo. Faz tempo que não vejo César e nem o amigo dele, cujo nome infelizmente não me lembro, e espero que eles ainda tenham as cópias deles, mas também se não tiverem não faz mal. A lembrança de ter visto o velho Raul ali, cerca de um ano antes de nos deixar, valeu demais e segue gravada nitidamente na minha memória.

Toca Raul!

Para fechar essa nossa conversa de hoje não poderia deixar de fazer um justo agradecimento a Marcelo Nova, o Marceleza como Raul chamava. Foi ele quem colocou Raulzito na estrada novamente e que, durante a turnê, compôs com o parceiro e ídolo as músicas de “A Panela do diabo”, o último disco que Raul gravou e que foi lançado em 19 de agosto de 1989, dois dias antes de sua morte, obra que nos trouxe os últimos lampejos da genialidade de Raulzito.

No mais... “TOCA RAULLLLL!!!”

Veja o trecho do show em que eu estava lá na Concha

Veja o vídeo da homenagem que me fez dividir essa viagem com vocês aqui hoje

E se você quiser matar a saudade da música do nosso Maluco Beleza tocadas ao vivo basta dar uma esticada até Ruy Barbosa, umas 4 horas de viagem partindo de Salvador. Lá, no dia 30 de novembro acontece a quinta edição do festival “The Dark Side of Orobó”, que esse ano homenageia Raul.